EDGARD ARMOND
TEXTO EXTRAÍDO DO LIVRO “NA CORTINA DO TEMPO”
DA EDITORA ALIANÇA

“Após a vinda dos degredados de Capela a situação de degeneração espiritual, apesar da vinda de missionários instrutores em várias épocas, perdurou até que se abriu um novo período de civilização, com a constituição de uma religião francamente monoteísta, mais avançada e verdadeira, que representaria o fulcro luminoso do conhecimento espiritual do futuro. E o povo hebreu foi o escolhido para essa realização sagrada, com base na promessa divina feita ao patriarca Abraão, na cidade de Ur, na Mesopotâmia.

Cativo por mais de quatrocentos anos dos egípcios, nas terras de Goshen, em trabalhos forçados, surgiu para esse povo um missionário poderoso e iluminado – Moisés – que dali o libertou, conduzindo-o a uma terra de promissão, às margens do rio Jordão, em Canaã. Foi-lhe outorgado um código avançado de conduta moral – o Decálogo – e um Deus Único – Jeová – protetor e defensor, que se manifestava de forma tão evidente e objetiva em todas as ocasiões graves, que se radicou para sempre no coração desse povo. Suas leis religiosas eram rigorosas, inflexíveis e tão fortes, que puderam mantê-lo unido e fiel através dos tempos e das mais terríveis vicissitudes. Não eram leis de redenção, mas de aglutinação em torno a uma realidade única, a um poder cósmico soberano e uno, a um código que levasse a realizações redentoras, futuramente. Essa foi a missão de Moisés, o missionário hebreu: preparar um povo para a primeira religião monoteísta, limpar os caminhos para o advento de um novo enviado divino, arrotear o solo para uma semeadura de maior expressão evolutiva.*

E veio então Jesus, mais tarde, na Palestina, o excelso Enviado, que pregou a redenção pelo amor, a unidade em Deus, como Pai. O substrato de seu código de conduta moral, denominado Evangelho, Boa Nova, está contido no Sermão do Monte, cujas regras são, ao mesmo tempo, uma libertação pelo conhecimento e uma realização redentora.

É cultuado no mundo por centenas de milhões de adeptos, mas jamais foi cumprido no seu verdadeiro sentido cósmico e, por isso, a humanidade não pôde ser ainda encaminhada a seus superiores destinos espirituais. O missionário nazareno, uma verdadeira manifestação do Cristo Planetário, foi imolado na cruz pelo povo escolhido,aquele mesmo povo preparado para recebê-lo e amá-lo, e os seus ensinamentos, pouco mais tarde, foram utilizados para dominação religiosa, visando interesses meramente humanos.

Mas encerrou-se o ciclo? Não. Na sua onisciência das coisas futuras, sabendo que seus ensinamentos e seu testemunho de amor, na morte física, não bastariam para esclarecer as consciências, o Cristo prometeu, como pastor e guia da humanidade, não esmorecer nos esforços de redenção, não como naqueles dias, descendo à Terra ele mesmo, mas enviando novos missionários para completar a obra, antes que as sombras do encerramento do ciclo se estendessem sobre o mundo; essa mesma obra que os discípulos e apóstolos, logo após seu regresso aos Planos Espirituais, tentaram realizar na Terra com a difusão do seu Evangelho, em várias partes do mundo de então, oferecendo-se como testemunhos vivos de sua autenticidade e do seu poder redentor.

O sacrifício desses servidores fiéis não foi inútil porque os ensinamentos se perpetuaram no tempo, difundiram-se no mundo, e serviram de base à criação do Cristianismo Primitivo, que exigia a vivência, segundo a essência do ensinamento.

Conquanto tenha sido substituído mais tarde, como já dissemos, por organizações religiosas dogmáticas, mais que tudo radicadas a interesses humanos, a doutrina verdadeira não desapareceu – minhas palavras, disse o Cristo, não passarão – porque viriam mais tarde a ser revividas em espírito e verdade – Deus é espírito e em espírito e verdade deve ser adorado – por uma religião não de homens, mas de próprios discípulos e mensageiros. E veio, em nossos dias, como Doutrina dos Espíritos cuja tarefa é reviver esse Cristianismo Primitivo. Essa Doutrina hoje se expande irresistivelmente pelo mundo, sem fronteira e, como antes, nos tempos apostólicos, sua finalidade é:

1°) esclarecer as mentes sobre as verdades espirituais;

2°) operar nos homens as transformações morais indispensáveis à sua redenção, à sua integração nos mundos espirituais superiores.

Reviver, pois, o Cristianismo Primitivo, na essência dos seus ensinamentos e nos termos expressos pelo Divino Mestre eis a sua gloriosa tarefa, em pleno curso em nossos dias.
O Espiritismo, portanto,

Não é simplesmente um conhecimento teórico ou especulativo:

É iniciação em verdades maiores e ação plena e efetiva para o bem da coletividade;

Não é somente um esforço intelectual, uma pesquisa de caráter filosófico, ou demonstrações de fenômenos estranhos, com penetração mais ou menos profunda, nas leis naturais;

• Mas devotamento ao próximo, ajuda recíproca, confraternização, demonstrações legítimas de amor universal, para que assim os homens se redimam do passado culposo e se aproximem de Deus.

• É realização espiritual, individual e coletiva, no sentido elevado e verdadeiro; doutrina essencialmente redentora, porque tem a força do convencimento pelos fatos.

Missão do Espiritismo