O MUNDO MATERIAL E O ”MUNDO DAS IDÉIAS”

 Ou em outras palavras

A DIMENSÃO FÍSICA E A DIMENSÃO EXTRA-FÍSICA

ANOTAÇÕES DO BLOG

Dentro do eterno processo de autoconsciência do Homem a forma de encarar a realidade  ou os níveis de  realidade, não é exclusiva dos pensadores orientais. Tal vem ocorrendo no mundo ocidental há milênios. Assim,  encontramos na Grécia Antiga a filosofia de Sócrates, (470-399 a. C.), o qual, juntamente com seu discípulo Platão ( 429-347 a. C.), legou-nos importantes conceitos, encontrados posteriormente no cristianismo e na doutrina espírita, conforme nos mostra ALLAN KARDEC na INTRODUÇÃO ao ‘’Evangelho Segundo o Espiritismo’’.

Assinalou o mestre de  Lyon que, para Sócrates o homem é uma alma encarnada, proveniente de outro plano existencial por ele designado como “o mundo das idéias, e também  ”do verdadeiro, do bem e do belo” e que, por isso, quando em contato com as coisas do mundo material a alma encarnada  ” se confunde e se perturba quando se serve do corpo para considerar algum objeto…”,   ao passo que, quando em contato com o mundo das idéias, a alma  ”contempla a própria essência, ela se volta para o que é puro, eterno, imortal…” 

Com efeito, segundo Sócrates, não sendo as verdades originárias do mundo material em que vivemos, mas sim do  intangível mundo das idéias, cumpre ao filósofo (do grego filos=amigo + sofos=sabedoria), trazê-las para o mundo material, como quem “dá à luz” no trabalho do parto. Por essa razão, deu a esse processo, que  consiste em extrair idéias e conclusões por meio de perguntas o nome de  Maiêutica em grego significa ‘’dar a luz’’.

 Para ilustrar a diversidade existente entre as verdades eternas, que regem esse  mundo das idéias, e as ilusões e falsidades a que se submete a humanidade no  mundo material ou mundo das aparências, Platão idealizou na sua obra ‘’A República’’, a ‘’Alegoria da Caverna”. Trata-se de longa narrativa, aqui adaptada em apertada síntese, onde ensina que tudo se opera neste mundo como se a humanidade tivesse nascido e se desenvolvido agrilhoada em frente a um paredão localizado no fundo de uma caverna e de costas para a entrada desta.

Assim, o clarão de uma fogueira que fosse acesa às suas costas, ou a luz do Sol quando passasse lá fora, em frente à entrada da caverna, projetariam no referido  paredão a sombra dos homens. Para estes, estando sempre  de costas para a abertura e impossibilitados de mover a cabeça, a única realidade conhecida seria aquela composta de sombras.  Na visão de Platão filósofos são aqueles homens que, não acreditando naquela falsa realidade, reúnem forças para vencer a distância até a abertura da caverna e, ali chegando descortinarem, maravilhados, o mundo exterior, não sem antes lutarem contra o ofuscamento até adaptar sua visão.  Pois bem, de posse desses novos conhecimentos, buscam os filósofos dividir sua descoberta com o resto da humanidade. Assim, retornam penosamente para o fundo da caverna e tentam convencer os homens a respeito da nova revelação. Mas sofrem perseguições e incompreensões por parte dos que preferem continuar vivendo na ilusão e na ignorância, presos à falsa realidade do seu mundo.

Trata-se, como se vê, de ocorrência que reflete o comportamento dos homens desde sempre.

Registre-se, a propósito, que nosso querido EMMANUEL, o ilustrado mentor de Chico Xavier, no Prefácio do livro ‘’LIBERTAÇÃO” (1) legou-nos a adorável estória do peixinho vermelho, inspirada em antiga lenda egípcia, que muito se assemelha à ‘’Alegoria da Caverna” de Platão.

(Nota 1) EM LIBERTAÇÃO,  Francisco Cândido Xavier, pelo espírito de André Luiz – Federação Espírita Brasileira – 17ª edição. O Prefácio de Emmanuel narra, em síntese, os percalços experimentados por um peixinho vermelho que, vivendo com outros peixes, estes gordos e bem tratados, confinados a um lago de um belo jardim, descobre uma estreita saída e após muitas peripécias,  alcança a liberdade do mundo externo. Desejando dividir sua descoberta de um mundo maior e melhor com os seus semelhantes, retorna ao lago de origem, onde a novidade é recebida ora com desconfiança, ora com desprezo por aqueles que, ”pachorrentos e vaidosos” e acomodados à vida fácil e à comilança, recusam-se a crer nesse ‘’outro mundo’’ ou  a esforçar-se para adequar seus imensos corpos ao tamanho da estreita passagem para a liberdade. Triste, o peixinho segue o seu destino para as alegrias do mundo exterior, enquanto que os seus amigos, algum tempo mais tarde, não sobrevivem à uma devastadora seca que destrói o lago .

O alerta de doutrinas milenares que distinguem a falsa realidade do mundo material da verdadeira realidade da dimensão astral :

O BUDISMO: OS EFEITOS DA ”IMPERMANÊNCIA”

Nos preceitos budistas encontramos o alerta de que o mundo em que vivemos tem como característica básica a impermanência. Com efeito, ensina o budismo que a impermanência é uma lei eterna e universal. Assim sendo,  nossos sentidos e os seus objetos, vale dizer, toda a matéria de que o mundo é formado é impermanente. Por essa razão, concluem seus seguidores que: se soubessemos que os sentidos e os objetos são impermanentes (transitórios) , não nos frustraríamos tanto apegando-nos a uma coisa. “É esse apego aos sentidos e seus objetos, (…) impermanentes, que gera o insatisfatório nas nossas vidas

O BRAMANISMO E HINDUÍSMO: A HUMANIDADE VIVE EM ”MAYA”

Essa visão dicotômica ou dualistica da realidade – distinguindo o  mundo real do  ilusório – é também encontrada nos milenares textos vedas e ‘’upanishads’’ : conjunto de hinos, formas sacrificiais, encantamentos e receitas mágicas que constituem o fundamento da tradição religiosa do bramanismo e do hinduísmo . 

 Dali se extrai a orientação: “não se apegue às coisas deste  mundo porque tudo nele é ‘’maya’’ (do sânscrito: ilusão).

JESUS-CRISTO : ”O REINO DOS CÉUS” E A ”VIDA FUTURA” NA REALIDADE OU PLANO ASTRAL

Nestas condições, pode-se dizer que o conceito de ”mundo das idéias”de Sócrates/Platão sintoniza-se perfeitamente com o sentido atribuído por JESUS às expressões  – “o reino dos céus” e “vida futura” -, por Ele ensinadas.

Assim é que Êle disse  ‘’CONHECEREIS A VERDADE E ELA VOS LIBERTARÁ’’ e também  ‘MEU REINO NÃO É DESTE MUNDO ‘’. I

Indagado por seus discípulos por que razão expressava-se por meio de parábolas, JESUS explicou:“É porque para vós outros foi dado conhecer os mistérios do reino dos céus, mas para eles não lhes foi dado …”(Mateus XIII, v. 10 a 14).

Com efeito, pode-se dizer que “o reino dos  Céus” e a “ vida futura” são sítios arquetípicos da dimensão extra-física cujo acesso não está reservado exclusivamente ao iniciado, ao hierofante  (sacerdote) ou ao asceta. Destina-se, preferencialmente, segundo JESUS aos simples e humildes por isso : “Eu vos rendo glória, meu Pai, senhor do céu e da terra, por haver ocultado essas coisas aos sábios e prudentes, e por as haver revelado aos simples e aos pequenos ” (Mateus, XI, v. 25).  De fato, interpretando essa passagem explica ALLAN KARDEC que Deus deixa aos sábios ”a busca dos segredos da Terra e revela os do céu aos mais simples e aos humildes, que se inclinam diante Dele”. A respeito da VIDA FUTURA disse mais  KARDEC .

PARA ALLAN KARDEC: ”VIDA FUTURA”, É UMA REALIDADE  MATERIAL DO  PLANO EXTRA-FÍSICO

Por outro lado, ao comentar a famosa resposta de JESUS a  Pilatos “meu Reino não é desse mundo”, (João, XVIII, v. 33-37) o mestre lionês  assim se manifestou no Capítulo II :

”… por essas palavras, Jesus designa claramente a vida futura… Esse dogma  pode, pois, ser considerado como ponto central  do ensinamento do Cristo, por isso está colocado como um dos primeiros no início desta obra,(referindo-se ao Evangelho) porque deve ser a meta de todos os homens…”.

 Pois bem, observe o leitor que essa afirmação de KARDEC mostra que a Doutrina Espírita efetivamente também tem DOGMA, ao contrário do que afirmam alguns espíritas.

Mais adiante, aduz : “Com o Espiritismo a vida futura não é mais um simples artigo de fé ou simples hipótese. É uma realidade material, provada pelos fatos. Porque são as testemunhas oculares que a vêm descrever  em todas as suas fases e peripécias…”   .

A VERDADEIRA VIDA, NA PÁTRIA OU PLANO  ESPIRITUAL OU EXTRA-FÍSICO

Finalizamos  este pequeno estudo da doutrina de Sócrates e Platão   reproduzindo o comentário de JESUS a propósito da máxima   “Deixai os mortos o cuidado de enterrar seus mortos”(Lucas, IX, 59,60)

JESUS disse: ‘’Não vos inquietais com o corpo, mas pensai antes no Espírito, ide ensinar o reino de Deus, ide dizer aos homens que sua pátria não está na Terra mas no céu, porque lá somente está a verdadeira vida.”  .

INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA DOUTRINA DE SÓCRATES E PLATÃO NO EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO