O PERISPÍRITO NAS MORTES PREMATURAS – RUMO A LUZ https://rumoaluz.com.br Jesus, Espiritismo, Kardec Sun, 14 Jul 2024 13:18:20 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.7.2 https://rumoaluz.com.br/wp-content/uploads/2024/11/logo_desenho-150x150.jpg O PERISPÍRITO NAS MORTES PREMATURAS – RUMO A LUZ https://rumoaluz.com.br 32 32 REENCARNES https://rumoaluz.com.br/reencarnes-2/ Sun, 14 Jul 2024 13:13:04 +0000 https://rumoaluz.com.br/?p=967 Nota do BLOG:

Finalizando este segmento reproduziremos a seguir trechos do Capítulo 53 – REENCARNES com ênfase nos casos de reencarnações complexas e das reencarnações compulsórias, com esclarecimentos sobre a redução perispiritual que ocorre nas câmaras de restringimento e sobre a natureza do cordão prateado bem como a ação do Modelo Organizador Biológico sobre a formação do feto..

CAPÍTULO 53

REENCARNES

(reprodução parcial)

O reencarne é sempre um acontecimento constrangedor para o Espírito. Habitando um mundo menos denso e agindo com mais liberdade, ele se vê forçado a um mergulho na carne, e condenado ao esquecimento da sua própria história, para recomeçar quase sempre trabalhos incompletos, missões naufragadas.

(…….).

Voltar à carne significa esforço, iniciado bem antes da gestação, quando o candidato a reencarnante planeja com os mentores a busca dos futuros pais. Estes podem ser amigos, inimigos, estranhos à sua vida, pois é essencial que eles (pais e filhos) estejam incursos em uma conjuntura cármica que favoreça a todos, sem trazer prejuízos individuais. Segue-se o planejamento para o novo corpo; a elaboração de um mapa genético, que é levado a efeito com ou sem a sua presença, (…………..) as possibilidades de contrair enfermidades e outras informações específicas e necessárias à prova.

Vencida esta etapa, vem a redução perispiritual com conseqüente esquecimento do passado, o que mais apavora o candidato. Como nasce bem e morre bem quem faz o bem, o Espírito poderá ter em sua partida, centenas de amigos dedicados, orações, acompanhamento amoroso. (………….). Caso seja adepto do anarquismo, essas efusivas demonstrações de apreço geralmente não acontecem. No entanto, não seguirá espicaçado como um boi ao matadouro. Os pacientes fiadores de sua viagem às paisagens terrenas dedicam-lhe o carinho desinteressado, fazendo-se de paternais figuras frente ao filho ingrato.

(………………)

Primeira visita.

Observo na sala alguns companheiros com pranchetas. São alunos que vão estudar conosco a mediunidade em ação. No grupo há moças e rapazes que observam atentamente tudo que ocorre na reunião mediúnica. Portam aparelhos e os colocam em nossas cabeças, como a aferir vibrações, estado mental ou coisa parecida. Estou sendo alvo de suas pesquisas. Eles me examinam pormenorizadamente, comparam meu perispírito de encarnada com o deles; acham-no mais compacto e comentam ser devido aos meus fluidos vitais e ao meu hábito alimentar. Eu também faço comparações. Meu perispírito é realmente mais pesado. Os alunos se organizam diante do fio prateado que se liga ao meu corpo. Fazem desenhos, anotações e um deles diz que vai fazer uma experiência comigo. Ele vai tocar no fio prateado… (A médium voltou imediatamente ao corpo físico após o toque em seu fio prateado, seguindo-se novo desdobramento).

O rapaz que tocou no fio explica-me que usou um fluido mais pesado para tocar o cordão. Ele sabe que ao tocá-lo pode ocorrer algum estremecimento em meu corpo, mas não obrigatoriamente o retorno. A volta repentina ao corpo foi motivada pelo fluido denso que ele usou. Vamos nos deslocar para uma colônia. Alguns estudantes vão conosco e outros permanecem aqui em estudos. Estamos subindo a uma velocidade moderada. Vejo as nuvens, passamos por elas, quais passageiros de uma aeronave. Pousamos.

O instrutor informa que esta colônia se situa em cima do Rio de Janeiro, e que os deteremos em um departamento em especial. À minha frente encontra-se um muro, com forte portão fabricado com uma substância parecida com o ferro. Ele se abre ao toque do instrutor. Não é qualquer pessoa que consegue abri-lo. (……..) Mas nosso objetivo não é este, e sim, o departamento de reencarnação. Neste instante, penetro vasto salão, onde concentrados em seus desenhos, diversos técnicos trabalham sem atropelos. A aparência do local é a de uma sala de pintura. Muitos cavaletes, pranchetas, desenhos de órgãos, sistemas inteiros e corpos humanos. Estou trajando um roupão esverdeado, e me dirigindo com os amigos a um outro local onde se processa a redução perispiritual de um candidato a encarnação.

O instrutor nos adverte que existem algumas técnicas para esse trabalho, e que elas dependem das condições do candidato. Afirma que a minha presença aqui restringe-se à observação dos preparativos para uma reencarnação compulsória.

Nesse tipo de encarnação, o Espírito pode ou não tomar conhecimento da redução perispiritual. Os suicidas com grandes mutilações e que exigem um reencarne imediato para a modelação de órgãos danificados, seguem adormecidos, acordando encarcerados no corpo denso, manietados por suas deficiências.

Basicamente existem aqui dois aparelhos, cuja função redutora comprime os espaços

intermoleculares do perispírito. Uma câmara semelhante a uma incubadora, cuja parte superior é semelhante ao vidro, e uma cabina. A primeira é utilizada em casos mais urgentes, onde o perispírito fica deitado, permanecendo em seu interior por um espaço que varia de uma semana a um mês.

O restringimento é semelhante em ambos, sendo que na cabina de compressão, o processo se opera de maneira mais lenta. Nesta, o perispírito fica sentado, e o Espírito, ao contrário do caso anterior, permanece consciente e conhecedor da sua gradativa redução perispiritual. Em ambos os aparelhos, avistamos os mapas do futuro encarnante. Observo agora a câmara em atuação. Dentro dela um paciente como que

adormecido. O mapa que o acompanha possui várias partes do corpo lesadas. O processo de redução vai começar. O mapa acima, do tamanho natural do corpo, começa a ser iluminado por cores roxas, azuis, verdes; essas cores são cintilantes. Igualmente o perispírito está iluminado por esse verde cintilante, principalmente em sua área cerebral. (Puxa! Como é que posso explicar isso!) O mapa vai sendo passado para o perispírito e ele vai encolhendo. É como tirar uma foto em tamanho reduzido. Isso aconteceu apenas com a cabeça, pois ele desligou o aparelho. Esse tipo de restringimento utilizado em Espíritos inconscientes, é rápido. No caso desse companheiro apenas duas semanas serão o suficiente, tempo em que o óvulo de sua futura mãe, já escolhida e comprometida com ele, amadureça. A redução começa pelo cérebro impondo o esquecimento das vidas passadas. Como a redução é rápida, pode ocorrer nos casos de suicidas, que o esquecimento não se aprofunde bastante, a ponto de imunizá-los dos traumas sofridos. Isso é natural e faz parte do carma de cada um. É comum suicidas reencarnarem e lembrarem através de traumas e fobias variadas do seu gesto impensado. É uma catarse, um esvaziamento do inconsciente naquilo que lhe é lastro. O paciente sob a câmara deixou o mundo por uma explosão ativada por ele mesmo, ocasião em que se mutilou duramente. Esse reencarne funcionará para ele como uma colagem, uma modelação perispiritual, impondo-lhe recomposição e drenagens de fluidos.

—No processo de redução, você assistiu apenas a uma demonstração?

—Sim. O processo foi acelerado para efeito didático. Na prática não é assim. Ele colocou o mapa sob a tampa transparente, ficando este e o perispírito correspondente, órgão a órgão. Acionou a máquina, e vi o cérebro ir diminuindo, assemelhando-se no final a um cérebro infantil.

—E quanto ao Espírito lembrar do passado devido à rapidez do restringimento?

—Na fase infantil, muitas lembranças dramáticas podem aflorar e serem revividas com muita intensidade pelo Espírito. (……..) . Ele insiste em dizer que isso é necessário para o Espírito infrator, a fim de que se forme uma espécie de reflexo condicionado, um automatismo que lhe force a fuga de tais acidentes.

Sigo agora para outra observação. Aqui o candidato está consciente. Vejo que sua fisionomia é tristonha. O instrutor diz que o processo é indolor. O candidato sente apenas uma dor moral que tem gênese no medo de falir, quando encarnar. Ele levará consigo incertezas, saudades, depressões, muito naturais em quem parte. Nas despedidas, raramente a felicidade está presente, comenta. A diferença deste processo em relação ao outro é que aqui o candidato recebe aulas, exercita-se e fica horas dentro da cabina, como se submetesse a um tratamento.

A presença dos mapas no interior da cabina às vezes o angustia, pela consciência de que portará deformações. Nessa cabina, ele sente a redução. Nota como se alguma coisa lhe fosse subtraída, comprimindo lhe o corpo, enevoando lhe o pensar.

— A redução é feita por etapas? Diariamente ele faz exercícios?

— Ele fica nesse exercício até o período em que deverá ligar-se ao óvulo na hora da fecundação. Ao aproximar-se esse dia, o processo do restringimento acelera-se, entrando em fase terminal. Após exercitar-se na cabina, ele não volta para as suas atividades. (…………….) A redução, continua o instrutor, obedece perfeitamente à simetria orgânica do perispírito, graças à sua maleabilidade, imprimindo-lhe ainda as futuras características orgânicas. À proporção que ele se exercita na cabina, e que vai sofrendo a redução, paralelamente esquece os fatos ligados à sua vida, ocasião em que o rumo dos acontecimentos, passa a ser direcionado unicamente pelos técnicos.

— Quanto tempo dura em média esse processo?

— Esse candidato já se prepara há um ano. O tratamento dele é lento. As suas células vão ficando cada vez mais “compactas”, “densas”… Apenas efeito do restringimento, diz o instrutor.

— Ele é um Espírito de evolução mediana? Esse período de um ano está ligado a seu carma?

— Esse companheiro foi um grande ajudante aqui no hospital. Atuando como enfermeiro junto aos suicidas recolhidos, ele conquistou muitos méritos que agora revertem em seu favor. É por esse motivo que a encarnação está revestida de cuidados especiais, embora não seja do agrado dele a partida, pois gostaria de ficar neste plano muito mais tempo. Todavia, vejo em seu mapa fixado na cabina, que ele terá uma atrofia na perna, embora eu não saiba o porquê.

Ao contrário deste paciente, que embora não desejando a reencarnação neste momento a ela se submete, outros oriundos de diferentes religiões que combatem sistematicamente essa lei natural, oferecem grandes barreiras mentais para aceitação do fato. O fanatismo religioso é um problema à parte a ser tratado, e os técnicos o fazem com toda consideração à maneira de pensar e interpretar a vida de cada um; mas, fazendo cumprir a lei maior que é inderrogável.

Veremos agora a ligação do perispírito com o óvulo, culminando o processo encarnatório. Inicialmente vamos averiguar uma tentativa de reencarne, sem o planejamento desta colônia. É o caso de um Espírito que está querendo aproveitar o exercício do sexo pervertido, para tentar o mergulho carnal. Mesmo assim, aqueles que agem dessa maneira são observados e auxiliados pelo Alto.

— Se tais Espíritos aproveitam o deslize de um casal, então como se opera a redução perispiritual e o conseqüente esquecimento do passado, para aproveitar a chance?

— O instrutor diz que você está se antecipando, e que as respostas surgirão com a minha narrativa. Relata que em hipótese alguma interferirão no ato sexual, e que não assistiremos a ele. Vejo os lances através de uma tela, como se fosse em um filme. O irmão que quer reencarnar não tem o aspecto muito bom. Ele sabe que vai acontecer o ato sexual e quer ficar perto.

— Mas a intenção dele não é encarnar?

Sim. Mas o seu pensamento não é de ter uma oportunidade para o seu crescimento espiritual. Ele quer reencarnar para prejudicar a vida do casal. É um ato tolo, diz o instrutor, pois que ele não submeteu-se a nenhuma técnica de restringimento. Ele apenas observa o ato sexual e fica próximo, bem junto ao casal, na intenção de ser atraído e reencarnar. O que vejo na tela neste instante é que o espermatozóide não conseguiu fecundar o óvulo. Algo o impediu.

—Se houvesse fecundação, haveria reencarnação?

—Não. Esse Espírito para reencarnar, deverá passar inevitavelmente pela redução perispiritual, para que seja acoplado ao óvulo. Se houvesse uma fecundação, não germinaria vida, e provavelmente, aos dois meses, haveria um aborto espontâneo, expelindo uma massa informe. Mas isso dependeria ainda do carma do casal, pois o acaso não prevalece nesses acontecimentos.

Nesta mesma tela, vamos observar agora, ao reencarne bem sucedido, com ênfase para a ligação do perispírito ao óvulo. Vejo em tamanho ampliado as duas células germinativas. São coloridas. O óvulo apresenta cor alaranjada e o espermatozóide é azulado. Percebo nitidamente, que existe no óvulo uma espécie de fio muito tênue, que não é notado pelo microscópio, talvez por encontrar-se em sua contraparte energética. Esse fio, chama-me a atenção o instrutor, é que vai ligar-se ao perispírito, formando o cordão prateado que nele existe. Agora observo o feto…

—Pergunte ao instrutor, se esse fio que você notou no óvulo, existe em todo óvulo fecundado.

—Todo óvulo fecundado e que se destina ao acoplamento com o perispírito, o possui. No momento em que o espermatozóide bombardeou o óvulo, este se fechou sobre si mesmo, e eu vi sair dele, esse fiozinho como uma linha

—Isso ocorre toda vez que o óvulo é fecundado, ou quando especificamente esse óvulo está destinado a se ligar com o perispírito?

— Quando o óvulo foi preparado para receber a acoplagem do perispírito. Agora vejo o feto; é minúsculo… O perispírito ficou desse tamanho?!

— Qual a dimensão do perispírito em centímetros?

— Entre 10 a 15 centímetros. É como um feto de dois ou três meses. Esse perispírito que foi reduzido na câmara, é ligado através do fio existente no óvulo fecundado. Nesse instante, qualquer acidente que venha a romper esse fio, informa o instrutor, neutraliza a oportunidade de retorno para o candidato. O feto perispiritual é um bonequinho perfeito. (…………) . Ainda estou admirada com o perispírito. É tão lindo! Estou até vendo os cabelos, as unhas, o sexo…. Ele apenas crescerá dentro do útero, afrouxando um pouco mais a compressão molecular imposta pela cabina. Ele sofrerá transformações no seu semblante, o qual se ajustará à carga genética paterna e materna, determinantes das futuras características físicas que ele portará.

—Fale mais sobre esse fio existente no óvulo, e que vai originar o cordão prateado.

—Ele diz que você já entendeu. Repetem apenas, que ele vai se fortalecendo à medida que o corpo se desenvolve, formando o laço que retém o Espírito preso à matéria, que rompido, o libertará através do desencarne.

—Então o cordão prateado não vem com o perispírito reduzido. Ele surge do óvulo.

—Estou vendo na tela esse fio sair do óvulo. Não sei se no perispírito existe também algo semelhante, para que se faça uma junção.

—Procure se certificar.

—Esse fio que é ligado ao Espírito reencarnante, é propriedade inerente à matéria. É através dessa ligação que o Espírito passa a habitar o corpo material. Essa é a resposta dele.

—Insisto ainda uma vez, visto reconhecer o perispírito como sendo matéria, embora que em estado mais sutil. Qual a sua origem? Física, unicamente do óvulo, ou perispiritual?

—Sua gênese é material física. O perispírito, ao ser ligado ao óvulo, o faz através desse fio, gerando o cordão prateado. Imediatamente, devido à constituição celular do óvulo, o contato Espírito-matéria se estabelece. Isso ocorre com a fecundação. Os técnicos utilizam os recursos da célula germinativa e do perispírito, para efetuar a ligação. Ele me pergunta se você tem alguma dúvida, enquanto vai fazendo correr as imagens na tela.

—Não. A minha dúvida era quanto à formação do cordão prateado.

Ele explica de novo, rindo da sua teimosia. Esse fio que parte do óvulo fecundado, é ligado no exato momento da fecundação, ao perispírito. A constituição de ambos os elementos favorece a acoplagem, transformando-se no cordão fluídico que todo encarnado possui. Observo agora em outra imagem, o zigoto já dividido em diversas células. Ele explica que a sombra que se encontra unida ao zigoto, representa o perispírito, funcionando como um ímã, motivando as divisões celulares e os encaixes nas regiões apropriadas às suas especialidades. É a acoplagem das células materiais, às células perispirituais.

— Você está vendo a célula-ovo bastante desenvolvida, com células já multiplicadas. E também uma sombra em forma de feto. Essa sombra está sendo preenchida por células que se diferenciam em tecidos, e cada tecido ocupando a parte correspondente da sombra. É isso?

— Descrição exata a sua. É o mergulho do perispírito na matéria.

— O perispírito é que está comandando essa diferenciação? Por exemplo: fibras cardíacas, no coração; fibras esqueléticas, prendendo-se ao esqueleto…

— Observo já um outro diapositivo projetado sobre a tela. Essa figura mostra o preenchimento a que você se refere. Realmente o perispírito parece orientar a divisão celular. Na mão, (vejo a mãozinha dele) noto pequena mutilação no dedo. O perispírito já determinou no físico essa mutilação, uma vez que a fôrma do dedo, espécie de campo organizador celular, através de suas linhas de força, não permitiu o alongamento no dedo defeituoso como ocorreu com os demais. A parte faltosa não foi preenchida pela matéria orgânica, ficando delimitada por uma espécie de barreira invisível. O que vejo agora parece autorizar-me a dizer que o perispírito traz a mutilação e as células vão se multiplicando obedecendo as suas linhas já traçadas. (………………..) A missão está cumprida, afirma.

Não me encontro mais desdobrada; mas continuo a ver os estudantes em exercício com os médiuns. Um deles, com uma espécie de binóculo observa a sua cabeça. Outro, com um aparelho que lembra um voltímetro sofisticado, o encosta na cabeça de X, e o ponteiro se desloca um pouco para a direita…

— Deixemo-los trabalhar e vamos à prece final.

Segunda visita.

Observo quatro entidades amigas que nos esperam. Uma delas, o nosso instrutor, adverte-nos que hoje trataremos do tema reencarnação. Veremos casos de suicidas que se submeterão a reencarnações compulsórias. A região que vamos visitar situa-se em ambiente de pesadas vibrações. (………………….) Chegamos à frente de uma grande e alta muralha. Por fora o ambiente está às escuras. Adentramo-nos por um grande portão. Nessa colônia, são recolhidos suicidas voluntários e involuntários, bem como outros irmãos comprometidos com a lei no que tange ao descuido para com a vestimenta carnal. A acolhida aqui é temporária. Essa colônia, que possui forma circular e situa-se em zona perigosa, é um posto de emergência. Ela tem o aspecto de um forte; avistei isso de cima. No centro, em meio aos pavilhões, existe uma construção diferente, como uma capela, de cor branca muito limpa. Mais à frente vejo uma praça, mas o contraste entre a cor da capela e da praça é notório . (………)

Vou ingressar no pavilhão. Habitam esse recinto ex-alcoólatras com seu diário de mazelas. Eles são conscientes de seus problemas. Estamos examinando um rapaz de aproximadamente 35 anos, que apresenta o rosto e o abdome muito inchados. Ele está em coma. Estou sentindo em meu corpo choques e arrepios devido às condições do lugar. Esse Espírito reencarnará em breve, o que ocorrerá independente de sua vontade. Aproximo-me dele e consigo ver a sua pele como se fosse transparente. Percebo todos os órgãos internos. O fígado está enorme, apresentando colorido desfigurado, possuindo vários pontos negros. O instrutor diz tratar-se de uma cirrose em avançado estado degenerativo. O quadro que vejo é o mesmo apresentado por ele no momento do desencarne. O coração está bem maior que o normal. Os intestinos em petição de miséria. Os rins apresentam imensa dificuldade em filtrar o sangue. Tudo isso me foi possível observar devido a uma ampliação na minha capacidade visual.

Vamos adiante. Pedem que eu grave os detalhes, pois vou precisar deles logo mais. Estou em outro pavilhão. Ambos são separados por uma porta, mas não existe a permissão de ultrapassagem por parte dos pacientes. (……..) . Muitos enfermos se encontram em total prostração, tipo de paciente hospedado neste pavilhão é o que se suicidou por combustão. Noto que a maioria é mulher. Alguns pacientes apresentam-se enfaixados com ataduras. Vou observar em detalhes o perispírito de uma paciente em tratamento. Estão retirando as ataduras, e seu corpo surge em lamentável estado. Essa irmã lançou gasolina sobre o corpo e incendiou-se. O estrago é generalizado. Está sem mãos, e parece ter passado por um encolhimento. A fisionomia não traz os traços distinguíveis. É horrível! Pedaços arrancados, enrugamentos, calombos… A maioria das encarnações aqui planejadas visa apenas à restauração de danos causados ao perispírito, não havendo condições de sobrevivência para o corpo físico. A densidade do físico, forçando uma modelagem no perispírito, ajuda na restauração do reencarnante, mas pode levar a mãe à morte, devido à carga tóxica e fulminante que o suicida pode portar. Estamos falando de casos graves como este, em que a sua permanência na carne após o parto, será de horas ou no máximo, dias. (…….)

Vamos sair. Sou amparada, pois realmente estou debilitada. Entramos em uma sala, onde aconselham-me a deitar e a aspirar algo em uma espécie de máscara de oxigênio. A sala tem um perfume diferente. Está impregnada de fluidos reconfortantes. Quando os enfermeiros trabalham longos períodos junto aos suicidas, se refazem ao contato com essa substância que é agradavelmente relaxante. Sinto que minhas energias estão de volta, como se eu tivesse tomado um elixir revigorante. Precisamos ir ao outro lado da colônia; não andando, mas volitando, afirma o amigo que me acompanha.

De cima vejo que a colônia é muito grande. Passamos por vasto gramado verdejante, jardins, grandes árvores. Este lado é bem diferente do outro. (………………).

Mas esse não é o objetivo da visita, lembra o instrutor. Na sala à minha frente leio: “Departamento de Reencarnações Compulsórias”.

Os enfermos que habitam o outro lado da colônia são trazidos para cá e submetidos a planejamentos, para que possam reencarnar, retomando o caminho que tentaram bloquear. (…………….).

Observemos um caso: O Espírito encontra-se no interior da câmara de restringimento, a qual, na parte superior, apresenta o mapa construído para o seu futuro corpo. O paciente que observo, por ter sido alcoólatra, terá apenas dois anos de vida física. Pelo mapa, observo as deficiências físicas que ele portará. Nascerá com o fígado irremediavelmente falido. Os médicos poderiam tentar um transplante, mas este redundaria inútil, pois seu problema é cármico. O fígado observado no mapa, é desproporcional e cheio de lesões.

— O mapa tem o tamanho natural do paciente?

— Sim, e por ele posso lhe dar maiores informações. Como a faringe e a laringe sofreram vigorosa agressão, ele não terá condições de falar corretamente Os rins serão lentos na filtração do sangue; seu corpo será demasiadamente raquítico; um esqueleto vestido em pele molambenta. O instrutor complementa que ele nascerá em um meio onde a assistência médica e fraterna será escassa, pois assim está escrito em sua prova.

— Explique melhor essa assistência precária que ele enfrentará.

— Seus pais foram escolhidos de conformidade com as provações e resgates que os três precisam enfrentar. São pessoas pobres, favelados, onde até mesmo o pão material que lhes serve como ração de cada dia é minguado. Esse casal, pela sua ignorância e pobreza, não poderá submeter o reencarnante a um tratamento específico que lhe ampliaria a vida na matéria. Não é uma prova insuperável, diz o instrutor. Ela lhe permitirá uma espécie de drenagem do seu perispírito, expelindo grande quantidade de toxinas que o enfermam. Durante a sua estada no cárcere físico, ele terá o amparo e a assistência daqueles que lhe são benfeitores, e que daqui e ao seu lado, velarão pelo sucesso de sua Prova. Sairá aos dois anos mais purificado, e poderá voltar futuramente, com deficiências menores e vida mais prolongada. (…………………….) Apontam-me um outro mapa. Foi preparado para a irmã que ateou fogo a si mesma. Será uma reencarnação frustrada, no sentido que ela não sobreviverá. Ela já está consciente desse detalhe. Surgirá no cenário do mundo com os membros superiores e inferiores ressequidos, deformações grotescas na pele, como se fossem mondrongos, cicatrizes profundas que deixam a pele enrugada como a lixa. Noto que a pele terá pigmentação alterada, portando estrias irregulares. Viverá algumas horas somente. Apesar do seu reencarne estar marcado para breve, ela ainda não se encontra na câmara. Como ela já tem consciência da gravidade do seu problema, deverá sentir os efeitos da redução perispiritual.

— Quanto tempo ela passará na câmara de restringimento?

— Tudo depende das condições do Espírito. Mas, em se tratando de compulsória, o dela não excederá um mês, devido à urgência que o caso requer. (………………………)

— Esse Espírito, ao desencarnar, voltará para a colônia ou continuará o crescimento em outra instituição?

—Voltará para a colônia e reiniciará o tratamento, visando uma outra encarnação breve, até que atinja uma moderada harmonia anatômica-fisiológica, ocasião em que poderá ela mesma, em consonância com os técnicos planejar uma reencarnação prolongada, ainda e sempre sujeita aos débitos e aos créditos que tem. O instrutor menciona que aqui existe também o que ele chama de concessão. Alguns pedem e recebem, após o exame da sua ficha cármica, a concessão de uma vida prolongada na matéria. Essa vida pode ser vegetativa, ou até mesmo produtiva, a depender do corpo em questão. Todavia, um suicida não consegue subtrair-se dos traumas mentais que o obsidiam, nem das cobranças da consciência a exigir reparos para com a lei. Caso ele se fortaleça na prece e no trabalho de renovação espiritual terá sempre forças para superar a provação, que forçosamente repetirá na encarnação em pauta, um drama semelhante ao que ele faliu.

O instrutor me entrega alguns papéis ( ………) doenças apresentadas no futuro corpo carnal dos suicidas, conforme o gênero de suicídio escolhido.

Fogo: fobia ao fogo; doenças como a hanseníase e o fogo selvagem; manchas urticárias na pele.

Afogamento: Fobia a grandes massas de água; doenças pulmonares; asfixias; esquistossomose.

Envenenamento: enfermidades no sistema digestivo; câncer de esôfago, de estômago, de intestinos; alergias rigorosas.

Enforcamento: doenças nervosas; enfermidades na coluna; dificuldades na fala; doenças respiratórias.

Tiro no peito: doenças ligadas ao sistema circulatório; deformação toráxica; corpo sujeito a hemorragias e abalos nervosos.

Tiro no ouvido: deficiência mental; surdez; cegueira; dificuldade de aprendizagem; deformações cranianas e cerebrais.

Explosão: mortes prematuras para regeneração perispiritual; natimorto; mutilações generalizadas; hidrocefalia; vida vegetativa.

Apenas li a mensagem que ele me trouxe. Pede que você analise a conveniência ou não de divulgá-la.

]]>
JUDAS ISCARIOTIS https://rumoaluz.com.br/judas-iscariotis/ Tue, 09 Jul 2024 17:02:30 +0000 https://rumoaluz.com.br/?p=862 ESPÍRITO DE HUMBERTO DE CAMPOS
LIVRO CRÔNICAS DE ALÉM-TUMULO
PSICOGRAFADO POR FRANCISCO C. XAVIER

Editora da Federação Espírita Brasileira – FEB – 1935

Silêncio augusto cai sobre a Cidade Santa. A antiga capital da Judéia parece dormir o seu sono de muitos séculos. Além descansa Getsêmani, onde o Divino Mestre chorou numa longa noite de agonia, acolá está o Gólgota sagrado e em cada coisa silenciosa há um traço da Paixão que as épocas guardarão para sempre. E, em meio de todo o cenário, como um veio cristalino de lágrimas, passa o Jordão silencioso, como se as suas águas mudas, buscando o Mar Morto, quisessem esconder das coisas tumultuosas dos homens os segredos insondáveis do Nazareno. Foi assim, numa destas noites que vi Jerusalém, vivendo a sua eternidade de maldições. Os espíritos podem vibrar em contacto direto com a história. Buscando uma relação íntima com a cidade dos profetas, procurava observar o passado vivo dos Lugares Santos. Parece que as mãos iconoclastas de Tito por ali passaram como executoras de um decreto irrevogável. Por toda a parte ainda persiste um sopro de destruição e desgraça. Legiões de duendes, embuçados nas suas vestimentas antigas, percorrem as ruínas sagradas e no meio das fatalidades que pesam sobre o empório morto dos judeus, não ouvem os homens os gemidos da humanidade invisível. Nas margens caladas do Jordão, não longe talvez do lugar sagrado, onde Precursor batizou Jesus Cristo, divisei um homem sentado sobre uma pedra. De sua expressão fisionômica irradiava-se uma simpatia cativante. – Sabe quem é este? – murmurou alguém aos meus ouvidos. – Este é Judas. – Judas?!… – Sim. Os espíritos apreciam, às vezes, não obstante o progresso que já alcançaram, volver atrás, visitando os sítios onde se engrandeceram ou prevaricaram, sentindo-se momentaneamente transportados aos tempos idos. Então mergulham o pensamento no passado, regressando ao presente, dispostos ao heroísmo necessário do futuro. Judas costuma vir à Terra, nos dias em que se comemora a Paixão de Nosso Senhor, meditando nos seus atos de antanho… Aquela figura de homem magnetizava-me. Eu não estou ainda livre da curiosidade do repórter, mas entre as minhas maldades de pecador e a perfeição de Judas existia um abismo. O meu atrevimento, porém, e a santa humildade de seu coração, ligaram-se para que eu o atravessasse, procurando ouvi-lo. -O senhor é, de fato, o ex-filho de Iscariot? – Sim, sou Judas – respondeu aquele homem triste, enxugando uma lágrima nas dobras de sua longa túnica. Como o Jeremias, das Lamentações, contemplo às vezes esta Jerusalém arruinada, meditando no juízo dos homens transitórios… – É uma verdade tudo quanto reza o Novo Testamento com respeito à sua personalidade na tragédia da condenação de Jesus? – Em parte… Os escribas que redigiram os evangelhos não atenderam às circunstâncias e às tricas políticas que acima dos meus atos predominaram na nefanda crucificação. Pôncio Pilatos e o tetrarca da Galiléia, além dos seus interesses individuais na questão, tinham ainda a seu cargo salvaguardar os interesses do Estado romano, empenhado em satisfazer as aspirações religiosas dos anciãos judeus. Sempre a mesma história. O Sanedrim desejava o reino do céu pelejando por Jeová, a ferro e fogo; Roma queria o reino da Terra. Jesus estava entre essas forças antagônicas com a sua pureza imaculada. Ora, eu era um dos apaixonados pelas idéias socialistas do Mestre, porém o meu excessivo zelo pela doutrina me fez sacrificar o seu fundador. Acima dos corações, eu via a política, única arma com a qual poderia triunfar e Jesus não obteria nenhuma vitória. Com as suas teorias nunca poderia conquistar as rédeas do poder já que, no seu manto de pobre, se sentia possuído de um santo horror à propriedade. Planejei então uma revolta surda como se projeta hoje em dia na Terra a queda de um chefe de Estado. O Mestre passaria a um plano secundário e eu arranjaria colaboradores para uma obra vasta e enérgica como a que fez mais tarde Constantino Primeiro, o Grande, depois de vencer Maxêncio às portas de Roma, o que aliás apenas serviu para desvirtuar o Cristianismo. Entregando, pois, o Mestre, a Caifás, não julguei que as coisas atingissem um fim tão lamentável e, ralado de remorsos, presumi que o suicídio era a única maneira de me redimir aos seus olhos. – E chegou a salvar-se pelo arrependimento? – Não. Não consegui. O remorso é uma força preliminar para os trabalhos reparadores. Depois da minha morte trágica submergi-me em séculos de sofrimento expiatório da minha falta. Sofri horrores nas perseguições infligidas em Roma aos adeptos da doutrina de Jesus e as minhas provas culminaram em uma fogueira inquisitorial, onde imitando o Mestre, fui traído, vendido e usurpado. Vítima da felonia e da traição deixei na Terra os derradeiros resquícios do meu crime, na Europa do século XV. Desde esse dia, em que me entreguei por amor do Cristo a todos os tormentos e infâmias que me aviltavam, com resignação e piedade pelos meus verdugos, fechei o ciclo das minhas dolorosas reencarnações na Terra, sentido na fronte o ósculo de perdão da minha própria consciência… – E está hoje meditando nos dias que se foram… – pensei com tristeza. – Sim… Estou recapitulando os fatos como se passaram. E agora, irmanado com Ele, que se acha no seu luminoso Reino das Alturas que ainda não é deste mundo, sinto nestas estradas o sinal de seus divinos passos. Vejo-O ainda na Cruz entregando a Deus o seu destino… Sinto a clamorosa injustiça dos companheiros que O abandonaram inteiramente e me vem uma recordação carinhosa das poucas mulheres que O ampararam no doloroso transe… Em todas as homenagens a Ele prestadas, eu sou sempre a figura repugnante do traidor… Olho complacentemente os que me acusam sem refletir se podem atirar a primeira pedra… Sobre o meu nome pesa a maldição milenária, como sobre estes sítios cheios de miséria e de infortúnio. Pessoalmente, porém, estou saciado de justiça, porque já fui absolvido pela minha consciência no tribunal dos suplícios redentores. Quanto ao Divino Mestre – continuou Judas com os seus prantos – infinita é a sua misericórdia e não só para comigo, porque se recebi trinta moedas, vendendo-O aos seus algozes, há muitos séculos Ele está sendo criminosamente vendido no mundo a grosso e a retalho, por todos os preços em todos os padrões do ouro amoedado… – É verdade – concluí – e os novos negociadores do Cristo não se enforcam depois de vendê-lo. Judas afastou-se tomando a direção do Santo Sepulcro e eu, confundido nas sombras invisíveis para o mundo, vi que no céu brilhavam algumas estrelas sobre as nuvens pardacentas e tristes, enquanto o Jordão rolava na sua quietude como um lençol de águas mortas, procurando um mar morto.

]]>
O SUICÍDIO https://rumoaluz.com.br/o-suicidio/ Mon, 08 Jul 2024 15:21:06 +0000 https://rumoaluz.com.br/?p=825 VISÃO DOS ESPÍRITAS

REVIVÊNCIA MNEMÔNICA NO SUICIDA
Site do INSTITUTO DE CULTURA ESPIRITA DE FLORIANÓPOLIS – ICEF – icefaovivo.com.br 29 de dezembro de 2016

Artigo do Dr. Ricardo Di Bernardi, médico homeopata e presidente do ICEF – Instituto de Cultura Espírita de Florianópolis e Presidente da AME em Santa Catarina.

‘’Todos nós quando regressarmos ao mundo extrafísico, no momento do desencarne, passaremos pela experiência de recapitulação das etapas vividas na última reencarnação. Este fenômeno, conhecido como recapitulação panorâmica ou Revivência Mnemônica, é assistido e vivenciado pelo desencarnante como uma projeção cinematográfica tridimensional. A revivência mnemônica ocorre em poucos minutos, embora possa ser sentida por alguns, na dimensão espiritual, como se fosse um período muito mais longo. No momento da morte biológica, a ausência do metabolismo físico determina uma reflexa redução do metabolismo no corpo espiritual, conseqüentemente, uma retração ou contração das moléculas perispirituais.

Nesta fase, a consciência reduz sua manifestação e o perispírito, também por reflexo, é compelido, novamente, a contrair suas moléculas. Inicia-se, então, no dizer de André Luiz, a histólise perispiritual ou seja a decomposição de alguns componentes do tecido perispiritual que estavam presos à estrutura física.
Durante a contração perispiritual, decorrente da diminuição da energia cinética das moléculas extrafísicas, o perispírito absorve uma parte das energias vitais do corpo biológico; energias estas que serão recicladas no corpo espiritual para sua adaptação ao novo meio – o mundo extrafísico,- tal qual uma crisálida que se transmuta em borboleta adaptando-se a nova realidade dimensional.

Analogamente a uma mola comprimida, em reação à contração perispiritual ocorrida, logo há uma expansão perispiritual. As moléculas aumentam sua vibração ao integrarem as energias vitais recém-captadas do corpo físico. Há agora a histogênese espiritual, ou seja a automática reconstrução do perispírito. A consciência passa a reagir , acentuando sua expressão energética, expandindo-se. Neste momento de expansão , passa a recapitular , rapidamente, toda a experiência vivida na matéria, é a Revivência Mnemônica.

A sabedoria da natureza, Lei Universal, assim estabelece para que os tecidos extrafísicos fixem as experiências adquiridas e gerem, automaticamente, a programação corretiva. Após esta rápida expansão, advém nova contração molecular levando o desencarnante a um sono reparador. Despertará para a nova realidade na atmosfera espiritual.

A seqüência dos fenômenos citados dar-se-á em minutos, horas, meses ou anos, conforme o nível ético e evolutivo da entidade desencarnante.

No caso específico dos espíritos suicidas, a consciência reduz muito sua expressividade como reflexo da “negação em existir” , ocorrendo uma contração perispiritual prolongada. Como em todos os desencarnados, se processa a histólise perispiritual ou seja a decomposição ( parcial ) dos tecidos que prendiam o corpo espiritual ao biológico. Sucede, no entanto, uma grande lentidão na absorção das energias vitais que circulavam no corpo material, estas energias necessitam ser transmutadas ou recicladas como novos elementos integrantes do perispírito, porém , deslocam-se com dificuldade pelo laço fluídico (cordão de prata). A chamada histogênese espiritual faz-se lentamente…

O “quantum ” de energia vital, que se encontrava aderido a estrutura biológica, existia em volume adequado a programação maior de tempo de vida física. Esta energia não desaparece, permanece viva e vibrante, cumprindo, automaticamente, sua função de fixar o corpo espiritual ao corpo físico, neste caso, ao cadáver.
Mentores espirituais, da equipe especializada em autocídios, permanecem atuantes laborando em benefício de cada caso. Cumpre notar, no entanto, que as Leis da Natureza são imutáveis pois são perfeitas, e obedecem a uma programação automática.

O laço fluídico ( cordão de prata), que veicula as energias de decomposição, não pode ser desatado precocemente por estar intensamente fixo, pelo duplo etérico, ao corpo físico. A auto-reconstrução do perispírito far-se-á demoradamente…

A assimilação perispiritual da energia vital do corpo biológico, via “cordão de prata”, transita demoradamente no sentido corpo material-corpo astral, fazendo com que os fenômenos de decomposição cadavérica sejam sentidos pelo desencarnante.

Mesmo quando Espíritos de Luz conseguem desatar os laços fluídicos, a histogênese perispiritual estaciona e a Revivência Mnemônica se fixa de forma intensa, no momento da morte. Esta revivência passa a repetir-se, sendo assistida e vivenciada inúmeras vezes pelo suicida.

Conforme o gênero de autocídio cometido, há desenvolvimento de uma patologia perispiritual específica , relacionada ao processo traumático a que o corpo foi submetido no ato suicida.

Naturalmente, existem atenuantes que reduzem a gravidade dos sintomas, entre os quais o somatório de atos construtivos e amorosos praticados durante a encarnação ora finda. A todo instante, equipes fraternas e tecnicamente habilitadas procuram reduzir o sofrimento do suicida doando-lhe luz e intuindo sua mudança de postura vibratória. Cedo ou tarde estará recuperado, podendo ser acolhido nos Postos de Socorro da espiritualidade e encaminhado a nova reencarnação. Vibremos com amor em seu benefício.’’

Ricardo Di Bernardi

]]>
O ABORTO https://rumoaluz.com.br/o-aborto/ Mon, 08 Jul 2024 15:08:31 +0000 https://rumoaluz.com.br/?p=822 NOTA DO BLOG

Antes de iniciar a reprodução dessa matéria, é importante destacar que boa parte da matéria exposta  neste BLOG sobre o referido  tema tem  raízes fincadas na portentosa obra da literatura espírita, o livro ‘’O PERISPÍRITO E SUAS MODELAÇÕES’’ de Luiz Gonzaga Pinheiro, da EDITORA EME. LUIZ GONZAGA PINHEIRO, um dedicado professor pernambucano estrutura seu relato com base em narrativas de médiuns desdobrados, que visitavam hospitais espirituais, assistindo cirurgias e fazendo entrevistas acompanhados de mentores espirituais.

Porque o termo ‘’modelações’’ ?  Porque,  nesses hospitais, os médicos espirituais, por meio de cirurgias avançadíssimas, procedem a remodelação dos órgãos do  perispírito ou corpo espiritual danificados por ocasião do desencarne em situações as mais variadas e trágicas possíveis. Essa obra destaca o quanto desconhecemos a respeito das   intervenções dos médicos espirituais para literalmente  ‘’reconstruir ‘’ espíritos desencarnados   por meio de  instrumentos que estão séculos à frente  da nossa Medicina terrestre.

Obs.:  www.ebookespirita.org  disponibiliza gratuitamente o conteúdo de domínio público e a propriedade intelectual dessa obra.

É uma justa homenagem aos médicos espirituais e à LUIZ GONZAGA PINHEIRO e sua equipe de médiuns que nos legaram o precioso livro ‘’O PERISPÍRITO E SUAS MODELAÇÕES’’.

Nota do  BLOG.:  Reproduzimos a seguir trecho do livro, retirado do Capítulo  49 – PATOGENIA ESPIRITUAL,   que comenta as repercussões fisiológicas  que repercutem na formação de crianças que nascem desprovidas de cérebro ou na condição de xifópagas.

CAPÍTULO 49

PATOGENIA PERISPIRITUAL

(reprodução parcial)

(………………..)

Terceira visita.

Saí ! O instrutor afirma que iremos estudar dois casos de muita significação em nossa pesquisa. Veremos crianças xifópagas e o caso de uma criança que irá nascer sem o cérebro. Esse assunto foi escolhido para hoje (nascimento da criança sem o cérebro) devido ao acontecimento ocorrer dentro de alguns minutos em um hospital próximo, onde uma equipe de técnicos do nosso lado (desencarnados) já se encontra a postos para o estudo.

Apressemo-nos, diz ele, pois a criança terá apenas alguns minutos de vida e logo desencarnará. Conosco estão seis outros aprendizes, que se dizem estudantes como nós. Três deles, são mulheres, estudantes de Medicina que pediram para assistir à nossa reunião e indiretamente aos casos narrados, ora em desdobramento. O técnico que nos assiste já foi médico ginecologista e fala que ocorrem nascimentos de crianças sem a coluna vertebral e com outras malformações tão graves quanto esta.

Primeiro assistiremos ao nascimento; depois examinaremos o perispírito da criança. Já chegamos à “Maternidade  Assis Chateaubriand” e estamos indo direto para a enfermaria, onde várias mulheres gestantes esperam seus bebês. É uma enfermaria coletiva. Vejo uma jovem de aproximadamente 27 anos, que está para dar à luz a criança que viemos observar. Ela não sabe ainda, pois é de procedência muito pobre e não teve condições de fazer o pré-natal. Estamos acompanhando a jovem na maça. Ela já se encontra em posição de ter o bebê, pois foi trazida quase na hora de parir, para a sala de cirurgia. Observamos um médico e uma enfermeira encarnados, e o nosso instrutor tecendo comentários a um dos alunos que nos acompanhou. Vejo que a bolsa já se rompeu e o bebê começa a nascer. A cabeça dele está saindo agora. Mas ela não é compacta, não possui a rigidez, a solidez das outras… você me entende? É como tênue cartilagem guardando uma porção gelatinosa. Vejo os olhos, o nariz, a boca, mas não tem os ossos cranianos fortes. É uma cartilagem meio transparente.

— Como ele sobreviveu dentro do útero?

— Era necessário que esse Espírito passasse nove meses de gestação vivendo o clima carnal. Os técnicos utilizaram para com ele, de recursos magnéticos e   fluídicos retirados da mãe e deles próprios, que estavam auxiliando no processo reencarnatório, para mantê-lo vivo.

Percebo que o coração dele bate, mas nossos amigos afirmam que ele não sobreviverá mais que quinze minutos. Mesmo nascendo sem cérebro a sua vida uterina foi valiosa, porque modelou uma cabeça. Os ossos cranianos foram plasmados de maneira frágil, e modelaram-se os olhos, o nariz, a boca… Houve a esculturação pela natureza, auxiliada pelos bons Espíritos. Ele foi um suicida que esfacelou a abeça quando atirou no ouvido, fragmentando o cérebro. Não foi possível a ele nem aos técnicos modelar o cérebro, tornando-se urgente o seu reencarne, o que ocorreu quase imediatamente após o seu suicídio. Todavia, havendo sido modelado um novo corpo, isso muito o ajudará no mundo dos Espíritos, porque ele se impregnou de fluidos vitais da mãe, bem como os da matéria densa onde esteve mergulhado. Isso o ajudou; tanto pelo esquecimento temporário do seu problema, quanto pela pressão da matéria orgânica, impulsionando seu perispírito a

obedecer os padrões anatômicos peculiares à espécie. Houve um avanço em sua modelagem, que será aproveitada pelos técnicos para promoverem os reparos cerebrais em definitivo, à medida que ele for despertando. Estes modelarão determinada zona do cérebro, da visão por exemplo, e ele se conscientizará que pode ver. Depois, a parte relativa à audição, ao tato e assim por diante. Mas, o paciente em si, pouco participará da modelagem devido ao seu estado de alienação. Em se tratando de suicidas, alguns até podem ajudar bastante na modelagem de órgãos menos complexos. O cérebro, como tradutor da memória do Espírito, é de tamanha complexidade, que somente os técnicos detêm os conhecimentos específicos para uma modelagem bem sucedida. A ajuda dele portanto será insignificante; podemos até dizer que será a nível inconsciente, à medida que suas lembranças comecem a aflorar. É uma ajuda indireta, não resultante do conhecimento do processo de modelação, mas, pelo desejo de voltar à vida. Podemos agora averiguar as crianças xifópagas. Observaremos sob a ótica espiritual, de vez que pelo lado físico são dois Espíritos distintos ligados por um único intestino, ou seja, mantendo-se vivos ligados um ao outro pelo tronco. Nós os percebemos agora. Essas duas crianças devem ter aproximadamente 3 ou 4 anos de idade. Apresentam o aspecto em que desencarnaram, e ainda permanecem nessa faixa etária por vontade dos técnicos que promoveram a reencarnação. Foram Espíritos rivais nos últimos 3 séculos, onde conviveram em litígio por 4 encarnações, ocasião em que cometeram muitos abusos não se suportando um ao outro. A providência divina então os colocou juntos, nutrindo-se por um mesmo organismo.

— Deixe-me situar-me. Eles nasceram xifópagos. Posteriormente desencarnaram aos 4 anos e continuaram na mesma condição e na mesma idade, por imperativo dos fiadores da reencarnação pela qual passaram, a fim de evitar um despertar das lembranças com consequente reinicio do litígio?

—Sim. É necessário que continuem juntos. Se um deles despertar será pior.

Encontram-se com suas memória adormecidas. Observo que só existe um par de pernas. A outra criança sai do tronco da primeira. É como um Y. Mas vejo no Espírito que sai do tronco, as outras pernas, como sombras que ele não nota.

—É como nos casos dos amputados, onde se nota a presença de uma fôrma?

—Sim. Mas ele não percebe. Pergunto ao instrutor como é o perispírito dessas duas crianças. São dois perispíritos?

—É tal qual um enxerto em vegetais. É como se um deles tivesse sido amputado pelas pernas e sido acoplado no tronco do outro. Ambos são alimentados por um mesmo estômago.

—Para encarnar como procedem os técnicos?

Eles são reduzidos ambos ao mesmo tempo, ficando perispírito interpenetrando perispírito, para nascer nesse formato?

—É como eu falei. Uma acoplagem na fôrma perispiritual. Um deles não tem as pernas do perispírito, mas a sombra que diviso são as pernas do corpo mental. Na hora da redução perispiritual um deles estava amputado, existia apenas o tronco, que foi acoplado à altura do estômago do outro. No renascimento eles utilizaram um  espermatozoide especial, escolhido antes da fecundação. Essa célula reprodutora escolhida fecundou o óvulo, que não se partiu totalmente para gerar gêmeos normais, iniciando a multiplicação celular que deu origem a dois seres imantados um ao outro. No caso dos gêmeos univitelinos essa separação ocorre totalmente culminando em crianças separadas e do mesmo sexo.

Eles vão continuar ligados por algum tempo, e depois os técnicos irão separá-los através de cirurgia. Posteriormente reencarnarão como gêmeos idênticos.

– Quando essa cirurgia for feita, claro que um deles deverá ficar com o estômago e os intestinos. E o outro? Sofrerá um transplante? Uma modelação?

— Nesse caso, a cirurgia trará a mutilação para um deles. Os técnicos utilizarão o corpo mental do mutilado para plasmar os órgãos ausentes. É ainda a modelagem do perispírito tendo como base o corpo mental, a que você já está acostumado a discutir.

NOTA DO  BLOG

Encerrando este segmento  reproduzimos a seguir trecho que faz parte do Capítulo 51 TRAUMAS POR ACIDENTES, –  do supra referido livroque trata de bebês abortados que passaram pela redução perispiritual  e não tiveram condições de retornar ao tamanho natural.

]]>
TRAUMAS POR ACIDENTES – CAP. 51 https://rumoaluz.com.br/traumas-por-acidentes-2/ Sun, 07 Jul 2024 15:15:45 +0000 https://rumoaluz.com.br/?p=770 CAPÍTULO 51

TRAUMAS POR ACIDENTES

(reprodução parcial)

(………………)

Terceira visita.

Encontro-me no interior de uma casa, que em tudo se parece com uma maternidade. Vejo muitos berçários e crianças recém nascidas. Sinto fortes vibrações no ambiente, como se as crianças sofressem e isso repercute em meu Espírito. O instrutor explica que são crianças abortadas.

Esses pequeninos passaram pela redução perispiritual e não tiveram condições de retornar ao tamanho natural. Aqui eles são tratados como recém-nascidos, em incubadoras. Existem crianças abortadas com até seis meses, quando o esquecimento e o aprofundamento do Espírito na matéria, já bem pronunciados, dificultam o seu retorno ao estado anterior ao reencarne. O tipo de aborto e o tempo de gestação, muito contribuem para que a condição de bebê, após o aborto, seja irreversível. Estou observando uma delas. (Coitadinhas! São tão indefesas!) Estou com uma

roupa apropriada, esterilizada, para observá-las. Uso luvas, máscara, bata, gorro e sapatos de pano. Elas devem ficar isoladas o mais possível de nossos fluidos, diz o instrutor. Este pequenino que observo tem entre cinco e seis meses de gestação. Mostra grande deformação no crânio, que apresenta-se perfurado. Chora constantemente, como se estivesse apavorado. Na verdade, relembra o instante em que o seu cérebro foi perfurado pela técnica abortiva.

Ele está me causando um sentimento muito forte de piedade. Também existe uma mutilação em seu braço, que aparenta estar quebrado. Observo os detalhes. Vejo que é um corte; parecido com uma fratura. Esses Espíritos passaram por acidentes, embora que provocados, e não estão em condições de efetuarem suas modelações.

Noto que um dos tratamentos é o passe, que acalma a sensação de pavor. O tratamento básico consta de fluidoterapia e de vibrações amorosas das enfermeiras especializadas. O regime alimentar se reduz a substâncias à base de sucos de legumes e de outro vegetal que desconheço, sendo este utilizado na fabricação de um chá revigorante e ao mesmo tempo calmante. A alimentação é introduzida em seu intestino por uma espécie de sonda. O tratamento é intensivo. Vejo a enfermeira colocar a mão sobre a cabeça de uma delas, que grita convulsivamente. Então ela vai acalmando… acalmando…

 Vamos para uma outra sala onde a criança com o crânio perfurado a que me referi foi transportada. Quatro médicos a examinam e decidem por uma espécie de enxerto, colocando pequeninas porções em sua massa encefálica, em verdadeiro trabalho artesanal. No ferimento do braço, refazem o tecido epitelial. A pele dela é frágil, quase transparente.

Após a superação dessa fase crítica, essas crianças irão crescer normalmente, como as nossas aí na Terra. Relatam então o que lhes aconteceu, na tentativa de afirmação frente à vida, para que possam enfrentá-la com otimismo, sem mágoas ou revanchismo.

(……………….)

]]>
OS BENS DA TERRA E SEUS OBJETIVOS https://rumoaluz.com.br/os-bens-da-terra-e-seus-objetivos/ Sun, 07 Jul 2024 15:04:56 +0000 https://rumoaluz.com.br/?p=762 DA LEI DE CONSERVAÇÃO

ITEM 3 – GOZO DOS BENS TERRENOS

QUESTÕES 711 A 74

Gozo dos bens terrenos

‘’711. O uso dos bens da Terra é um direito de todos os homens?

R. Esse direito é conseqüente da necessidade de viver. Deus não imporia um dever sem dar ao homem o meio de cumpri-lo.”

712. Com que fim pôs Deus atrativos no gozo dos bens materiais?

R.  “Para instigar o homem ao cumprimento da sua missão e para experimentá-lo por meio da tentação.”

a) – Qual o objetivo dessa tentação?

R.  “Desenvolver-lhe a razão, que deve preservá-lo dos excessos.” 

A.K. : Se o homem só fosse instigado a usar dos bens terrenos pela utilidade que têm, sua indiferença houvera talvez comprometido a harmonia do Universo. Deus imprimiu a esse uso o atrativo do prazer, porque assim é o homem impelido ao cumprimento dos desígnios providenciais. Mas, além disso, dando àquele uso esse atrativo, quis Deus também experimentar o homem por meio da tentação, que o arrasta para o abuso, de que deve a razão defendê-lo.

713. Traçou a Natureza limites aos gozos?

 R. “Traçou, para vos indicar o limite do necessário. Mas, pelos vossos excessos, chegais à saciedade e vos punis a vós mesmos.”

714. Que se deve pensar do homem que procura nos excessos de todo gênero o requinte dos gozos?

“Pobre criatura! Mais digna é de lástima que de inveja, pois bem perto está da morte!”

a) – Perto da morte física, ou da morte moral?“      R. De ambas.”

A.K. : O homem, que procura nos excessos de todo gênero o requinte do gozo, coloca-se abaixo do bruto, pois que este sabe deter-se, quando satisfeita a sua necessidade, Abdica da Nrazão que Deus lhe deu por guia e quanto maiores forem seus excessos, tanto maior preponderância confere ele à sua natureza animal sobre a sua natureza espiritual. As doenças, são, ao mesmo tempo, o castigo à transgressão da lei de Deus.

COMENTÁRIO DO BLOG

OS BENS DA TERRA

O CRIADOR LEGOU-OS AO HOMEM E A ESPIRITUALIDADE RECOMENDA  USO  COM BOM SENSO, RESPONSABILIDADE, MODERAÇÃO E SABEDORIA:

OS BENS DA TERRA E SEUS OBJETIVOS

  • O SEXO, PARA  GERAR A VIDA E POVOAR A TERRA.
  • OS ALIMENTOS EM GERAL, PARA MANTER A CRIATURA VIVA E SAUDÁVEL.
  • OS MEDICAMENTOS E DROGAS PARA CURAR DOENÇAS E PROLONGAR A VIDA NA TERRA.
  • O DINHEIRO P/ FORJAR  O PROGRESSO E A EVOLUÇÃO DA HUMANIDADE.

MAS  O LIVRE ARBÍTRIO DO HOMEM DISTORCE TAIS OBJETIVOS E, ESTIMULADO POR OBSESSORES, SE  EXCEDE NO USO DESSES BENS,  TORNANDO-SE UM VICIADO. E QUANDO DESENCARNA, TORNA-SE UM OBSESSOR.

]]>
O PERISPÍRITO FRENTE AO SUICÍDIO https://rumoaluz.com.br/o-perispirito-frente-ao-suicidio/ Tue, 18 Jun 2024 23:10:35 +0000 https://navajowhite-newt-408292.hostingersite.com/?p=307 O PERISPÍRITO FRENTE AO SUICÍDIO

 Livro: ‘’O PERISPIRITO E SUAS MODELAÇÕES’’ de Luiz Gonzaga Pinheiro

(trechos selecionados)

NOTA DO BLOG

Antes de iniciar a reprodução dessa matéria, é importante destacar que boa parte da matéria exposta  neste BLOG sobre o referido  tema tem  raízes fincadas na portentosa obra da literatura espírita, o livro ‘’O PERISPÍRITO E SUAS MODELAÇÕES’’ de Luiz Gonzaga Pinheiro, da EDITORA EME. LUIZ GONZAGA PINHEIRO, um dedicado professor pernambucano estrutura seu relato com base em narrativas de médiuns desdobrados, que visitavam hospitais espirituais, assistindo cirurgias e fazendo entrevistas acompanhados de mentores espirituais.

Porque o termo ‘’modelações’’ ?  Porque,  nesses hospitais, os médicos espirituais, por meio de cirurgias avançadíssimas, procedem a remodelação dos órgãos do  perispírito ou corpo espiritual danificados por ocasião do desencarne em situações as mais variadas e trágicas possíveis. Essa obra destaca o quanto desconhecemos a respeito das   intervenções dos médicos espirituais para literalmente  ‘’reconstruir ‘’ espíritos desencarnados   por meio de  instrumentos que estão séculos à frente  da nossa Medicina terrestre.

Obs.:  www.ebookespirita.org  disponibiliza o conteúdo de domínio público e a propriedade intelectual dessa obra.

Esta referência será reproduzida sinteticamente nas  várias oportunidades nas quais este BLOG apresentar matérias que terão o PERISPÍRITO ou CORPO ESPIRITUAL como foco central das preocupações da Medicina Espiritual, com o objetivo de remodelar seus órgãos. É uma justa homenagem aos médicos espirituais e à LUIZ GONZAGA PINHEIRO e sua equipe de médiuns que nos legaram o precioso livro ‘’O PERISPÍRITO E SUAS MODELAÇÕES’’.

Capítulo   43

O PERISPÍRITO FRENTE AO SUICÍDIO

(disponibilizado por  www.ebookespirita.org )

‘’Eu via por aqui, por ali, estes traduzindo, de quando em quando, em cacoetes nervosos, as ânsias do enforcamento, esforçando-se, com gestos instintivos, altamente emocionantes, por livrarem o pescoço, intumescido e violáceo dos farrapos de cordas ou de panos, que se refletiam nas repercussões perispirituais, em vista das desarmoniosas vibrações mentais que permaneciam torturando-os! Aqueles, indo e vindo como loucos, em correrias espantosas, bradando por socorro em gritos estentóricos, julgando-se de momento a momento, envolvidos em chamas, apavorando-se com o fogo que lhes devorava o corpo físico e que, desde então, ardia sem tréguas nas sensibilidades semimateriais do perispírito! Estes últimos, porém, eu notava serem, geralmente, mulheres. Eis que apareciam outros ainda: o peito ou o ouvido, ou a garganta banhados em sangue, oh! sangue inalterável, permanente, que nada conseguia verdadeiramente fazer desaparecer das sutilezas do físico-espiritual senão a reencarnação expiatória e reparadora! Tais infelizes, além das múltiplas modalidades de penúrias por que se viam atacados, deixavam-se estar preocupados sempre, a tentarem estancar aquele sangue jorrante, ora com as mãos, ora com as vestes ou outra qualquer coisa que supunham ao alcance, sem, no entanto, jamais o conseguirem, pois tratava-se de um deplorável estado mental, que os incomodava e impressionava até o desespero!

Memórias de um Suicida – Psicografia de Yvonne Pereira (Cap. II, pág. 45)

O PERISPÍRITO FRENTE AO SUICÍDIO

  1. 0 VALE DA DOR

Quando o Espírito desencarna, ainda traz consigo fluidos animalizados, bem como determinadas substâncias adquiridas pelo hábito alimentar e toxinas outras em seu perispírito, das quais necessita liberar-se para convivência harmoniosa no novo meio, o qual exigirá do seu organismo um metabolismo menos adensado, embora igualmente complexo. A depender do gênero de vida e de morte, que em última instância são reflexos do estágio moral de cada ser, este poderá passar apenas algumas horas, em região compatível com a densidade do seu perispírito e do seu estado mental, vibratório e moral, desvencilhando–se da vitalidade e demais fluidos anímicos. Cortada a âncora que nos retém às ondas da matéria, encontramos o mar alto da espiritualidade; este é o destino irrevogável de todos. Mas, o porto que cada um encontra depende de como navegou em vida. Por esta razão, há os que passam dias, meses, anos nesse penoso drama, como acontece aos suicidas, o qual geralmente corresponde ao tempo que ele amputou de si mesmo, encurtando o calendário imposto ao seu retorno, para uma programação reencarnatória que trazia o selo do seu compromisso de honra.

Essa diminuição de tempo na matéria quando em caráter culposo, tal é o caso dos viciados, que impõem grande desgaste aos seus fluidos vitais e ao seu perispírito, e dos suicidas, os excluem da espiritualidade propriamente dita, pois não são livres para percorrê-la, limitando-se a região própria, ponto de convergência de mentes atormentadas, que se aglutinam pelo fenômeno da sintonia. Passam então por sofrimentos atrozes, pois que, ao tormento de um, adicionam-se as vibrações dos seus iguais, como se houvesse a repercussão do sofrimento sobre o sofrimento, resultando num somatório, cujo limite ou ponto de albergue, é a loucura completa sem perder a consciência.

Assim é o vale da dor, conhecido como vale dos suicidas. Indescritível pela linguagem humana. Incompreensível em sua essência para aqueles que lá não pernoitaram como vítimas, e que por tal sorte devem agradecer e louvar a Deus a assistência e a proteção. No vale da dor, cada habitante traz os estigmas do sofrimento lancinante e enlouquecedor. São como fantasmas que carregam em seus semblantes, o lodo, a lama das sepulturas, farrapos, coágulos sanguíneos e igualmente, o sangue que jamais cessa de jorrar, movimentando-se sem destino aparente sobre solo pestilento sem vegetação ou flores; sob o céu escuro, como se constantes rolos de fumaça espessa encobrissem o sol. Assustam-se a cada momento ao impacto de cenas de afogamentos, enforcamentos, tachas humanas, estampidos de armas de fogo, esgares, vísceras expostas daqueles que ingeriram o ácido que corrói as entranhas.

É que o suicida, vibrando poderosamente na imagem retida na memória, formada no instante dramático do suicídio, materializa no ambiente, desde a forca na qual se deixou aprisionar o infeliz que nela se mostra com os olhos a saltar das órbitas, ao barulho e estalar de ossos em trituramento sob os comboios, retalhando não apenas o corpo, mas igualmente o perispírito daquele que, como última e verdadeira desgraça da vida, perdeu a esperança e a fé n’Aquele que o criou e ama. Em muitas situações, antes de serem transportados ao vale, o auxílio imediato é subtraído, porque seu desequilíbrio gera absoluta incapacidade de sintonia mental, ficando os amigos espirituais apenas a vigiá-lo em caridosa expectativa.

André Luiz, em seu livro, Missionários da Luz, cita-nos o caso de Raul, que, havendo praticado o suicídio, dissimulando-o sob a farsa de um assassinato, ficou jogado sobre poça de sangue, quando um bando, composto por dezenas de Espíritos delinquentes, dele abusou, vampirizando-lhe os fluidos vitais, deslocando-o para outros sítios, efetuando-se o resgate quando as condições favoreciam o êxito da empreitada.

Por sua vez, Bezerra de Menezes, no livro, Dramas da Obsessão, narrando um caso de obsessão de desfecho suicida, descreve o local onde houvera dois suicídios, estando os dois Espíritos ainda no local da tragédia. Um deles vagava a bradar por socorro, pois despedaçara o crânio com um tiro, e o outro permanecia desmaiado, em coma, devido ao choque brutal do envenenamento, ocorrido há mais de dez meses.

A dor?… Como descrevê-la quando atinge proporções inimagináveis ao desvincular-se da fé e da esperança?

Oh Deus! Inspira aquele que tudo tem de material, ao transeunte absorto, ao religioso, ao indigente, ao solitário, ao contente, ao sofredor, ao poeta, ao romântico a orar por tais irmãos, porque sabemos ser o único auxílio capaz de minorar a dor, balsamizar o sofrimento, suavizar a loucura; para que um dia possa nascer no vale sombrio uma roseira sem que suas rosas sejam imediatamente fulminadas pelas vibrações da dor.

2. A CRISTALIZAÇÃO DO PENSAMENTO

Todo suicida grava de maneira marcante a imagem trágica do seu ato trágico. Estaciona a mente no instante sofrido da fuga, que se constitui em registro da fragilidade de que é dotado frente às suas aflições, para ele intermináveis e superlativas. Essa cristalização da imagem, em muito dificulta todo e qualquer tratamento perispiritual, pois não dá margem a que nenhuma outra motivação lhe sobreponha, desviando o foco do cerne do seu problema.

Como a modelagem perispiritual requer a atuação mental do Espírito, que a mantém ou desfaz, fácil se torna entender por que o suicida é um paciente de difícil tratamento e de torturada aparência. Como terapia básica, os técnicos procedem a tratamentos psicológicos e psiquiátricos com a finalidade de subtrair da mente a cristalização incrustada, obstáculo imediato ao auxílio mental que o enfermo pode prestar a si mesmo.

Vejamos como o médium desdobrado descreve tal ensinamento: Albert manda que eu fixe o olhar demoradamente sobre os órgãos. Estão todos estraçalhados. Não existe o coração. É somente urna porção de carne. Ele diz que esse Espírito vai demorar muitos anos, até que venha a reencarnar. Não há como proceder a urna modelagem agora, porque ele registra muito fortemente o suicídio em sua mente.

Mesmo que a modelagem fosse tentada, a mente dele desorganizaria. Vejo que o instrutor toca a parte encefálica do paciente que observamos. Quando seu dedo atinge determinados pontos cerebrais do perispírito inanimado, pois o Espírito está em coma, uma parte do corpo parece estremecer. Mostra-me em um telão a imagem cristalizada. É como um filme. As imagens do suicídio são sequenciadas, parando bruscamente _no instante fatal do desencarne.

Dizem que essa imagem final é que está cristalizada e que precisa ser removida. Eles apenas quiseram fazer-me uma demonstração. Uma vez que esse Espírito seja despertado e induzido a elevar sua auto-estima, diz Albert, será removido para modelagem de seus órgãos.

  1. SUICIDAS

Para observação de suicidas, os médiuns após o ato do desdobramento muitas vezes eram levados a regiões verdejantes, de oxigenação abundante, e aconselhados a absorver profundamente o magnetismo ambiente, quais mergulhadores que, para adentrarem as regiões oceânicas submersas, fossem submetidos a exercícios de relaxamento, absorção, mentalização e retenção de fluidos vitais em seus organismos.

A parcela suplementar de fluidos absorvidos funcionava a guisa de reserva, pois, adentrando regiões de vibrações hostis, cumpria–lhes manter o equilíbrio, observar com atenção, narrando em detalhes e com fidelidade tudo que lhes fosse mostrado e explicado, tarefa que exigia um esforço redobrado de concentração, em região em tudo desconhecida para eles. Seus corpos perispirituais eram revestidos por roupões isolantes em alguns casos, à semelhança das roupas protetoras contra radiações atômicas, para que as vibrações dos suicidas não lhes causassem desarmonias orgânicas. Recebiam passes reconfortantes e eram amparados (devido à rudeza das cenas) frente a corpos retalhados, objetos de estudos, mas, igualmente, visão macabra a quem os observasse. Tocavam ainda os cadáveres, arguiam, descreviam, pesquisavam, admiravam-se, sentiam repulsa, frente aos restos humanos, mas a tudo se submetiam de boa vontade, porque sabiam do amparo do Cristo, pela nobreza da tarefa que executavam.

A cada encontro, os Espíritos reforçavam o conselho: É preciso estudar mais o corpo humano! O cérebro, os sistemas, a vida! Depois, de quando em vez, eram levados para um mergulho no mar, em cachoeiras, singelo presente e prova de carinho, para quem cumprira o dever com dignidade, sem decepcionar aos amigos ou desgastar a confiança que unia os dois grupos em um mesmo objetivo: o conhecimento.

Assim é que, com imenso respeito pela dor alheia, descrevemos as marcas ulcerosas dos perispíritos dos suicidas.

4. SUICÍDIO POR ARMA DE FOGO

Transcrevemos a narração da médium, para que os detalhes e as particularidades do ambiente fossem mantidos, bem como as palavras originais dos nossos instrutores:

— Os Espíritos nos dizem que vamos a uma região de psicosfera muito densa, com finalidade de observar suicidas que já foram recolhidos do Vale, e cujo gênero de morte foi o petardo fatal da arma de fogo.

Estamos caminhando em uma estrada bastante estreita, em formação indiana, no que me situo no meio da fila. Nesse instante sinto como se o clima começasse a mudar. Assemelha-se a um final de tarde prestes a escurecer. Chegamos a uma espécie de hospital, e um senhor de cabelos grisalhos nos encaminha a uma ampla sala. Aqui existem quatro Espíritos que desencarnaram por suicídio. A localização do tiro que cada um deu em si, encurtando a permanência na carne, foi diferente em cada caso. Tiro no coração, no ouvido, na testa e na garganta, respectivamente. Khrõller coloca a mão em minha cabeça e sinto algo como um revigoramento. Não tenha medo, disse–me. O medo pode afetar a sua observação e a transmissão do quadro. Esses Espíritos encontram-se na mesma condição do instante do desencarne.

Esse Espírito, que você está observando (tiro no ouvido), há quanto tempo desencarnou?

— Há quinze anos. Mas apresenta-se tal qual se infelicitou em tão triste momento. A condição é a mesma. O instrutor diz que ele se encontra em uma espécie de coma, apesar de ter sentido todo o drama comum a esses casos, tal como o efeito da decomposição cadavérica e a repercussão das picadas dos vermes em seu corpo. No entanto, apresenta-se como auto-anestesiado numa tentativa de fuga da realidade. O tiro penetrou o ouvido direito e saiu na região frontal. Observo atentamente sua cabeça. O cérebro está esfacelado; o crânio rachado; as circunvoluções cerebrais por onde passou o projétil estão destruídas; o sangue jorra pelo nariz, ouvido e boca, e todo o seu rosto é uma expressão horrível de pavor.

Os técnicos estão colocando-lhe um aparelho; algo como um capacete, no qual através de fios passam energias retiradas dos vegetais, do fluido universal e deles, técnicos. (Engraçado! Sempre me dizem isso quando se reportam a algum tipo de terapia usada. Deviam detalhar mais. Você não acha?)

Os Espíritos que atuam com essas energias são técnicos especializados nesse tipo de atendimento, e para isso estudaram bastante na Espiritualidade. O instrutor explica que esse paciente, ao reencarnar, terá uma morte prematura, ou simplesmente nascerá morto, por ser portador de um cérebro danificado, havendo a necessidade de uma ou mais existências nessas condições, para que as células especializadas do seu cérebro possam ser modeladas pela ação organizadora do corpo físico. Ele reencarnará breve e apresentará hidrocefalia, vivendo na carne algumas horas ou dias apenas. Na segunda tentativa reencarnatória, ele ainda apresentará lesões em seu cérebro perispiritual, que serão repassadas ao físico sob a forma de doenças mentais, epilepsia, paralisia cerebral ou patologias semelhantes.

— Mas ele tomará conhecimento disso?

Não! O caso dele será semelhante ao de alguém que tomou uma anestesia, fez uma operação, e após esta, recobrando os sentidos, não sabe o que lhe aconteceu. — Os Espíritos não poderiam fazer a modelagem da parte cerebral afetada para que ele reencarnasse em condições de saúde?

 — Tecnicamente sim. Mas, existem regras básicas que impossibilitam esse procedimento.

— Quais?

— A Lei de Causa e Efeito e o problema consciencial do Espírito. Um suicida traz sempre na consciência a lembrança do gesto tresloucado que lhe tirou da arena de lutas necessárias ao seu próprio crescimento. Considera-se, às vezes, um fraco, um covarde, indigno de comiseração. Por mais que seja modelado seu perispírito, a sua consciência irá cobrar, exigir reparo daquilo que foi danificado. Nós, os modeladores (estou repetindo o que ele diz), não podemos interferir na Lei de Causa e Efeito. Apenas amenizamos o sofrimento, obedecendo ao merecimento do Espírito frente às conquistas morais que apresenta.

Jamais poderemos retirar a lesão causada pelo próprio ser em si mesmo, em sã consciência. Só Deus pode modificar esse comportamento. A reencarnação é a forma imediata e mais adequada para a recomposição perispiritual do suicida, onde ele materializará no corpo físico os estigmas que causou a si mesmo. As cirurgias, enxertos e modelagens que efetuamos, possuem a função de organizar, reestruturar o organismo para que, apesar de no futuro o corpo vir a apresentar anormalidades, tenha um funcionamento que possibilite a sua permanência em atividade, como bênção para esse Espírito, embora em muitos casos, uma permanência puramente vegetativa.

Mas, o suicida através do esforço, da boa vontade, do trabalho e da disciplina mostrados na erraticidade, não pode conquistar a dádiva de — corpo físico perfeito pelo que então construiu?

— Depende. Os suicidas involuntários não apresentam no físico, os estigmas, mas quase sempre os carregam em seus perispíritos, como forma de auto-obsessão, dores incuráveis que não encontram resposta na  medicina  terrestre, problemas angustiantes, depressões inexplicáveis, mas que possuem sua gênese na matriz perispiritual.

 Para esses, o exercício do amor ao próximo levado a efeito em tarefas enobrecedoras, o cultivar do otimismo, a oração sincera, a meditação em temas que fortaleçam a fé, o conduzir-se mediado pela disciplina  e a prática da perseverança no Bem, constituirão salutar remédio.

Tal filosofia de vida os libertará dos melancólicos problemas, ou no mínimo, os tornarão reduzidos, microscópicos até, pela observação e participação benéfica na erradicação das dores alheias. Os suicidas voluntários, que danificam o corpo em sã consciência, trazem na matriz perispiritual as lesões que deverão plasmar-se no físico, pois os técnicos em reencarnação traçam seus mapas genéticos, observando a ficha do suicídio em questão. Nessas fichas são anotadas as lesões orgânicas, o gênero de morte, causa do suicídio e demais dados pessoais.

Como regra geral o suicida deve reparar o mal que fez a si, harmonizando-se com o seu corpo, outrora marcado, o que ocorre através de lesões nos órgãos afetados. Isso não quer dizer que jamais ocorra que um suicida receba por mérito um corpo físico aparentemente saudável. Ocorre que, embora o problema físico seja amenizado ou torne-se inexistente, o suicida sempre portará na sua reencarnação imediata uma espécie de reflexo,  um velado pesar na consciência, um indefinido sentimento de culpa em sua intimidade.

Somente o abnegado amor ao trabalho fraterno preencherá tais lacunas e o fortalecerá para a superação das condições que o levaram ao suicídio no  passado, e que, certamente, se apresentarão em semelhança espantosa no presente.

 — Mas, digamos que o suicida reencarnado não corresponda à expectativa de crescimento esperado, o que lhe ocorrerá?

—  O exercício do amor fortalece o Espírito, dotando o perispírito de uma maior resistência fluídica, melhor desempenho energético, diminuindo sua vulnerabilidade frente aos bacilos, vibriões, larvas e petardos mentais de inveja, cólera, ciúme e outras enfermidades.

A oração e o trabalho funcionam como vacinas imunizando e  fortalecendo o perispírito contra fluidos nocivos. No sentido inverso, o Espírito não dispõe da ajuda eficiente dos bons  Espíritos, que dele se afastam. Sua acomodação ou desregramerto provoca uma queda  no tom vibratório do seu perispírito, que passa a operar com baixas parcelas energéticas, tornando-o vulnerável a invasão  microbiana diversificada. É então que, pela imprudência a doença virá. Sendo o amor alimento essencial ao Espírito, aquele que dele não faz uso, debilita-se, e debilitado enfermiça. Agora estamos observando outro caso O suicida que atirou na testa, no centro da região frontal. Vejo como se seu cérebro estivesse em parte vazio. O efeito da bala em seu percurso provocou um derretimento de frontal a parietal. Vejo nitidamente a abertura, como um caminho situado na parte superior do cérebro. Os técnicos estão aplicando passes na região afetada e o suicida ”tão apresenta nenhuma reação às descargas energéticas.

O cérebro que ora observo, encontra–se em diferentes condições do que observei há pouco. No outro, eu vi a massa cinzenta, as circunvoluções, os neurônios… Este se apresenta algo transparente, sem as partes que eu citei. Parece uma fôrma com os detalhes que precisam ser materializados.

Dizem os técnicos que neste caso existe a necessidade de modelação de um novo cérebro para que o Espírito possa manifestar a sua vontade, o que não pode ser feito sem os centros de controle que foram afetados pelo tiro.

Estou vendo acima de sua cabeça cenas confusas. Parece que ele pensa e de imediato desfaz o pensamento. Isso ocorre, diz o instrutor, porque ele desarticulou ou os centros de controle cerebral, não podendo externar adequadamente seus pensamentos. Existe uma dificuldade em fixar o pensamento e de impor a ele uma diretriz, conservando-a. Observo e vejo que é uma mulher. Ela encontra-se aqui há vinte e cinco anos e sua recuperação é muito lenta. A reeducação neste caso ultrapassa o psiquismo, pois a fisiologia também tem que ser exercitada. Como destruiu o centro da visão, vai iniciar por ver sinais, cores, imagens simples; também vai reaprender a falar. Ela se encontra na condição de quem tudo esqueceu, precisando reaprender para então encarnar. Não o fará, todavia, com o vazio no cérebro referente ao dano causado pelo tiro, pois os técnicos promoverão os reparos necessários. Mas, a parte afetada corresponderá no físico a  uma lesão  irreversível, espécie de justaposição de células, inadaptadas para as suas reais funções.

Esse gênero de suicídio pode gerar, por ocasião do reencarne, enfermidades tais como: nascimento prematuro, lesões profundas no cérebro, acarretando surdez, mudez, cegueira, hidrocefalia, idiotia completa, ou mesmo, condições vegetativas de vida. Mostra–me, o instrutor, um cérebro que quase não apresenta circunvoluções cerebrais. É quase todo liso. Como a ministrar urna aula, elucida que as regiões lisas representam as partes afetadas pelo tiro e que por ocasião do reencarne dessa paciente as partes danificadas não lhe obedecerão ao comando. Fala que, embora elas sejam compostas por células vivas, não terão as condições de efetuar o trabalho que lhes competiam realizar. Sugere agora uma pausa para meu refazimento.

5. SUICÍDIO DE GESTANTES

DESDOBRAMENTO DE OUTRO MÉDIUM

Este médico, este senhor que me orienta, diz chamar-se Charles, e pede que eu narre com detalhes e de maneira a não deixar dúvidas, tudo aquilo que me for apresentado. Pergunta-me se li a respeito do suicídio de gestantes, no que se refere à anatomia e fisiologia da gravidez e do feto. Respondo-lhe que não, e ele lamenta, sem, contudo, repreender–me. Afirma que a razão de suas dúvidas (dúvidas do dirigente) não está na complexidade do que eles explicam, mas na maneira como nós transmitimos; em forma sintética, na linguagem telegráfica, sem os detalhes técnicos e5dgidos para uma perfeita assimilação.

Vou ler a placa afixada à porta: Centro Obstétrico Perispiritual, Na mesa de operação, uma jovem desencarnada, e, ao seu lado, alguns médicos e uma senhora já idosa, que acompanha a cena compadecida, mas ao mesmo tempo carinhosa. Essa senhora, explica Charles é uma espécie de tutora da jovem suicida.

Iniciando o parto à semelhança dos praticados em nossos hospitais, vejo que fazem urna incisão para a retirada da criança pelo ventre. Essa jovem, desesperada pelo abandono do namorado, após ingerir várias drogas para provocar o aborto sem lograr êxito, pois a gravidez já se avolumava pelo sexto mês, atirou em sua cabeça. O desprezo que ela sofreu provocou-lhe o primeiro trauma, que afetou o reencarnante. As drogas para o aborto aumentaram-lhe a aflição, até que o tiro veio romper o laço que os unia, permanecendo o perispírito materno, apenas guardando o perispírito reduzido, sendo agora retirado.

Até este momento, o Espírito materno encontra-se desacordado. A criança retirada chora… É curioso! Tudo é feito como se estivéssemos na Terra! A criança é recebida por uma enfermeira. Estamos observando o cérebro da suicida. Ela atirou no ouvido. Houve uma espécie de explosão no cérebro. Os técnicos retiram dele substâncias enegrecidas, devagar e parceladamente, qual se procedessem a uma assepsia, que é seguida de recomposição de neurõnios e fibras. Ao mesmo tempo em que os médicos trabalham, outro técnico faz anotações. (Sempre noto a presença de alguém fazendo anotações na tal ficha cármica),

Na parte superior da ficha está escrito: Homicida e suicida. Segue–se o nome, o nascimento, a data provável em que deveria desencarnar, o volume de forças vitais por ocasião do suicídio, estado mental, grau de instrução, ambiente em que viveu, data, local, gênero de suicídio, órgãos atingidos… Puxa não deixam escapar um detalhe sequer. Todas essa informações serão averiguadas por ocasião do projeto do seu mapa cármico a ser elaborado para futuras encamações.

Vejo agora a retirada de um líquido de um tubo, que tem a função de auxiliar na restauração do cérebro danificado. Ela precisa desejar recobrar os sentidos, mas para isso necessita de um cérebro modelado; caso permanecesse com este danificado, não poderia expressar seus desejos ao recobrar a lucidez. Quando ela despertar ainda sob o trauma do suicídio, tornará conhecimento do que fez. Verá as cenas da cesariana pela qual passou, ficando ciente de que causou a morte do filho, não sendo os prejuízos oriundos do suicídio restritos apenas à sua pessoa. Por essa razão é que os técnicos precisam atuar primeiramente em seu cérebro. O líquido usado possui função aglutinante e modeladora das estruturas cerebrais, atuando sob o impulso do pensamento e da vontade desses abnegados técnicos do mundo espiritual. Aqui também, e isso já está repetitivo (eles dizem que nunca é demais repetir esse fato), no cérebro ficará a marca do que foi lesado, pois, mesmo havendo condições de modelagem de um cérebro perfeito, eles não interferem na lei do carma.

Eles concluem dizendo como será o procedimento junto a esse Espírito, quando ele recobrar a consciência. Eles irão chamar a sua atenção para a cirurgia feita. Ela verá a incisão pelo espelho no teto. Ainda com a mente conturbada, ela enfrentará a realidade a que  se condenou. Será mostrada a sua ligação com o reencarnante frustrado e o instante do seu desenlace.

Vamos agora examinar outro caso. E urna mulher com o ventre muito volumoso. Ela deu dois tiros em si mesma. O primeiro foi na criança que abrigava em seu ventre e o segundo foi em seu coração.

A explicação do instrutor é que são dois Espíritos que se odeiam e que o caso dessa irmã suicida se complicou muito com essa atitude, pois sofre agora a ação odienta daquele que deveria ser seu filho. Este, alojado no ventre, recusa-se a sair, provocando os mais variados distúrbios. Observo uma cena horrível! A criança parece querer rasgar o ventre materno. Ela apresenta a forma de um  pequeno monstro.  (Isso é de assustar!) Os técnicos me orientam para que eu não me impressione, pois vejo apenas projeções mentais desses dois Espíritos que se digladiam, em perfeita sintonia pelo ódio.           

O que estou vendo é a vontade, o pensamento tornado imagem, desse Espírito que não chegou a encarnar. Enfermeiros ministram passes e tudo volta à normalidade. Vejo nesse instante apenas a mulher, com o peito e o ventre sangrando. Ligados a ela existem aparelhos, à semelhança de material hospitalar específico para respiração artificial. Procedem ao parto e recolhem a criança. É um menino. Ele possui uma forma escura, também de criança ao seu lado; pergunto ao instrutor a razão dessa sombra, no que me responde ser uma projeção mental dele que queria permanecer naquela condição para massacrar a invigilante mulher que o atingiu. Ele fixa o pensamento nessa forma infantil, para que seu perispírito continue criança, ligado às entranhas da mãe, para castigá-la.

Apesar da criança já encontrar-se no berçário, os Espíritos não cortaram uma  espécie de fio que a prende à mãe. Esse fio caracteriza a união pelo ódio, nesse caso de obsessão de desencarnado para desencarnado. A criança, que teve o seu perispírito avariado e não tem condições mentais para a modelagem, poderá ser auxiliada. em reuniões mediúnicas, quando estiver apta para tanto. A mãe, duplamente culpada neste episódio, terá que passar por processos de descristalizações de imagens, reeducação mental e fortalecimento moral. Doutrinação para ambos, sem, contudo, tolher-lhes o livre-arbítrio.

Você falou que a criança parecia um pequeno monstro. Explique melhor este fato.

— São deformações perispirituais provocadas pelo seu pensar odiento. Por ocasião do parto vi uma criança normal, mas, observando detalhadamente, percebi que as feições eram monstruosas, talhadas pelas vibrações mentais dele. Diz ainda o instrutor que este é um caso de vampirismo de desencarnado para desencarnado. Esse Espírito que ora obsidia e vampiriza a mãe, se alimenta das vibrações mentais dela, podendo eles, técnicos, promoverem a separação, mas não interferem na vontade de ambos.  Provavelmente nascerão gémeos problemáticos, ou .xifópagos, e que Deus os inspirem na reconciliação, para que os danos não sejam..pesados demais, vergando-lhes os ombros, dificultando a contemplação do alto, finaliza o instrutor.

6. SUICiDIO POR RETALHAÇÃO

Antes do desdobramento da médium, fomos avisados de que o estudo planejado para aquela noite, obedecendo à sequência já estabelecida, seria efetuado com a visita aos irmãos retalhados. Que orássemos e mantivéssemos a vibração elevada, posto que a dor ali no local da visita é algo fora do padrão ao que estávamos acostumados a assistir. Eis, portanto, a descrição da médium, frente aos restos perispirituais dos irmãos a quem chamamos de retalhados:

— Sim! Entendi. Ditar de maneira clara sem procurar envolver–me emocionalmente.

Primeiramente, observo um rapaz de idade entre 25 e 30 anos, que se atirou sob as rodas de um trem em pequena cidade do Interior. A sua situação é lastimável. Foi partido ao meio pela locomotiva, e percebo as partes do seu intestino trituradas; o fígado partido e os ossos moídos. Mas, apesar do seu corpo físico ter sido partido ao meio, em seu perispírito isso não ocorreu. As duas metades encontram-se unidas por leve película que impede essa separação. Aqui, diz o irmão que nos orienta, se faz necessária a remoção de todos os órgãos afetados, sendo que alguns podem ser substituídos por outros já preparados.

— Assim como um transplante?

Sim! Mas essa reposição ou substituição pode ser feita também, utilizando-se técnicas de enxertos nos tecidos lesados. Entretanto, no caso observado, por estar o rapaz alcoolizado durante o suicídio, seus órgãos encontram-se com outros fluidos nocivos, razão pela qual eles optaram por uma total substituição.

Vão retirar todos os órgãos danificados e colocar outros como ocorre em um transplante?

— Isso! Após a recomposição ou modelagem interior, eles procederão a uma cirurgia, semelhante a uma plástica, para unir as metades semi-separadas, unidas apenas pela película que citei.

Encaminhamo-nos para outro suicida. Esse local onde me encontro é um hospital reservado para tratamento de casos graves de suicídio com grandes lesões perispirituais. A condição desse Espírito é a de uma morte aparente, coma prolongado; algo como uma letargia, pois este é na realidade o desejo que predomina em sua consciência, abafando os anseios de vida que são naturais em todas as espécies. Se o suicida se arrepende na hora extrema, o que é comum quando praticado o ato, conserva em sua mente o desejo de voltar a viver, favorecendo o trabalho dos técnicos. Tal não é o caso dos pacientes que observamos. Esse infeliz que está à minha frente, possui cortes profundos em seu corpo. O sangue parece minar dos seus poros, e os pedaços do seu corpo procuram juntar-se sem conseguir recompor a anatomia humana, muito prejudicada pelo comboio. Não há como identificar a fisionomia, visto que ele foi totalmente esmagado. Posso distinguir algumas vísceras que estão expostas e que parecem tremer, no esforço desesperado para o retorno à vida. Será um processo lento de recuperação, diz o instrutor. Esse Espírito ficou consciente no momento em que era estraçalhado na ferragem, e está ciente de que morreu mesmo, embora, quando pequena réstia de lucidez atormentada se lhe apresenta, ele volte a reviver a cena, na qual permanece preso a cristalização demorada. Sem se aperceber de que, pela repetição do fato e a duração do estado angustiante, já lhe teria sido possível morrer mil vezes, continua querendo anular-se em luta desesperada para sair do fundo do poço em que se encontra. Ele não quer viver! Essa é a realidade do momento. O instrutor afirma que o trabalho junto a esses irmãos se reveste de inúmeras dificuldades, pois eles querem continuar mortos, procurando ignorar até mesmo a existência do Espírito. Salienta, todavia, que muitos de nós, encarnados, vamos durante o sono físico ministrar-lhes passes e envolvê-los em preces e vibrações amorosas, constituindo-se essa doação em bálsamo dulcificante para as suas dores. O tratamento inicial nesse caso é o despertar da morte, no que se segue a reeducação mental que propicia a modelagem. Esse tratamento consiste em uma espécie de indução. São despertadas da mente do suicida, cenas dele próprio; momentos alegres que viveu, entes amados, dentre outras. Existem técnicas para isso neste hospital.

Essas cenas motivam a mente para um retorno à vida. Promovem um despertar, embora angustiado, gerando esperanças e desejos de soerguimento. Após essa indução, segue-se o treinamento para a remoção da cena coagulada (sabe que eu não entendo como isso é feito) prolongando-se o tratamento de maneira mais eficiente, pois conta com o desejo do paciente em promover sua cura. Apesar de tudo isso, o trauma do suicídio continuará impresso na mente. Este ninguém consegue retirar, a não ser ele mesmo, através de reencarnações dolorosas. Este irmão, conclui Albert, provavelmente levará a mãe ao desencarne quando tentar mergulhar no corpo denso. Agora, retorno para que o estudo prossiga com outro médium.

7. O SUICÍDIO POR EXPLOSÃO

O suicídio não é um ato impensado e decidido improvisadamente. Existe um planejamento anterior, motivado por uma inadaptação para com a vida, que tem causas na presença de psicoses, na depressão profunda, na perda de valores pessoais, no desejo de punição, na falta de preparo diante das perdas, no isolamento e infelicidade. Às vezes, antecede o suicídio, agitação e ansiedade exageradas e a perda dos quatro apetites: fome, sexo, sono e atividade. Há ainda que considerar o sentimento de culpa que transborda do inconsciente para o consciente, impregnando-o do desejo de autopunição, por não perdoar-se em participação de ações indignas perpetradas em passado reencarnatório.

Isso caracteriza uma auto–obsessão dominadora, culminando com o suicídio induzido, onde existe não raro a participação de terceiros, credores impacientes e desavisados quanto às diretrizes das leis divinas. Em qualquer desses casos, com exceção da loucura, o suicídio tem preparo prévio e decisão inadiável, por força de um raciocínio distorcido, que julga ter a morte o poder de tudo apagar, pulverizar a situação dolorosa, a vergonha, o medo, a vida.

A sobrevivência do Espírito, argumento que a consciência se anima a lembrar, nem sequer é cogitado nesses instantes de loucura. Caso a condição de indestrutibilidade fosse evocada, essa realidade traria inúmeros desdobramentos, e forçoso seria concluir que, na fuga para não se precipitar no abismo interior que o apavora, cairia em despenhadeiro mais profundo e mais íngreme, caso tentasse o suicídio. Quando o suicídio é motivado pela falência material, o seu autor substitui o cobrador de simples títulos por carrasco inflexível, a exigir títulos morais.

O tiro, o laço, o ácido, o veneno, em nada subtrai a dor jii existente; antes, adiciona-lhe material corrosivo, a queimar o mais intimo da sensibilidade, provocando máscaras de pavor. As chagas da cicatrização só surgirão após muitas lágrimas, lavando com o sal da penitência as úlceras da desobediência às leis maiores. Quanto sofrimento evita a lembrança de Deus e a sua coerente interpretação.

Quanto mais intenso o desejo de anular-se, mais o gênero da morte pode ser violento, como se o suicida desejasse desaparecer, sem deixar um traço sequer na face do planeta. Quando a dor e a dificuldade forem tomadas como causas primárias para o crescimento e o amadurecimento espiritual, quando os homens lembrarem o convite de Jesus para buscá-lo, pelo menos quando se sentissem aflitos e sobrecarregados, pois os aliviaria, o suicídio já não ocupará os cenários trágicos dos rincões onde habitamos.

Eis exposta, a dor desses irmãos, na palavra do médium que os observa.

— Estou subindo! Volitamos como se estivéssemos nadando. Estou muito bem amparado por nossos irmãos. Sinto o ar, a temperatura amena, e o instrutor me pede para observar o cenário abaixo. Vejo apenas nuvens, mas noto em minha coluna, na região sacra, um fio muito tênue e elástico que se perde entre as nuvens. Estamos descendo.

Conforme você pediu para observarmos, já não estou mais com a roupa que usava. Visto um traje longo e branco que me deixa perceber do corpo apenas as mãos. Todos nós usamos esse tipo de uniforme nesta excursão. O ar está começando a ficar pesado, dificultando a volitação para todos nós. Pareço estar submerso em uma substância aquosa, que dificulta minha mobilidade. — Chegamos! – Diz o instrutor. Estamos de pé frente a um grande portão e eu aproveito a pausa para perguntar: Onde estamos?

— Em uma região situada acima do sul da Bahia.

— Agora colocam em minha cabeça um capacete e me dão para vestir urna roupa protetora, tal qual as utilizadas por operadores de raios-X.

Essa roupa, diz o instrutor, me protegerá das vibrações altamente prejudiciais que são emitidas pelos suicidas aqui residentes.

— Você pode descrever um pouco as particularidades do local?

— É um lugar bem guarnecido. Aparenta ser um castelo com um fosso que o circunda e que com ele contata através de uma ponte levadiça. Os corredores são longos, e acima das portas existem arcos que tornam a arquitetura agradável. A iluminação é artificial.

— Estava demorando!

— O quê?

— A costumeira recomendação: Narrar com naturalidade e com fidelidade a tudo que observar. (Eles riram da minha brincadeira). O caso que vou narrar… Meu Deus! É horrível! Esse irmão suicidou–se com uma explosão de granada. Quase todo o seu perispírito foi avariado. Ele se encontra sob uma redoma, para que suas vibrações não nos atinjam. Vejo a sua cabeça e nela tudo está fora de lugar. Os olhos, o nariz, a boca… Nada repousa em seu lugar. É como se você tomasse uma foto e a cortasse em pedaços para depois emendar, sem colar as partes nos devidos lugares. Em certas regiões do corpo não existe o tecido muscular. Apenas a fôrma transparente. Parece ter uma fôrma vazia por dentro dele. Os técnicos estão colocando um aparelho em seu cérebro. Desse aparelho sai um fio capilar de cor verde luminoso. Eles trabalham intensamente com essa substância nas modelagens, pois já os tenho visto em várias oportunidades manipulando-a e promovendo reparos em diferentes áreas do perispírito. Esse fio luminoso e plástico promove, com a ajuda do meu ectoplasma, a materialização da ponta do dedo desse Espírito. Gostaria de poder entender esse processo para melhor lhe explicar o que está ocorrendo. Sinto pela minha deficiência.

O tratamento aplicado a este paciente será semelhante ao praticado junto aos retalhados, adianta o instrutor. Modelação de um cérebro, introdução de imagens por indução, retirada da cristalização e reeducação mental.

Recebo a orientação de voltar, para que outro médium prossiga o trabalho.

— Estou em uma sala. Aqui a iluminação não é artificial. A luz que percebo é solar. (Nossas reuniões são noturnas.) É em tudo parecida com urna sala de espera de um hospital. Ao meu lado, uma mulher de aproximadamente 40 anos, roupa branca, parecendo ser médica ou enfermeira. Eu estou vestindo uma roupa esterilizada, com gorro na cabeça, e passo por um processo de esterilização para penetrar na UTI. Essas são informações que ela me pede para passar para você.

Entramos. Observo câmaras, quais incubadoras, que guardam perispíritos de tamanho adulto, cujos donos, os Espíritos, encontram–se adormecidos no interior de cada um deles. Essas incubadoras têm a aparência de um molde físico. Existe o local dos braços, das pernas e da cabeça.

— É em tudo semelhante a uma fôrma humana?

— Sim, mas há uma espécie de vidro por cima. Estou observando. É impressionante! Vejo todos os órgãos funcionando como se houvesse uma pele transparente sobre eles. Mas eu sei que existe um Espírito ali. Percebo sua cabeça. É um homem. Noto inclusive a sua barba. Engraçado! Seus órgãos são todos transparentes.

Existe o colorido dos órgãos?

— Vejo tudo em cores. Sangue vermelho, coração ritmado, vísceras em movimento. É como uma aula de anatomia humana em um laboratório muito avançado. O instrutor aponta os intestinos e me diz para observar com bastante atenção. Vejo os pulmões funcionando quais foles, o esôfago, a glote em movimento de engolir, o fígado, que apresenta ligeiro tremor e os rins em seu trabalho de filtragem de -sangue. Mas… Não! Não acredito.

 — O que aconteceu de tão inusitado para espantá-la ?

— Aquela pele transparente, que me deixava ver os órgãos, parece estar tomando a cor da carne. A pele parece estar sendo formada sob minhas vistas. Vejo nitidamente isso na mão do paciente. A enfermeira que estava comigo na entrada comenta que estou assistindo à reconstituição do perispírito. Que essa demonstração é para que soubéssemos que o perispírito tem todos os órgãos funcionando como o corpo humano. Sangue, hormônios, enzimas, tudo. Vejo artérias, veias, capilares, – como se a minha visão tivesse o poder de penetrar na matéria.

Sobre a incubadora tem um instrumental bastante sofisticado, que não vou tentar descrever para você pois sei que não conseguiria.

A sua função, dizem, é recobrir essa fôrma transparente, com urna substância esverdeada, meio azulada, mais sutil ainda que aquele gás dos letreiros luminosos, no que vai aparecendo, materializando, se é que posso dizer assim, a pele. O que era transparente vai se tornando carne viva. Vejo aparecerem as unhas da mão…

A forma vazia tem todos os desenhos dos órgãos?

— Sim.

E essa substância vai preenchendo?

 — Exato! Vai preenchendo. Por isso tudo aqui é esterilizado. Deve existir uma harmonia de pensamentos por parte dos técnicos, voltados para essa finalidade. Eles são especialistas. Assim como existem especialistas em coração, fígado, nervos, e outros órgãos, esses técnicos se reúnem para esse fim ou seja, recompor um organismo espiritual que foi parcialmente destruído em explosão.

 Agora começo a perceber que a mão já tem a forma de carne. Os técnicos dizem que é um processo demorado. Não existem condições de modelar o corpo de uma só vez, pois o Espírito encontra-se em estado de inconsciência total. Essa situação se assemelha a uma morte aqui no mundo dos Espíritos.

Esse Espírito que você está observando teve o seu perispírito reconstituído?

— Sim! Mas não agora. Ele tinha todos os órgãos formados quando eu cheguei. Os técnicos fizeram urna demonstração para o nosso entendimento. O trabalho foi árduo, pois a explosão reduziu seu  corpo a centenas de pedaços, o mesmo acontecendo com a fôrma, a matéria espiritual.

Você tem certeza que tudo foi reconstituído?

 — Reafirmam os técnicos que sim. Todos os sistemas. O que restou da explosão foi pouca coisa. A partir da fôrma vazia a que chamam de corpo mental, indestrutível diante de qualquer agressão, foi possível a reconstrução do perispírito. O corpo mental funciona. como um molde, tem as mesmas formas das partes do corpo; a mão é como uma luva; cada órgão parece ser a matriz que subordina a modelagem no perispírito. A aparelhagem e os técnicos reunidos modelaram pelo poder da mente, de seus conhecimentos e de suas vontades quase todo o organismo perispiritual.

Dizem que a visita está terminada não esqueçamos as orações pelos suicidas.

 8. SUICÍDIO POR MACERAÇÃO

 Pisar urna flor! Por que alguém pisaria uma flor? Perguntei a mim mesmo enquanto observava um ramo de miosótis no Vale das Flores.

Recordei André Luiz, através de uma de suas frases, elaborada em situação semelhante. “A fixação das paisagens sombrias desacostuma a percepção estética para as visões harmoniosas da Natureza.” E’ verdade!

O suicida sofre urna fixação mental nas telas do pessimismo que vai estreitando o seu caminho e a sua visão, ao mesmo tempo em que agasalha a ideia de evadir-se da situação constrangedora em que se encontra, posto que, tomado de ânsias e íntimo da depressão dominadora que lhe embaça os sentidos, capitula frente ao clamor da vida que o chama, adentrando-se no vigor da morte que o espera. Um instante de observação nas flores, nas nuvens, nos pássaros, traz à lembrança velhos conceitos e frases que nosso coração tem sede de acolher. Pensei no Evangelho: “Vossas almas não estão esquecidas; eu, o divino jardineiro as cultivo no silêncio dos vossos pensamentos; venho instruir e consolar os pobres deserdados. Venho dizer-lhes que elevem a sua resignação ao nível de suas provas, que chorem, porquanto a dor foi sagrada no Jardim das Oliveiras; mas que esperem, pois que também a eles os anjos consoladores lhes- virão enxugar as lágrimas”. Lembrar Jesus na hora crucial significa desfazer o laço do enforcamento, fechar a janela do edifício, desengatilhar a arma, frear o comboio, deslocar o pé, resguardando a flor ameaçada. Sim! Acho que sei por que alguém pisaria uma flor. Por doença, depressão, desespero, indiferença, esquecimento. Esquecimento do Evangelho de Jesus, tão fértil em vida palpitante e em convites à glória da superação de si mesmo.

“Vinde a mim vós que sofreis e que vos achais em aflição e eu vos aliviarei. Aquele que confia nesse chamado jamais tentará o suicídio. Fomos levados a observar irmãos que se lançaram edifício abaixo.

Eis a dor em forma de alfabeto.

— Observo um homem que se lançou de um edifício. Seu corpo é flácido como uma geleia. Ele se encontra sob uma redoma protetora, que ameniza as vibrações que emite, prejudiciais para os outros enfermos. Encimando essa redoma, existe um recipiente parecido com um funil, que recolhe uma espécie de cola branca que nele é despejada por um cilindro que lhe margeia na parte superior. A substância é um pouco pegajosa e gelatinosa. Diz o instrutor que ela é elaborada a partir de vegetais, minerais e do ectoplasma. Complementa que existe um substituto do ectoplasma, elaborado por eles, mas que, no momento, estão utilizando o ectoplasma de todos nós do grupo. Essas substâncias, às quais me reportei, passam por um processo químico e são transformadas no medicamento em questão. Aponta as fórmulas químicas e lamento nada entender dos desenhos e símbolos mostrados. O instrutor toma de pequeno aparelho e coloca em seu interior uma gota da substância a que me referi, projetando-a sobre o fígado do suicida.

 A transformação ocorrida no local é espantosa. Houve uma regeneração, uma recomposição total da parte afetada. Vejo que até a película que recobre o fígado adquiriu tonalidade viva. O aspecto doentio que ele retinha desapareceu por completo. Estão sorrindo de minha admiração. Os enfermeiros falam que esse processo é muito lento, mas que será desta maneira gue todos os órgãos serão modelados,_

Desvio minha atenção para outros aparelhos. Da espécie de funil que funciona como depósito para a substância restauradora, saem vários tubos transparentes muito finos que se ligam a cada órgão do suicida.

Quanto à utilização do ectoplasma dos encarnados, ele lembra que, muitas vezes, torna-se necessário passá-lo por um processo de filtragem, visando a desintoxicá-lo para a segurança de quem o recebe. Essa intoxicação ectoplasmática deve-se ao regime alimentar excessivamente carnívoro, ao uso de alcoólicos, temperos picantes e outros vícios mentais e materiais.  Encerra as observações dizendo que esse irmão terá todo o amparo fraternal a que qualquer enfermo tem direito. E que Deus o ajude a jamais pisar uma flor novamente.

9. SUICÍDIO POR QUEIMADURAS

Quando era criança, nos festejos de São João, queimei a ponta do dedo ao retirar milho da fogueira, no que entrei em convulsivo choro. Não quis mais o milho. Não mais olhei o céu riscado de fogos. Não escutei nem participei do restante das brincadeiras. A dor me isolou da alegria, pois que quase sempre são incompatíveis. Apenas os Espíritos fortes aprendem a conciliar a dor com a alegria, a miséria com a conformação, a provação com a humildade. A válvula de escape da criança é o choro. Mas a do adulto jamais deveria ser o suicídio. Se queimar o dedo é doloroso, o que dizer de queimar todo o corpo? Transformar-se em tocha fumegante, dilacerar as mãos que poderiam plantar sementes, escrever cartas de amor, abençoar a velhice, postar-se em oração, não é um ato típico das maiores loucuras?

Que problema terá tal volume a exigir equacionamento através de dor tão superlativa? A miséria, o orgulho ferido, o abandono, o pesar, que por si só são braseiros para a alma necessitam de mais calor para abrandá-los?

A racionalidade diz que não. Que para sofrer é necessário um motivo muito forte e que para suicidar-se não há motivos. Para grandes feridas, somente o unguento da humildade e da resignação promovem a cicatrização, patrocinada pela paz de espírito. Contudo, quem planeja suicidar-se considera a paz um objetivo inatingível, e um fósforo, material leve e de fácil manuseio.

 Jesus! Se um raio tolhesse essa mão, ela sofreria menos. Lucidez! Ansiosamente aguardamos o teu reinado na Terra, para que homens e mulheres, filhos diletos de Deus, apenas usem o fogo para aquecer seus corpos nas gélidas noites de nevadas invernais. Sem meias palavras a médium me retirou dessa reflexão:

— Não há corno não se enternecer diante de tanta dor. Nosso amigo Albert pede que eu leia a placa que se encontra sobre a porta: Centro de Recuperação de Queimados. Tranquiliza-me para que nada tema e pede-me, como sempre, o máximo de fidelidade na descrição. Estou trajando bata branca, máscara e gorro. Recebo um instrumento parecido com um pequeno martelo, feito de uma substância semelhante à borracha, para que possa bater onde e quando ele mandar. Vejo, dentro de urna incubadora de “vidro”, um perispírito. É o que me dizem, mas eu não estou acreditando. Parece mais um torrão negro. Não possui a forma humana, não tem pelos, e se ele não houvesse dito ser um perispírito, eu jamais acreditaria. Agora ele me diz: “Quando eu começar a tocar esse perispírito com o meu martelo, você deverá fazer a mesma coisa.”

Estou batendo na extremidade do torrão, e dele se desprende um pó enegrecido, muito semelhante ao carvão. Não notei nenhuma reação por parte do Espírito, se é que tem algum aqui aprisionado. Albert me diz para deixar de desconfiança e bater novamente. Desta vez, diz o instrutor, estou atingindo o local que havia sido a cabeça do suicida. Para esse tipo de dano causado ao corpo é necessário uma quase modelação total, posto que aqui pouca coisa é aproveitável.

Vejo agora urna fôrma de aspecto humano, transparente, e diviso em seu interior outras fôrmas vazias aparentando em tudo órgãos humanos. Percebo que cada fôrma representativa de um órgão tem um furo, por onde se liga um cateter pelo qual passará uma substância algo gelatinosa que  irá preencher todas formas.  Logicamente tais fôrmas preenchidas formarão órgãos e sistemas do novo perispírito. É o que me explica o instrutor.

Estou tocando a substância que vai formar os órgãos. É como uma borracha viscosa.  Eu puxo e ela se mostra elástica e flexível. Manuseando com ela, cujo odor é bastante estranho, vejo gue posso  formar o que eu imaginar. Ela é quase transparente, sem a dureza da massa de modelar que nossas crianças usam nas escolas. Observo agora a substância ser introduzida na fôrma que tem o tamanho de um corpo humano. O cheiro é muito forte; uma espécie de vapor aquecido, como uma fumaça, entra em contato com essa substância, tornando-a quase líquida, e vai penetrando pelo orifício de cada órgão, preenchendo assim as fôrmas orgânicas ou fôrmas orgânicas ou fôrmas dos  órgãos. Todo o corpo está sendo formado aos poucos. Mas é tudo idêntico!

— Tem a cor dos órgãos ?

— Ainda não! Quando um órgão se completa, é ligado a uma espécie de fio para que seja ativado. Veja se me entende. Já existem vários órgãos formados, mas estavam inanimados. Quando Albert liga um órgão a esse fio que parte diretamente do perispírito danificado pelo fogo, ele começa a funcionar, qual se tivesse adquirido vitalidade.

Espere um instante. Eu preciso entender bem essa questão. O perispírito ficou praticamente inutilizado com o fogo e os técnicos estão modelando outro com todas as suas minúcias, certo?

— Sim! Nosso instrutor explica que ligado ao torrão existe o Espírito, que é um ser imortal. E como o Espírito está em todo o corpo como Deus está em todo o Universo, do torrão ele pode ativar o órgão correspondente, através de sua vontade. Fala que eu estou observando apenas uma parte do processo. Esse Espírito já está aqui há alguns anos. Esteve longo tempo adormecido pelo choque.

Quando despertou incentivado por induções para um retorno à vida, aos poucos desejou  viver novamente. Sem a ação mental dele esse perispírito formado seria apenas um boneco plástico, e aquele torrão um pedaço de carvão inanimado.

Quando alguém toca esse perispírito carbonizado, o Espírito já desperto sente o toque, embora não possa responder ao mesmo, por não possuir perispírito à altura para lhe conduzir  as emoções materializando-as em gestos concretos. Na recomposição do seu perispírito, o primeiro órgão modelado foi o cérebro, imediatamente ligado ao que fora a parte cerebral do antigo perispírito. Quando isso ocorreu, passei a ver o novo cérebro funcionando, corno se fosse de verdade, com colorido, vitalidade e funcionalidade que caracterizam os cérebros humanos.

Albert pede-me para corrigir: no lugar de “como se fosse de verdade”, colocar “de verdade”. Você está observando a vida, que nunca se extingue, passar para o novo perispírito, enfatiza.

Na realidade os  técnicos modelaram, com a ajuda do corpo mental e da vontade do Espírito, um corpo perispiritual semelhante  ao anterior. Porém, corno o suicida, através do ato que praticou contra si lesou muito do seu corpo, imprimiu nele as deformações que a sua mente atormentada trazia.

É como se o novo corpo formado fosse  algo neutro e o Espirito que dele vai fazer uso, o modela segundo as  impressões mantidas em sua mente.

Por isso, o novo corpo perispirítico apresentará deformações, esculpidas por ele próprio, o suicida. Explicam-me ainda que, quando este Espírito despertou, não podia manifestar-se através do seu perispírito, razão pela qual foi urgente a necessidade de recuperá-lo.

Isso tudo me parece meio mágico. Simples demais.

— Albert diz que Deus fez as coisas simples; o homem é que as complica. Lembra a você um autor francês de sua preferência que diz: “Nascer é simples; viver é simples; então morrer deve ser simples.” Diz que você pode adicionar: “Reviver também é simples.” Por outro lado, o Espírito quando passa de um mundo para outro troca de substância perispirítica  com a rapidez de um raio. Chamaria a isso de mágica?

Mas, e aquela história de memória biológica armazenada no perispírito?

Não esqueça de que o molde foi formado a partir do corpo mental que é indestrutível. Por fim, o instrutor afirma que esse Espírito ao encarnar poderá e deverá nascer totalmente deformado, não atingindo nem mesmo a forma humana; algo como um mioma, um quisto  acoplado ao útero.

Poderá ainda portar urna doença muito séria e de caráter incurável na pele, tal corno  a hanseníase. Mas será uma hanseníase profunda, que venha a atingir ate mesmo os órgãos internos. Além da hanseníase, ele poderá também ser um deficiente mental, pelo prejuízo causado ao complexo cerebral. Os amigos me abraçam e nos despedimos. Lanço um último olhar para o torrão. Oro baixinho. Que Jesus lhe conceda a paz de um recomeço equilibrado, no inverno de solidão e amarguras que deverá enfrentar.

10. SUICÍDIO POR ENFORCAMENTO

Tenho conversado com dezenas de irmãos que utilizaram o método do enforcamento corno tentativa de fuga da vida. Nas reuniões mediúnicas, causam imensa sufocação nos médiuns que os acolhem, no que se esforçam para afrouxar o laço que os asfixia. Apresentam-se aos videntes com manchas violáceas ao pescoço, portando o laço sufocante, trajes rotos, onde bem se caracteriza a alienação mental de que sofrem, pois que observam a própria cena do suicídio, quais se fossem espectadores de um filme colorido em constante exibição a lhes retratar a desgraça. E quando por sugestão ou indução, auxiliados por passes magnéticos e preces em vibração amorosa, lhes afrouxam os laços, é que se ouvem sons roucos, desesperados, no que são postos a dormir o agitado sono do remorso e do arrependimento. A presença de um suicida em uma reunião mediúnica é breve e sofrida. Quando a dor que ele porta é lancinante, vem protegido por uma redoma para não disseminar mal-estar a quem dele se aproxime. É levado a hospitais, centros de modelagem e educação mental, a ouvir dezenas de palestras sobre o suicídio e a valorização da vida, a rever sua existência e seus atos, ao exercício continuo do fortalecimento da fé na tentativa de busca da paz de consciência através do trabalho e do estudo de si mesmo. Entretanto ele lesou seu perispírito. As consequências surgirão invariavelmente no futuro corpo carnal, sob a forma de gibosidade acentuada, artrose cervical, ou uma doença relacionada aos órgãos lesados. Anomalias respiratórias ou vocais serão registradas, caso haja comprometimento da glote e da laringe. Todavia, legiões de Espíritos benfeitores se dedicam a aliviar os sofrimentos desses depressivos companheiros.

Aqueles que já foram suicidas e que se elevaram aos planos mais altos, fazem questão de se engajarem em tarefas salvacionistas a favor desse gênero de “loucura” que é o suicídio. Para ilustrar nosso estudo, os companheiros espirituais nos trouxeram Eládio, ex-suicida, e agora trabalhador no plano espiritual junto àqueles que corno ele, sofreram a lâmina aguda da dor inconsolável de se sentir fugitivo da vida. Eis o emocionante relato do nosso amigo:

— Que Nosso Senhor Jesus Cristo nos dê a paz! Fico muito grato em estar aqui, junto a este grupo de estudos, para dar o meu testemunho, o meu depoimento, como ilustração para este livro que já é tão comentado aqui pelos Espíritos amigos. Ainda apresento leve falta de ar, mas posso perfeitamente narrar meu drama, sem causar maiores danos à minha constituição perispiritual.

Eu me chamo Eládio. Estou aqui há meio século. Quando em vida no corpo físico, tinha uma arte. Era pintor. Ainda o sou. Trago na minha memória as telas, nas quais eu lançava toda a emoção que abrigava em minha alma de rejeitado. Há muitos anos atrás eu perdi a pessoa que mais amava e não suportei a separação. Achei que nunca mais iria encontrar alguém que me completasse, e deixei a depressão, monstro devorador, se apoderar de mim, perdendo o ânimo para o trabalho, os amigos, a vida. Certo dia, quando me encontrava com pneumonia, foi se acercando de mim a infeliz ideia de fugir daquele sofrimento que me dominava. Perguntei a mim mesmo: Por que não acabar com tudo isso agora? Primeiro desenhei e pintei. Pintei aquele rosto que eu amava tanto. Mas, na tela, eu coloquei uma mancha escura no pescoço, dando a impressão de que era um colar; mas aquilo retratava o que eu estava pensando. Comprei a corda, prendi a um dos caibros e lá tirei minha vida.

Acordei com o corpo podre. Gritava desesperado porque me faltava o ar. Aquela cena macabra. Eu estava de frente para mim mesmo. Estava me olhando. A corda distendera-se um pouco e o corpo deslizava. Era como se eu, com as minhas próprias mãos, me apoiasse no chão. Passaram-se seis dias. Todas as cenas mais degradantes que um ser humano pode sentir, eu suportei. Desculpe-me por não detalhar mais, pois tudo me volta à mente agora. Mas, não se preocupe. Eu me preparei. Eu me fortaleci. Fui orientado para esse depoimento e estou amparado por muitos amigos.

De repente, eu não me encontrava mais naquela casa. Estava entre multidão terrível; todos agiam como loucos, e eu trazia uma corda atada ao pescoço. Tinha o pescoço inchado, os olhos esbugalhados, a asfixia interminável. Eu não podia respirar nem falar. Pensava: devo estar no inferno. As minhas roupas eram semelhantes às daquele cadáver que fora obrigado a ver durante seis dias. Passei os maiores sofrimentos. Fui banido. Não via a luz do sol e nem sabia onde me encontrava. E sempre trazendo aquela corda no pescoço, que eu não conseguia tirar. As mãos estavam livres, mas não conseguia, por maior esforço fizesse, tirar aquela corda do pescoço. Dizem que nos acostumamos à dor. Mas isso não aconteceu comigo. Cada vez mais

aquela corda apertava e cada vez mais eu sentia a falta de ar.

Passei quinze anos nesse sofrimento. Dia após dia; hora após hora; minuto após minuto. Sempre a mesma cena. Sempre!

— Você não dormia?

— Não! Nunca. Eu não sabia quando era dia ou noite. O tempo era sempre o mesmo. Escuro e desesperador. Eu não podia falar. Urrava! Como pode um Espírito cair em urna situação tão degradante? Após esses quinze anos, um dia, alguém pegou na minha mão. Eu não sabia mais quem eu era, qual o meu nome, o que tinha acontecido. Mas alguém me segurou pela mão e me levou para dentro de um carro, como se fosse puxado por animais. Fomos cinco ou seis dentro desse carro, a um local onde pela primeira vez, desde longo tempo, no meio da estrada, os meus olhos ficaram doendo por causa da claridade do sol. Eu quis gritar! Gritar por aquele sol. Mas, da minha garganta só saíam urros.

Fui levado a um hospital e durante cinco anos estive em tratamento, quando os Espíritos amigos de tudo fizeram para que eu conseguisse desatar o nó. — Mas não havia corda. Era somente o efeito dela que você sentia, não?

 — Agora eu sei que era assim.

— Quer dizer que você ainda por cinco anos sentiu a corda lhe tirando o ar?

— Sim! Só que de maneira mais suave. Eu via a corda. Os amigos me diziam: Eládio! Você não tem mais a corda em seu pescoço. Então eu pegava no pescoço, e realmente não existia a corda. Mas quando eles saíam, voltava tudo, e eu continuava a ver e a sentir a corda.

Passei por regressão de memória. Lembrei do meu nome e revi a minha última existência. Fiz terapia intensiva. Deram-me telas para que eu voltasse a pintar, mas durante os cinco anos nesse hospital de isolamento, eu sempre vi a corda em meu pescoço. Lesei meu perispírito. As células do meu pescoço ficaram danificadas. A corda deixou uma cicatriz profunda, para que eu não pudesse esquecer o meu ato impensado.

Em alguns momentos naquele hospital, eu sentia que podia ter uma esperança de voltar à vida. Em outros, eu caía em depressão profunda. Quando isso acontecia, era como se minha mente voltasse no tempo, e eu sentia todo o peso do corpo despencando sobre a corda. Agora faço parte do trabalho de enfermagem e auxilio alguns irmãos que passaram por essa minha prova. Sei que em breve deverei encarnar. Terei problemas vinculados à garganta, à faringe, problemas asmáticos, e talvez tenha que passar pela prova do abandono, da solidão, para testar a minha resistência. Agora eu estou me sentindo aliviado e gostaria de ficar ao seu dispor para suas perguntas e dúvidas. — Eu quero lhe dizer, Eládio, que agradeço muito  seu depoimento, e que não vou fazer indagações sobre a sua dor. Gostaria muito que você soubesse que durante o nosso minuto dedicado aos suicidas, vou me lembrar de você com muito carinho.

— Amigo! Posso lhe chamar assim? Que minuto longo! Eu vou lhe contar o que acontece nesse minuto nos hospitais onde se recolhem os suicidas. Quando se aproxima o horário da reunião da terça e da sexta, soa um alarme em todas as enfermarias. Naquelas em que os suicidas ficam juntos, e em outras que são isolados em câmaras acolchoadas, devido à vibração prejudicial aos demais. Então, amigo, naquela hora, é corno se estivéssemos famintos, muito famintos, e alguém chegasse e nos dissesse: Meus irmãos! Tomem a comida. Comam e se saciem. É o minuto mais esperado por todos. Todos, sem exceção de nenhum. Soa urna campainha e urna luz se acende. Então um painel grande… desculpe! Mas é muito emocionante ter que narrar isto. Mas, você precisa saber. E aquele painel luminoso, no momento em que você fala aquelas palavras, elas aparecem luminosas em cada enfermaria, e desse painel saem verdadeiras gotas de luz que encharcam nossos perispíritos provocando o alívio de que tanto somos carentes. É um momento sublime para o suicida. Amigo, muitos se recuperam de crises, inclusive eu, pela ternura daquele momento. É muito bom saber que somos lembrados. Eu os tenho visto comentar uns com os outros: será que o meu nome está no caderno? Vão lá, por favor! Levem o meu nome para que orem por mim. Mas nós sempre respondemos: os nomes de todos vocês estão no caderno. Todos vocês recebem igualmente, porque o minuto é para todos os suicidas, mesmo aqueles cujos nomes perderam-se na lembrança dos amigos e na poeira do tempo. (Antes das reuniões de desobsessão nos dedicamos um minuto de prece para os suicidas, ocasião em que oramos o Salmo 23 (Nota G. E.: Salmo 23 O Senhor é o meu pastor; e nada me faltará. … )   Ainda não sei a data precisa quando reencarnarei. Mas tenho um consolo desde já. Os amigos espirituais me disseram que eu vou nascer num lar e que essa doutrina vai ajudar-me a superar as minhas crises existenciais. Agradeço a oportunidade e espero que o meu depoimento sirva como depoimento a velhos e jovens que venham a ler o seu livro e que agasalham tendências ao suicídio.

Que todos saibam que ele é a maior infração à lei de Deus. Aquela em que nós, suicidas, sentimos o peso da sua mão, visto que somos infratores. Deus é perfeito; é justiça e misericórdia; e nós não ternos o direito de fugir de Suas leis, que às vezes, tão mal interpretamos. Na hora em que nos reconhecemos suicidas, nos sentimos órfãos de Deus. Sentimo-nos como renegados. Contudo, Deus dá sempre novas oportunidades, porque sabe que somos egoístas, e ainda não compreendemos a sua paternidade para conosco. Achamos que somos por Ele abandonados. Mas agora, amigo, entendo perfeitamente o que é o amor de Deus, o perdão e a reparação da falta cometida.

Espero que o Pai nos ampare, e agradeço sinceramente a paciência de vocês para com o meu desabafo. Por mim sinto que cresci, pois fui útil nesse seu trabalho.

Até um dia, amigo. Deus nos abençoe sempre.

Após o depoimento de Eládio, um médium, através de desdobramento, foi levado a um hospital de atendimento a suicidas por enforcamento, para observação perispiritual. Vejamos a narrativa:

 — Estamos em um hospital (Acho que vou ficar especialista em hospitais). Comigo estão dois amigos, e estamos nos deslocando em um corredor muito comprido. Um dos companheiros é o médico que sempre me acompanha e que descreve os fatos que sou levado a presenciar. O outro é o nosso amigo Richard. De um lado do hospital, observo Espíritos que possuem a cabeça quase separada do corpo. O pescoço é alongado e fino, assim como se houvesse um garrote provocando um estrangulamento ao meio, motivando grande sufocação. Do outro lado da enfermaria, outros Espíritos que já ultrapassaram esse estágio de deformação, pois são mais antigos aqui, portando, no entanto, estigmas variados que lhes acusam o mesmo gênero de suicídio. Alguns apresentam acentuado aumento na tireóide. Outros, com aquela doença em que os olhos crescem no sentido exterior, ficando quase a saltar das órbitas, avermelhados e espantados. Outros, ainda, são deficientes da fala, da audição ou da visão. Eu falo com eles, e eles fazem sinais com as mãos, como a querer expressar sua mudez ou surdez. Richard explica-me que todos foram suicidas por enforcamento. Ele pergunta se você deseja saber como é feito o tratamento dessa deformidade perispiritual, já que em alguns casos a cabeça encontra-se quase separada do corpo. ´

— Gostaria sim.

— Ele começa a descrever perguntando qual seria a sensação que você sentiria, se torcesse o pescoço de uma galinha até separar. Pede que você pense nessa comparação. No suicídio, a corda aperta por um tempo mais elástico e a uma pressão bem maior. Existe quase uma separação da estrutura espinhal. Contudo, isso não se concretiza em nível perispiritual. Existe um estiramento, como se a espinha fosse elástica; dai a observação que fiz, comparando o pescoço a uma bexiga esticada, sem, no entanto, ocorrer à ruptura.

Para o tratamento, ele chama a atenção para um aparelho muito semelhante a uma máquina de raios X do tórax. Ele vai fazer uma demonstração. O Espírito já se encontra na maca e ele vai começar o manuseio do aparelho. Coloca o instrumento no sentido do pescoço afetado, mirando no ponto onde existe o estrangulamento. O aparelho emite um raio parecido com o laser. O tratamento, elucida, é um pouco parecido com a radioterapia ou cobaltoterapia, aplicadas em células cancerosas. As células danificadas são tratadas por esse processo aqui observado, notadamente os neurônios e as partes mais finas que compõem os tecidos, camada por camada. Os raios penetram em cada camada, normalizando o tecido perispiritual que não foi destruído, ou seja, apenas danificado, machucado, elastecido. Aqui ocorre o mesmo quando uma pancada gera um hematoma no corpo físico. O tratamento é centralizado no sentido de dissolver o coágulo, fazendo o sangue circular normalmente.

 — Pergunta se você tem dúvidas.

Só tenho! Não quanto à recuperação dos tecidos perispirituais, mas sobre o alongamento do pescoço. Como ele volta ao normal?

— Não é necessária urna recomposição, pois não rompeu a estrutura óssea. Apenas marcou. Os técnicos não interferem. Apenas neutralizam o alongamento. Surgirão para o suicida, as consequências decorrentes da intensidade das lesões que ele causou a si próprio. Estas podem aflorar desde a forma de problemas na coluna até a asma em sua persistência aguda. São frutos que devem ser colhidos, diz ele.

– E quanto aos fluidos? A obtenção, o manuseio, como é feito?

 — O laboratório possui o material de recolher, estacar e combinar segundo as fórmulas químicas conhecidas pelos técnicos. Para nós, Espíritos, isso não constitui dificuldade. Vamos aos locais de coleta, os estocamos em tubos de ensaio e operamos com eles, como o químico manuseia as substâncias químicas entre vocês. Para fluidificar a água nas reuniões espiritas, tornando-a medicamentosa, apenas introduzimos o fluido entre suas moléculas, à temperatura ambiente, ou seja, no estado líquido, onde a força de coesão dessas moléculas é mais ou menos igual à força de repulsão, facilitando o ingresso de um maior volume fluídico e urna melhor disseminação também fluídica, tornando-a saturada e vitalizada.

 — Poderia nos fornecer uma ideia mais clara quanto à obtenção e manipulação desses fluidos?

— A Natureza é um verdadeiro laboratório. Pense assim: a molécula da água é composta por dois átomos de Hidrogênio e um de Oxigênio. Utilizando um voltâmetro, podemos decompor ou separar a água nos dois elementos citados, ou seja, Hidrogênio para um lado e Oxigênio para o outro. O fluido cósmico unido ao fluido vital pode ser comparado à água. Os técnicos separam o fluido vital do fluido cósmico, como os químicos separam os elementos das misturas. Recolhem também substâncias dos vegetais e modificam, com o poder mental de que são dotados, as características de urna infinidade de fluidos existentes na Natureza. Ele não tem condições, informa, de se estender mais sobre a intimidade do fluido universal, por desconhecer os detalhes de como Deus o criou.

Quando Deus cria um planeta qualquer, já existia anteriormente naquele espaço o fluido cósmico universal, que modificado, passa a ser próprio e particular daquele planeta. A diversidade de variações e de formas de cada vegetal e de cada animal já existe em germe nesse fluido. Cada elemento químico, todo um tratado de Física, Química, Biologia e demais ciências com suas leis podem ser materializados mediante a atuação dos Espíritos superiores, operando neste fluido com o poder do pensamento, o concurso do tempo e da inteligência.

]]>
Memórias de um suicida https://rumoaluz.com.br/memorias-de-um-suicida/ Tue, 18 Jun 2024 23:06:54 +0000 https://navajowhite-newt-408292.hostingersite.com/?p=304 Reprodução parcial do livro: “Memórias de um suicida’’ – Espírito: Camilo Castelo Branco – Psicografado por Yvonne Pereira

Dpto. Editorial da Federação Espírita Brasileira

19ª edição – 1995

Alguns trechos dos Capítulos   I a III

Nota do  BLOG:

BREVE BIOGRAFIA DO AUTOR :

Camilo Castelo Branco foi um escritor português, romancista, cronista, crítico, dramaturgo, historiador, poeta e tradutor. Filho de uma pequena família burguesa, nasceu em Lisboa no dia 16 de março de 1825. Representante do segundo momento do Romantismo português, Camilo Castelo Branco figura entre os mais importantes escritores da literatura portuguesa. A vida atribulada serviu de tema para sua obra, que conquistou o público e permitiu que Camilo Castelo Branco vivesse exclusivamente do trabalho de escritor, (………..).  A instabilidade psicológica e a volubilidade sentimental, principais características de sua personalidade, foram responsáveis pela formação de seu mundo ficcional.  A obra de Camilo Castelo Branco é predominantemente romântica (……..) influenciado pelo estilo de Almeida Garrett, grande entusiasta do teatro português e uma das maiores figuras do romantismo, além de ter sido leitor de Ann Radcliffe, escritora inglesa pioneira do romance gótico, daí o gosto por temas soturnos e fúnebres.  (…………..)  foi hábil narrador de histórias românticas ou romanescas, aliando as peripécias quase rocambolescas de suas novelas a explicações psicológicas, sempre contido pela tradição literária e pelos cânones clássicos. (…..)

Camilo Castelo Branco viveu cercado de problemas e no fim da vida estava quase cego (em consequência de uma sífilis) e os dois filhos que tivera com Ana Palácios – um tinha problemas mentais e o outro era rebelde – que lhe causaram muitos sofrimentos. Não suportando todos os abatimentos, Camilo suicida-se com um tiro de pistola.

“Memórias de um suicida’’

PRIMEIRA PARTE

OS RÉPROBOS

(Nota do  BLOG :  réprobo: aquele que foi banido da sociedade)

CAPITULO I

O Vale dos Suicidas

                           ‘’Precisamente no mês de janeiro do ano da graça de 1891, fora eu surpreendido com meu aprisionamento em região do Mundo Invisível cujo desolador panorama era composto por vales profundos, a que as sombras presidiam : gargantas sinuosas e cavernas sinistras, no interior das quais uivavam, quais maltas de demônios enfurecidos, Espíritos que foram homens, dementados pela intensidade e estranheza, verdadeiramente inconcebíveis, dos sofrimentos que os martirizavam. Nessa paragem aflitiva a vista torturada do grilheta não distinguiria sequer o doce vulto de um arvoredo que testemunhasse suas horas de desesperação; tampouco paisagens confortativas, que pudessem distrai-lo da contemplação cansativa dessas gargantas onde não penetrava outra forma de vida que não a traduzida pelo supremo horror ! O solo, coberto de matérias enegrecidas e fétidas, lembrando a fuligem, era imundo, pastoso, escorregadio, repugnante ! O ar pesadíssimo, asfixiante, gelado, enoitado por bulcões ameaçadores como se eternas tempestades rugissem em torno; e, ao respirarem-no, os Espíritos ali ergastulados (Nota do BLOG  ergastulados: encarcerados) sufocavam-se como se matérias pulverizadas, nocivas mais do que a cinza e a cal, lhes invadissem as vias respiratórias, martirizando-os com suplício inconcebível ao cérebro humano habituado às gloriosas claridades do Sol — dádiva celeste que diariamente abençoa a Terra — e às correntes vivificadoras dos ventos sadios que tonificam a organização física dos seus habitantes. Não havia então ali, como não haverá jamais, nem paz, nem consolo, nem esperança: tudo em seu âmbito marcado pela desgraça era miséria, assombro, desespero e horror. Dir-se-ia a caverna tétrica do Incompreensível, indescritível a rigor até mesmo por um Espírito que sofresse a penalidade de habitá-la.

                           (…………………………..)    

                            Mas na caverna onde padeci o martírio que me surpreendeu além do túmulo, nada disso havia! Aqui, era a dor que nada consola, a desgraça que nenhum favor ameniza, a tragédia que idéia alguma tranquilizadora vem orvalhar de esperança! Não há céu, não há luz, não há sol, não há perfume, não há tréguas! O que há é o choro convulso e inconsolável dos condenados que nunca se harmonizam! O assombroso “ranger de dentes” da advertência prudente e sábia do sábio Mestre de Nazaré! A blasfêmia acintosa do réprobo a se acusar a cada novo rebate da mente flagelada pelas recordações penosas! A loucura inalterável de consciências contundidas pelo vergastar infame dos remorsos! O que há é a raiva envenenada daquele que já não pode chorar, porque ficou exausto sob o excesso das lágrimas! O que há é o desaponto, a surpresa aterradora daquele que se sente vivo a despeito de se haver arrojado na morte! Ë a revolta, a praga, o insulto, o ulular de corações que o percutir monstruoso da expiação transformou em feras! O que há é a consciência conflagrada, a alma ofendida pela imprudência das ações cometidas, a mente revolucionada, as faculdades espirituais envolvidas nas trevas oriundas de si mesma! O que há é o “ranger de dentes nas trevas exteriores” de um presídio criado pelo crime, votado ao martírio e consagrado à emenda! É o inferno, na mais hedionda e dramática exposição, porque, além do mais, existem cenas repulsivas de animalidade, práticas abjetas dos mais sórdidos instintos, as quais eu me pejaria de revelar aos meus irmãos, os homens! Quem ali temporariamente estaciona, coma eu estacionei, são grandes vultos do crime! Ë a escória do mundo espiritual — falanges de suicidas que periodicamente para seus canais afluem levadas pelo turbilhão das desgraças em que se enredaram, a se despojarem das forças vitais que se encontram, geralmente intactas, revestindo-lhes os envoltórios físico-espirituais, por sequências sacrílegas do suicídio, e provindas, preferentemente, de Portugal, da Espanha, do Brasil e colônias portuguesas da África, infelizes carentes do auxílio confortativo da prece; aqueles, levianos e inconsequentes, que, fartos da vida que não quiseram compreender, se aventuraram ao Desconhecido, em procura do Olvido, pelos despenhadeiros da Morte! O Além-túmulo acha-se longe de ser a abstração que na Terra se supõe, ou as regiões paradisíacas fáceis de conquistar com algumas poucas fórmulas inexpressivas. Ele é, antes, simplesmente a Vida Real, e o que encontramos ao penetrar suas regiões é Vida! Vida intensa a se desdobrar em modalidades infinitas de expressão, sabiamente dividida em continentes e falanges como a Terra o é em nações e raças; dispondo de organizações sociais e educativas modelares, a servirem de padrão para o progresso da Humanidade. É no Invisível, mais do que em mundos planetários, que as criaturas humanas colhem inspiração para os progressos que lentamente aplicam no orbe. Não sei corno decorrerão os trabalhos correcionais para suicidas nos demais núcleos ou colónias espirituais destinadas aos mesmos fins e que se desdobrarão sob céus portugueses. espanhóis e seus derivados. Sei apenas é que fiz parte  de sinistra falange detida, por efeito natural e lógico. nessa paragem horrenda cuja lembrança ainda hoje me repugna à sensibilidade. É bem possível que haja quem ponha a discussões mordazes a veracidade do que vai descrito nestas páginas. Dirão que a fantasia mórbida de um inconsciente exausto de assimilar Dante terá produzido por conta própria a exposição aqui ventilada esquecendo-se de que, ao contrário, o vate florentino é que conheceria o que o presente século sente dificuldades em aceitar …  Não os convidarei a crer. Não é assunto que se imponha à crença, mas ao raciocínio, ao exame, à investigação.  Se sabem raciocinar e podem investigar – que o façam, e chegarão a conclusões lógicas que os colocarão na pista de verdades assaz interessantes para toda a espécie humana! O a que os convido, o que ardentemente desejo e para que tenho todo o interesse em pugnar, é que se eximam de conhecer essa realidade através dos canais trevosos a que me expus, dando-me ao suIcídio por desobrigar-me da advertência de que a morte nada mais é do que a verdadeira forma de existir! … De outro modo, que pretenderia o leitor existisse nas camadas invisíveis que contornam os mundos ou planetas, senão a matriz de tudo quanto neles se reflete ? !… Em nenhuma parte se encontraria a abstração, ou o nada, pois que semelhantes vocábulos são inexpressivos no Universo criado e regido por uma Inteligência Onipotente! Negar o que se desconhece, por se não encontrar à altura de compreender o que se nega, é insânia incompatível com os dias atuais. O século convida o homem à investigação e ao livre exame, porque a Ciência nas suas múltiplas manifestações vem provando a inexatidão do impossível dentro do seu cada vez mais dilatado raio de ação. E as provas da realidade dos continentes superterrenos encontram-se nos arcanos das ciências psíquicas transcendentais, às quais o homem há ligado muito relativa importância até hoje. (………..). Era eu, pois, presidiário dessa cova ominosa do horror! Não habitava, porém, ali sozinho. Acompanhava–me uma coletividade, falange extensa de delinquentes, como eu. Então ainda me sentia cego.   

                            Pelo menos, sugestionava-me de que o era, e, como tal, me conservava, não obstante minha cegueira só se definir, em verdade, pela inferioridade moral do Espírito distanciado da Luz . A mim cego não passaria, contudo, despercebido o que se apresentasse mau, feio, sinistro, imoral, obsceno, pois conservavam meus olhos visão bastante para toda essa escória contemplar — agravando-se destarte a minha desdita. Dotado de grande sensibilidade, para maior mal tinha-a agora como superexcitada, o que me levava a experimentar também os sofrimentos dos outros mártires meus compares, fenômeno esse ocasionado pelas correntes mentais que se desejavam sobre toda a falange e oriundas dela. própria, que assim realizava impressionante afinidade de classe, o que é o mesmo que asseverar que sofríamos também as sugestões dos sofrimentos uns dos outros, além das insídias a que nos submetiam os nossos próprios sofrimentos. (1)

1) Após a morte, antes que o Espírito se oriente, gravitando para o verdadeiro “lar espiritual” que lhe cabe, será sempre necessário o estágio numa “antecâmara”, numa região cuja densidade e aflitivas configurações locais corresponderão aos estados vibratórios e mentais do recém-desencarnado. Ai se deterá até que seja naturalmente “desanimalizado”, isto é, que se desfaça dos fluidos e forças vitais de que são impregnados todos os corpos materiais. Por aí se verá que a estada será temporária nesse umbral do Além, conquanto geralmente penosa. Tais sejam o caráter, as ações praticadas, o gênero de vida, o gênero de morte que teve a entidade desencarnada — tais serão o tempo e a penúria no local descrito. Existem aqueles que ai apenas se demoram algumas horas. Outros levarão meses, anos consecutivos, voltando à reencarnação sem atingirem a Espiritualidade. Em se tratando de suicidas o caso assume proporções especiais, por dolorosas e complexas. Estes ai se demorarão, geralmente, o tempo que ainda lhes restava para conclusão do compromisso da existência que prematuramente cortaram. Trazendo carregamentos avantajados de forças vitais animalizadas, além das bagagens das paixões criminosas e uma desorganização mental, nervosa e vibratória completas, é fácil entrever qual será a situação desses infelizes para quem um só bálsamo existe: — a prece das almas caritativas! Se, por muito longo, esse estágio exorbite das medidas normais ao caso — a reencarnação imediata será a terapêutica indicada, embora acerba e dolorosa, o que será preferível a muitos anos em tão desgraçada situação, assim se completando, então, o tempo que faltava ao término da existência cortada.  

                            Às vezes, conflitos brutais se verificavam pelos becos lamacentos onde se enfileiravam as cavernas que nos serviam de domicilio. Invariavelmente irritados, por motivos insignificantes nos atirávamos uns contra os outros em lutas corporais violentas, nas quais, tal como sucede nas baixas camadas sociais terrenas, levaria sempre a melhor aquele que maior destreza e truculência apresentasse. Frequentemente fui ali insultado, ridiculizado nos meus sentimentos mais caros e delicados com chistes e sarcasmos que me revoltavam até o âmago; apedrejado e espancado até que, excitado por fobia idêntica, eu me atirava a represálias selvagens, ombreando-me com os agressores e com eles refocilando na lama da mesma ceva espiritual.

                            A fome, a sede, o frio enregelador, a fadiga, a insônia; exigências físicas martirizantes, fáceis de o leitor entrever; a natureza como que aguçada em todos os seus desejos e apetites, qual se ainda trouxéssemos o envoltório carnal; a promiscuidade, muito vexatória, de Espíritos que foram homens e dos que animaram corpos femininos; tempestades constantes, inundações mesmo, a lama, o fétido, as sombras perenes, a desesperança de nos vermos livres de tantos martírios sobrepostos, o supremo desconforto físico e moral — eis o panorama por assim dizer “material” que emoldurava os nossos ainda mais pungentes padecimentos morais! Nem mesmo sonhar com o Belo, dar-se a devaneios balsamizantes ou a recordações beneficente era concedido àquele que porventura possuísse capacidade para o fazer. Naquele ambiente superlotado de males o pensamento jazia encarcerado nas fráguas que o contornavam, só podendo emitir vibrações que se afinassem ao tono da própria perfídia local… E, envolvidos em tão enlouquecedores fogos, não havia ninguém que pudesse atingir um instante de serenidade e reflexão para se lembrar de Deus e bradar por Sua paternal misericórdia! Não se podia orar porque a oração é um bem, é um bálsamo, é uma trégua, é uma esperança! e aos desgraçados que para lá se atiravam nas torrentes do suicídio impossível seria atingir tão altas mercês! Não sabíamos quando era dia ou quando voltava a noite, porque sombras perenes rodeavam as horas que vivíamos. Perdêramos a noção do tempo. Apenas esmagadora sensação de distância e longevidade do que representasse o passado ficara para açoitar nossas interrogações, afigurando-se-nos  que estávamos há séculos jungidos a tão ríspido calvário! Dali não esperávamos sair, conquanto fosse tal desejo urna das causticantes obsessões que nos alucinavam… pois o Desânimo gerador da desesperança que nos armara o gesto de suicidas afirmava-nos que tal estado de coisas seria eterno!

                             (……………………………….) A contagem do tempo, para aqueles que mergulhavam nesse abismo, estacionara no momento exato em que fizera para sempre tombar a própria armadura de carne! Daí para cá só existiam — assombro, confusão, enganosas induções, suposições insidiosas! Igualmente ignorávamos em que local nos encontrávamos, que significação teria nossa espantosa situação. Tentávamos, aflitos, furtarmo-nos a ela, sem percebermos que era cabedal de nossa própria mente conflagrada, de nossas vibrações entrechocadas por mil malefícios indescritíveis! Procurávamos então fugir do local maldito para voltarmos aos nossos lares; e o fazíamos desabaladamente, em insanas correrias de loucos furiosos! Aasveros    malditos, sem consolo, sem paz, sem descanso em parte alguma — . ao passo que correntes irresistíveis, como ímãs poderosos, atraíam-nos de volta ao tugúrio sombrio, arrastando-nos de envolta a um atro turbilhão de nuvens sufocadoras e estonteantes! De outras vezes, tateando nas sombras, lá íamos, por entre gargantas, vielas e becos, sem lograrmos indicio de saída… Cavernas, sempre cavernas — todas numeradas —; ou longos espaços pantanosos quais lagos lodosos circulados de muralhas abruptas, que nos afiguravam levantadas em pedra e ferro, como se fôramos sepultados vivos nas profundas tenebrosidades de algum vulcão! Era um labirinto onde nos perdíamos sem podermos jamais alcançar o fim! Por vezes acontecia não sabermos retornar ao ponto de partida, isto é, às cavernas que nos serviam de domicílio, o que forçava a permanência ao relento até que deparássemos algum covil desabitado para outra vez nos abrigarmos. Nossa mais vulgar impressão era de que nos encontrávamos encarcerados no subsolo, em presídio cavado no seio da Terra, quem sabia se nas entranhas de uma cordilheira, da qual fizesse parte também algum vulcão extinto, como pareciam atestar aqueles imensuráveis poços de lama com paredes escalavradas lembrando minerais pesados?!… Aterrados, entrávamos então a bramir em coro, furiosamente, quais maltas de chacais danados, para que nos retirassem dali, restituindo-nos à liberdade ! As mais violentas manifestações de terror seguiam-se então; e tudo quanto o leitor imaginar possa, dentro da confusão de cenas patéticas inventadas pela fobia do Horror, ficará muito aquém da expressão real por nós vivida nessas horas criadas pelos nossos próprios pensamentos distanciados da Luz e do Amor de Deus!                      (……………………………..)

                             Nas peripécias que o suicida entra a curtir depois do desbarato que prematuramente o levou ao túmulo, o Vale Sinistro apenas representa um estágio temporário, sendo ele para lá encaminhado por movimento de impulsão natural, com o qual se afina, até que se desfaçam as pesadas cadeias que o atrelam ao corpo físico terreno, destruído antes da ocasião prevista pela lei natural. Será preciso que se desagreguem dele as poderosas camadas de fluidos vitais que lhe revestiam a organização física, adaptadas por afinidades especiais da Grande Mãe Natureza à organização astral, ou seja, ao perispirito, as quais nele se aglomeram em reservas suficientes para o compromisso da existência completa; que se arrefeçam, enfim, as mesmas afinidades, labor que na individualidade de um suicida será acompanhado das mais aflitivas dificuldades, de morosidade impressionante, para, só então, obter possibilidade vibratória que lhe faculte alívio e progresso (2).

                                     (2) As impressões e sensações penosas, oriundas do corpo carnal, que acompanham o Espirito ainda materializado, chamaremos  repercussões magnéticas, em virtude do magnetismo animal existente em todos os seres vivos, e suas afinidades com o perispirito. Trata-se de fenômeno idêntico ao que faz a um homem que teve o braço ou a perna amputados sentir coceiras na palma da mão que já não existe com ele, ou na sola do pé, igualmente inexistente. Conhecemos em certo hospital um pobre operário que teve ambas as pernas amputadas senti-las tão vivamente consigo assim como os pés, que, esquecido de que já não os possuía, procurou levantar-se, levando, porém, estrondosa queda e ferindo-se. Tais fenômenos são fáceis de observar.

                            De outro modo, tal seja a feição seu caráter, tais os deméritos e grau de responsabilidade gerais — tal será o agravo da situação, tal a intensidade dos padecimentos a experimentar, pois, nestes casos, serão apenas as consequências decepcionantes do suicídio que lhe afligirão a alma, mas também o reverso dos pecaminosos anteriormente cometidos.

                            Periodicamente, singular caravana visitava esse antro de sombras. Era como a inspeção de alguma associação caridosa, assistência protetora de instituição humanitária, cujos abnegados fins não se poderiam pôr em dúvida. Vinha à procura daqueles dentre nós cujos fluidos vitais, arrefecidos pela desintegração completa da matéria, permitissem locomoção para as camadas do Invisível intermediário, ou de transição. Supúnhamos tratar-se, a caravana, de um grupo de homens. Mas na realidade eram Espíritos que estendiam a fraternidade ao extremo de se materializarem o suficiente para se tornarem plenamente percebidos à nossa precária visão e nos infundirem confiança no socorro que nos davam. Trajados de branco, apresentavam-se caminha nelas ruas lamacentas do Vale, de um a um, em coluna: rigorosamente disciplinada, enquanto, olhando-os atentamente, distinguiríamos, à altura do peito de todos, pequena cruz azul-celeste, o que parecia ser um emblema, um distintivo.

                            Senhoras faziam parte dessa caravana. Precedia, porém, a coluna, pequeno pelotão de lanceiros, qual batedor de caminhos, ao passo que vários outros milicianos da mesma arma rodeavam os visitadores, como tecendo um cordão de isolamento, o que esclarecia serem estes muito bem guardados contra quaisquer hostilidades que pudessem surgir do exterior. Com a destra o oficial comandante erguia alvinitente (Nota : branca e brilhante) flâmula, na qual se lia, em caracteres também azul-celeste, esta extraordinária legenda, que tinha o dom de infundir insopitável e singular temor:

— LEGIÃO DOS SERVOS DE MARIA —

                             Os lanceiros, ostentando escudo e lança, tinham tez bronzeada e trajavam-se com sobriedade, lembrando guerreiros egípcios da antiguidade. E, chefiando a expedição, destacava-se varão respeitável, o qual trazia avental branco e insígnias de médico a par da cruz já referida. Cobria-lhe a cabeça, porém, em vez do gorro característico, um turbante hindu, cujas dobras eram atadas à frente pela tradicional esmeralda, símbolo dos esculápios. Entravam aqui e ali, pelo interior das cavernas habitadas, examinando seus ocupantes. Curvavam-se, cheios de piedade, junto das sarjetas, levantando aqui e acolá algum desgraçado tombado sob o excesso de sofrimento; retiravam os que apresentassem condições de poderem ser socorridos e colocavam-nos em macas conduzidas por varões que se diriam serviçais ou aprendizes. Voz grave e dominante, de alguém invisível que falasse pairando no ar, guiava-os no caridoso afã, esclarecendo detalhes ou desfazendo confusões momentaneamente suscitadas. A mesma voz fazia a chamada dos prisioneiros a serem socorridos, proferindo seus nomes próprios, o que fazia que se apresentassem, sem a necessidade de serem procurados, aqueles que se encontrassem em melhores condições, facilitando destarte o serviço dos caravaneiros. Hoje posso dizer que todas essas vozes amigas e protetoras eram transmitidas através de ondas delicadas e sensíveis do éter, com o sublime concurso de aparelhamentos magnéticos mantidos para fins humanitários em determinados pontos do Invisível, isto é, justamente na localidade que nos receberia ao sairmos do Vale. Mas, então, ignorávamos o pormenor e muito confusos nos sentíamos. As macas, transportadas cuidadosamente, eram guardadas pelo cordão de isolamento já referido e abrigadas no interior de grandes veículos à feição de comboios, que acompanhavam a expedição. Esses comboios, no entanto, apresentavam singularidade interessante, digna de relato. Em vez de apresentarem os vagões comuns às estradas de ferro, como os que conhecíamos, lembravam, antes, meio de transporte primitivo, pois se compunham de pequenas diligências atadas uma às outras e rodeadas de persianas muito espessas, o que impediria ao passageiro verificar os locais por onde deveria transitar. Brancos, leves, como burilados em matérias específicas habilmente laqueadas, eram puxados por formosas parelhas de cavalos também brancos, nobres animais cuja extraordinária beleza e elegância incomum despertariam nossa atenção se estivéssemos em condições de algo notar para além das desgraças que nos mantinham absorvidos dentro de nosso âmbito pessoal. Dir-se-iam, porém, exemplares da mais alta raça normanda, vigorosos e inteligentes, as belas crinas ondulantes e graciosas enfeitando-lhes os altivos pescoços quais mantos de seda, níveos e finalmente franjados. Nos carros distinguia-se também o mesmo emblema azul-celeste e a legenda respeitável. Geralmente, os infelizes assim socorridos encontravam-se desfalecidos, exânimes, como atingidos de singular estado comatoso. Outros, no entanto, alucinados ou doloridos, infundiriam compaixão pelo estado de supremo desalento em que se conservavam.

                            Depois de rigorosa busca, a estranha coluna marchava em retirada até o local em que se postava o comboio, igualmente defendido por lanceiros hindus.

                           Silenciosamente cortava pelos becos e vielas, afastava-se, afastava-se… desaparecendo de nossas vistas enquanto mergulhávamos outra vez na pesada solidão que nos cercava…

                            ‘’Em vão clamavam por socorro os que se sentiam preteridos, incapacitados de compreenderem que, se assim sucedia, era porque nem todos se encontravam em condições vibratórias para emigrarem para regiões menos hostis. Em vão suplicavam justiça e compaixão ou se amotinavam, revoltados, exigindo que os deixassem também seguir com os demais. Não respondiam os caravaneiros com um gesto sequer; e se algum mais desgraçado ou audacioso tentasse assaltar as viaturas a fim de atingi-las e nelas ingressar, dez, vinte lanças faziam-no recuar, interceptando-lhe a passagem. Então, um coro hediondo de uivos e choro sinistros, de pragas e gargalhadas satânicas, o ranger do dentes comum ao réprobo que estertora nas trevas dos males por si próprio forjados, repercutiam longa e dolorosamente pelas ruas lamacentas, parecendo que loucura coletiva atacara os míseros detentos, elevando suas raivas ao incompreensível no linguajar humano! E assim ficavam… quanto tempo?… Oh! Deus piedoso! Quanto tempo?… Até que suas inimagináveis condições de suicidas, de mortos-vivos, lhes permitissem também a transferência para localidade menos trágica…’’

CAPITULO II

Os réprobos

‘’Em geral aqueles que se arrojam ao suicídio, para sempre esperam livrar-se de dissabores julgados insuportáveis, de sofrimentos e problemas considerados insolúveis pela tibiez da vontade deseducada, que se acovarda em presença, muitas vezes, da vergonha do descrédito ou da desonra, dos remorsos deprimentes postos a enxovalharem a consciência, consequências de ações praticadas à revelia das leis do Bem e da Justiça.

Também eu assim pensei, muito apesar da auréola de idealista que minha vaidade acreditava glorificando–me a fronte.

Enganei-me, porém; e lutas infinitamente mais vivas e mais ríspidas esperavam-me a dentro do túmulo a fim de me chicotearem a alma de descrente e revel, com merecida justiça.

As primeiras horas que se seguiram ao gesto brutal de que usei, para comigo mesmo, passaram-se sem que verdadeiramente eu pudesse dar acordo de mim. Meu Espírito, rudemente violentado, como que desmaiara, sofrendo ignóbil colapso. Os sentidos, as faculdades que traduzem o “eu” racional, paralisaram-se como se indescritível cataclismo houvesse desbaratado o mundo, prevalecendo, porém, acima dos destroços, a sensação forte do aniquilamento que sobre meu ser acabara de cair.

Fora como se aquele estampido maldito, que até hoje ecoa sinistramente em minhas vibrações mentais —, sempre que, descerrando os véus da memória, como neste instante, revivo o passado execrável — tivesse dispersado  uma a uma as moléculas que em meu ser constituíssem a Vida!

A linguagem humana ainda não precisou Inventar vocábulos bastante justos e compreensíveis para definir as impressões absolutamente inconcebíveis, que passam a contaminar o “eu” de um suicida logo às primeiras horas que se seguem ao desastre, as quais sobem e se avolumam, envolvem-se em complexos e se radicam e cristalizam num crescendo que traduz estado vibratório e mental que o homem não pode compreender, porque está fora da sua possibilidade de criatura que, mercê de Deus, se conservou aquém dessa anormalidade. Para entendê-la e medir com precisão a intensidade dessa dramática surpresa, só outro Espírito cujas faculdades se houvessem queimado nas efervescências da mesma dor!

Nessas primeiras horas, que por si mesmas constituiriam a configuração do abismo em que se precipitou, se não representassem apenas o prelúdio da diabólica sinfonia que será constrangido a interpretar pelas disposições lógicas das leis naturais que violou, o suicida, semi-inconsciente, adormentado, desacordado sem que, para maior suplício, se lhe obscureça de todo a percepção dos sentidos, sente-se dolorosamente contundido, nulo, dispersado em seus milhões de filamentos psíquicos violentamente atingidos pelo malvado acontecimento.

Paradoxos turbilhonam em volta dele, afligindo-lhe ai tenuidade das percepções com martirizantes girândolas de sensações confusas. Perde-se no vácuo… Ignora-se… Não obstante aterra-se, acovarda-se, sente a profundidade apavorante do erro contra o qual colidiu, deprime-se na aniquiladora certeza de que ultrapassou os limites das ações que lhe eram permitidas praticar, desnorteia-se entrevendo que avançou demasiadamente, para além da demarcação traçada pela Razão! É o traumatismo psíquico, o choque nefasto que o dilacerou com suas tenazes inevitáveis, e o qual, para ser minorado, dele exigirá um roteiro de urzes e lágrimas, decênios de rijos testemunhos até que se reconduza às vias naturais do progresso, interrompidas pelo ato arbitrário e contraproducente.

Pouco a pouco, senti ressuscitando das sombras confusas em que mergulhei meu pobre Espírito, após a queda do corpo físico, o atributo máximo que a Paternidade Divina impôs sobre aqueles que, no decorrer dos milênios, deverão refletir Sua imagem e semelhança: — a Consciência! a Memória! o divino dom de pensar! Senti-me enregelar de frio. Tiritava! Impressão incômoda, de que vestes de gelo se me apegavam ao corpo, provocou-me inavaliável mal-estar. Faltava-me, ao demais, o ar para o livre mecanismo dos pulmões, o que me levou a crer que, uma vez que eu me desejara furtar à vida, era a morte que se aproximava com seu cortejo de sintomas dilacerantes. Odores fétidos e nauseabundos, todavia, revoltavam-me brutalmente olfato. Dor aguda, violenta, enlouquecedora, arremeteu-se instantaneamente sobre meu corpo por inteiro, localizando-se particularmente no cérebro e iniciando-se no aparelho auditivo. Presa de convulsões indescritíveis de dor física, levei a destra ao ouvido direito: — o sangue corria do orifício causado pelo projetil da arma de fogo de que me servira para o suicídio e manchou-me as mãos, as vestes, o corpo…

Eu nada enxergava, porém. Convém recordar que meu suicídio derivou-se da revolta por me encontrar cego, expiação que considerei superior às minhas forças, injusta punição da Natureza aos meus olhos necessitados de ver, para que me fosse dado obter, pelo trabalho, a subsistência honrada e altiva.

Sentia-me, pois, ainda cego; e, para cúmulo do meu estado de desorientação, encontrava-me ferido. Tão-somente ferido e não morto! porque a vida continuava em mim como antes do suicídio! Passei a reunir idéias, mau grado meu. Revi minha vida em retrospecto, até à infância, e sem mesmo inibir o drama do último ato, programação extra sob minha inteira responsabilidade. Sentindo-me vivo, averiguei consequentemente, que o ferimento que em mim fizera, tentando matar-me, fora insuficiente, aumentando assim os já tão grandes sofrimentos que desde longo tempo me vinham perseguindo a existência.

Supus-me preso a um leito de hospital ou em minha própria casa. Mas a impossibilidade de reconhecer o local, pois nada via; os incômodos que me afligiam, a solidão que me rodeava, entraram a me angustiar profundamente, enquanto lúgubres pressentimentos me avisavam de que acontecimentos irremediáveis se haviam confirmado.

Bradei por meus familiares, por amigos que eu conhecia afeiçoados bastante para me acompanharem em momentos críticos. O mais surpreendente silêncio continuou enervando-me. Indaguei mal-humorado por enfermeiros, por médicos que possivelmente me atenderiam, dado que me não encontrasse em minha residência e sim retido em algum hospital; por serviçais, criados, fosse quem fosse, que me obsequiar pudessem, abrindo as janelas do aposento onde me supunha recolhido, a fim de que correntes de ar purificado me reconfortassem os pulmões; que me favorecessem coberturas quentes, acendessem a lareira para amenizar a gelidez que me entorpecia os membros, providenciando bálsamo às dores que me supliciavam o organismo, e alimento, e água, porque eu tinha fome e tinha sede! Com espanto, em vez das respostas amistosas por que tanto suspirava, o que minha audição distinguiu, passadas algumas horas, foi um vozerio ensurdecedor, que, indeciso e longínquo a princípio, como a destacar-se de um pesadelo, definiu-se gradativamente até positivar–se em pormenores concludentes. Era um coro sinistro, de muitas vozes confundidas em atropelos, desnorteadas, como aconteceria numa assembléia de loucos. No entanto, estas vozes não falavam entre si, não conversavam. Blasfemavam, queixavam-se de múltiplas desventuras, lamentavam-se, reclamavam, uivavam, gritavam enfurecidas, gemiam, estertoravam, choravam desoladoramente, derramando pranto hediondo, pelo tono de desesperação com que se particularizava; suplicavam, raivosas, socorro e compaixão! Aterrado senti que estranhos empuxões, como arrepios irresistíveis, transmitiam-me influenciações abomináveis, provindas desse todo que se revelava através da audição, estabelecendo corrente similar entre meu ser superexcitado e aqueles cujo vozerio eu distinguia.

Esse coro, isócrono,  ( Nota isócrono: ritimado) rigorosamente observado e medido em seus intervalos, infundiu-me tão grande terror que, reunindo todas as forças de que poderia o meu Espírito dispor em tão molesta situação, movimentei-me no intuito de afastar-me de onde me encontrava para local em que não mais o ouvisse. Tateando nas trevas tentei caminhar. Mas dir-se-ia que raízes vigorosas plantavam-me naquele lugar úmido e gelado em que me deparava. Não podia despegar-me! Sim! Eram cadeias pesadas que me escravizavam, raízes cheias de seiva, que me atinham grilhetado naquele extraordinário leito por mim desconhecido, impossibilitando-me o desejado afastamento. Aliás, como fugir se estava ferido, desfazendo-me em hemorragias internas, manchadas as vestes de sangue, e cego, positivamente cego?!

Como apresentar-me a público em tão repugnante estado?… A covardia — a mesma hidra que me atraíra para o abismo em que agora me convulsionava — alongou ainda mais seus tentáculos insaciáveis e colheu-me irremediavelmente! Esqueci-me de que era homem, ainda uma segunda vez! e que cumpria lutar para tentar vitória, fosse a que preço fosse de sofrimento! Reduzi-me por isso à miséria do vencido! E, considerando insolúvel a situação, entreguei-me às lágrimas e chorei angustiosamente, ignorando o que tentar para meu socorro. Mas, enquanto me desfazia em prantos, o coro de loucos, sempre o mesmo, trágico, funéreo, regular como o pêndulo de um, relógio, acompanhava-me com singular similitude, atraindo-me corno se imanado de irresistíveis afinidades… Insisti no desejo de me furtar à terrível audição. Após esforços desesperados, levantei-me. Meu corpo enregelado, os músculos retesados por entorpecimento geral, dificultavam-me sobremodo o intento. Todavia, levantei-me. Ao fazê-lo, porém, cheiro penetrante de sangue e vísceras putrefatos rescendeu em torno, repugnando-me até às náuseas. Partia do local exato em que eu estivera dormindo. Não compreendia como poderia cheirar tão desagradavelmente o leito onde me achava. Para mim seria o mesmo que me acolhia todas as noites! E, no entanto, que de odores fétidos me surpreendiam agora! Atribuí o fato ao ferimento que fizera na intenção de matar-me, a fim de explicar-me de algum modo a estranha aflição, ao sangue que corria, manchando-me as vestes. Realmente! Eu me encontrava empastado de peçonha,  como um. lodo asqueroso que dessorasse (Nota do BLOG. :desorasse : escorresse) de meu próprio corpo, empapando incomodativamente a indumentária que usava, pois, com surpresa, surpreendi-me trajando cerimoniosamente, não obstante retido num leito de dor.    

Mas, ao mesmo tempo que assim me apresentava satisfações, confundia-me na interrogação de como poderia assim ser visto não ser cabível que um simples ferimento, mesmo a quantidade de sangue espargido, pudesse tresandar a tanta podridão sem que meus amigos e enfermeiros deixassem de providenciar a devida higienização. Inquieto, tateei na escuridão com o intuito de encontrar a porta de saída que me era habitual, já, que todos me abandonavam em hora tão crítica. Tropecei, porém, em dado momento, num montão de destroços e, instintivamente, curvei-me para o chão, a examinar o que assim me interceptava os passos. Então, repentinamente, a loucura irremediável apoderou-se de minhas faculdades e entrei a gritar e uivar qual demônio enfurecido, respondendo na mesma dramática tonalidade à macabra sinfonia cujo coro de vozes não cessava de perseguir minha audição, em intermitências de angustiante expectativa. O montão de escombros era nada menos do que a terra de uma cova recentemente fechada! Não sei como, estando cego, pude entrever, em meio as sombras que me rodeavam, o que existia em torno! Eu me encontrava num cemitério! Os túmulos, com suas tristes cruzes em mármore branco ou madeira negra, ladeando imagens sugestivas de anjos pensativos, alinhavam-se na imobilidade majestosa do drama em que figuravam. A confusão cresceu:

— Por que me encontraria ali? Como viera, pois nenhuma lembrança me acorria ?… E

que viera fazer sozinho, ferido, dolorido, extenuado?

Era verdade que “tentara” o suicídio, mas… Sussurro macabro, qual sugestão irremovível da consciência esclarecendo a memória aturdida pelo ineditismo presenciado, percutiu estrondosamente pelos recôncavos alarmados do meu ser:

“Não quiseste o suicídio?… Pois aí o tens…”

Mas, como assim ?… Como poderia ser… se eu não morrera?’  Acaso não me sentia ali vivo?… Por que então sozinho, imerso na solidão tétrica da morada dos mortos ?  Os fatos irremediáveis, porém, impõem-se aos homens como aos Espíritos com majestosa naturalidade. Nulo concluíra ainda minhas ingênuas e dramáticas interrogações, e vejo-me, a mim próprio! como à frente de um espelho, morto, estirado num ataúde, em franco e:dado de decomposição, no fundo de uma sepultura, justamente aquela sobre a qual acabava de tropeçar! Fugi espavorido, desejoso de ocultar-me de mim mesmo, obsidiado pelo mais tenebroso horror, enquanto gargalhadas estrondosas, de indivíduos que eu não lograva enxergar, explodiam atrás de mim e o coro nefasto perseguia meus ouvidos torturados, para onde quer que me refugiasse. Como louco que realmente me tornara, eu corria, corria, enquanto aos meus olhos cegos se desenhava a hediondez satânica do meu próprio cadáver apodrecendo no túmulo, empastado de lama gordurosa, coberto de asquerosas lesmas que, vorazes, lutavam por nadar em suas pústulas a fome inextinguível que traziam, transformando-o no mais repugnante e infernal monturo que me fora dado conhecer! Quis furtar-me à presença de mim mesmo, procurando incidir no ato que me desgraçara, isto é — reproduzi a cena patética do meu suicídio mentalmente, como se por uma segunda vez buscasse morrer a fim de desaparecer na região do que, na minha ignorância dos fatos de além-morte, eu supunha o eterno esquecimento!

Mas nada havia capaz de aplacar a malvada visão!  Ela era, antes, verdadeira! Imagem perfeita da realidade que sobre o meu físico-espiritual se refletia, e por isso me acompanhava para onde quer que eu fosse, perseguia minhas retinas sem luz, invadia minhas faculdades anímicas imersas em choques e se impunha à minha cegueira de Espírito caído em pecado, supliciando-me sem remissão! Na fuga precipitada que empreendi, ia entrando em todas as portas que encontrava abertas, a fim de ocultar-me em alguma parte. Mas de qualquer domicílio a que me abrigasse, na insensatez da loucura que me enredava, era enxotado a pedradas sem poder distinguir quem, com tanto desrespeito, assim me tratava. Vagava pelas ruas tateando aqui, tropeçando além, na mesma cidade onde meu nome era endeusado como o de um gênio — sempre aflito e perseguido. A respeito dos acontecimentos que com minha pessoa se relacionavam, ouvi comentários destilados em críticas mordazes e irreverentes, ou repassados de pesar sincero pelo meu trespasse, que lamentavam. Tornei a minha casa. Surpreendente desordem estabelecera-se em meus aposentos, atingindo objetos de meu uso pessoal, meus livros, manuscritos e apontamentos, os quais já não eram por mim encontrados no local costumeiro, o que muito me enfureceu. Dir-se-ia que se dispersara tudo! Encontrei-me estranho em minha própria casa! Procurei amigos, parentes a quem me afeiçoara. A indiferença que lhes surpreendi em torno da minha desgraça chocou-me dolorosamente, agravando meu estado de excitação. Dirigi-me então a consultórios médicos. Tentei fixar-me em hospitais, pois que sofria, sentia febre e loucura, supremo mal-estar torturava meu ser, reduzindo-me a desolador estado de humilhação e amargura. Mas, a toda parte que me dirigia, sentia-me insocorrido, negavam-me atenções, despreocupados e indiferentes todos ante minha situação. Em vão objurgatórias acompanhava para onde quer que eu fosse, perseguia minhas retinas sem luz, invadia minhas faculdades anímicas imersas em choques e se impunha à minha cegueira de Espírito caído em pecado, supliciando-me sem remissão! Na fuga precipitada que empreendi, ia entrando em todas as portas que encontrava abertas, a fim de ocultar-me em alguma parte. Mas de qualquer domicílio a que me abrigasse, na insensatez da loucura que me enredava, era enxotado a pedradas sem poder distinguir quem, com tanto desrespeito, assim me tratava. Vagava pelas ruas tateando aqui, tropeçando além, na mesma cidade onde meu nome era endeusado como o de um gênio — sempre aflito e perseguido. A respeito dos acontecimentos que com minha pessoa se relacionavam, ouvi comentários destilados em críticas mordazes e irreverentes, ou repassados de pesar sincero pelo meu trespasse, que lamentavam. Tornei a minha casa. Surpreendente desordem estabelecera-se em meus aposentos, atingindo objetos de meu uso pessoal, meus livros, manuscritos e apontamentos, os quais já não eram por mim encontrados no local costumeiro, o que muito me enfureceu. Dir-se-ia que se dispersara tudo! Encontrei-me estranho em minha própria casa! Procurei amigos, parentes a quem me afeiçoara. A indiferença que lhes surpreendi em torno da minha desgraça chocou-me dolorosamente, agravando meu estado de excitação. Dirigi-me então a consultórios médicos. Tentei fixar-me em hospitais, pois que sofria, sen-tia febre e loucura, supremo mal-estar torturava meu ser, reduzindo-me a desolador estado de humilhação e amargura. Mas, a toda parte que me dirigia, sentia-me insocorrido, negavam-me atenções, despreocupados e indiferentes todos ante minha situação. Em vão objurgatórias (Nota do BLOG reclamações) azedas saíam de meus lábios acompanhadas da apresentação, por mim próprio feita, do meu estado e das qualidades pessoais que meu incorrigível orgulho reputava irresistíveis: — pareciam alheios às minhas insistentes algaravias, ninguém me concedendo sequer o favor de um olhar! azedas saíam de meus lábios acompanhadas da apresentação, por mim próprio feita, do meu estado e das qualidades pessoais que meu incorrigível orgulho reputava irresistíveis: — pareciam alheios às minhas insistentes algaravias, ninguém me concedendo sequer o favor de um olhar!

Aflito, insofrido, alucinado, absorvido meu ser pelas ondas de agoirantes amarguras, em parte alguma encontrava possibilidade de estabilizar-me a fim de lograr conforto e alívio! Faltava-me alguma coisa irremediável, sentia-me incompleto! Eu perdera algo que me deixava entonteado, e essa “coisa” que eu perdera, parte de mim. mesmo, atraía-me para o local em que se encontrava, com as irresistíveis forças de um ímã, chamava–me imperiosa, irremediavelmente! E era tal a atração que sobre mim exercia, tal o vácuo que em mim produzira esse irreparável acontecimento, tão profunda a afinidade, verdadeiramente vital, que a essa “coisa” me unia — que, não sendo possível, de forma alguma, fixar-me em nenhum local para que me voltasse, tornei ao sítio tenebroso de onde viera: — o cemitério! Essa “coisa”, cuja falta assim me enlouquecia, era o meu próprio corpo — o meu cadáver! — apodrecendo na escuridão de um túmulo! (3)

(3) Certa vez, há cerca de vinte anos, um dos meus dedicados educadores espirituais — Charles — levou-me a um cernitério público do Rio de Janeiro, a fim de visitarmos um suicida que rondava os próprios despojos em putrefação. Escusado será esclarecer que tal visita foi realizada em corpo astral. O perisplrito do referido suicida, hediondo qual demônio, infundiu-me pavor e repugnância. Apresentava-se completamente desfigurado e Irreconhecível, coberto de cicatrizes, tantas cicatrizes quantos haviam sido os pedaços a que ficara reduzido seu envoltório carnal, pois o desgraçado jogara-se sob as rodas de um trem de ferro, ficando despedaçado. Não há descrição possível para o estado de sofrimento desse Espírito! Estava enlouquecido, atordoado, por vezes furioso, sem se poder acalmar para raciocinar, Insensível a toda e qualquer vibração que não fosse a sua imensa desgraça! Tentamos falar-lhe: — não nos ouvia! E Charles, tristemente, com acento indefinível de ternura, falou: — “Aqui, só a prece terá virtude capaz de se impor! Será o único bálsamo que poderemos destilar em seu favor, santo bastante para, após certo período de tempo, poder aliviá-lo…” — E essas cicatrizes? — perguntei, impressionada. — “Só desaparecerão — tornou Charles — depois da expiação do erro, da reparação em existências amargas, que requererão lágrimas ininterruptas, o que não levará menos de um século, talvez muito mais… Que Deus se amerceie dele, porque, até lá…” Durante muitos anos orei por esse infeliz irmão em minhas preces diárias. — (Nota da médium).

.(…………………………..)

 Um dia, profundo alquebramento sucedeu em meu ser a prolongada excitação. Fraqueza insólita conservou–me aquietado, como desfalecido. Eu e muitos outros cômpares de minha falange estávamos extenuados, incapazes de resistirmos por mais tempo a tão desesperadora situação. Urgência de repouso fazia-nos desmaiar frequentemente, obrigando-nos ao recolhimento em nossas desconfortáveis cavernas. Não se tinham passado, porém, sequer vinte e quatro horas desde que o novo estado nos surpreendera, quando mais uma vez fomos alarmados pelo significativo rumor daquele mesmo “comboio” que já em outras ocasiões havia aparecido em nosso Vale. Eu compartilhava o mesmo antro residencial de quatro outros indivíduos, como eu portugueses, e, no decorrer do longo martírio em comum, tornáramo-nos inseparáveis, à força de sofrermos juntos no mesmo tugúrio  de dor. (Nota do BLOG: tugúrio – choupana,casebre)

 Dentre todos, porém, um sobremaneira me irritava, predispondo-me à discussão, com o usar, apesar da situação precária, o monóculo inseparável, o fraque bem talhado e respectiva bengala de castão de ouro, conjunto que, para o meu conceito neurastênico e impertinente, o tornava pedante e antipático, num local onde se vivia torturado com odores fétidos e podridão e em que nossa indumentária dir-se-ia empastada de estranhas substâncias gordurosas, reflexos mentais da podridão elaborada em torno do envoltório carnal. Eu, porém, esquecia-me de que continuava a usar o “pince-nez” com seu fio de torçal, a sobrecasaca dos dias cerimoniosos, os bigodes fartos penteados…

Confesso que, então, apesar da longa convivência, lhes não conhecia os nomes. No Vale Sinistro a desgraça é ardente demais para que se preocupe o calceta (Nota calceta:acorrentado)  com a identidade alheia… O conhecido rumor aproximava-se cada vez mais…

Saímos de um salto para a rua… Vielas e praças encheram-se de réprobos como das passadas vezes, ao mesmo tempo que os mesmos angustiosos brados de socorro ecoavam pelas quebradas sombrias, no intuito de despertarem a atenção dos que vinham para a costumeira vistoria…

Até que, dentro da atmosfera densa e penumbrosa, surgiram os carros brancos, rompendo as trevas com poderosos holofotes. Estacionou o trem caravaneiro na praça lamacenta. Desceu um pelotão de lanceiros. Em seguida, damas e cavalheiros, que pareciam enfermeiros, e mais o chefe da expedição, o qual, como anteriormente esclarecemos, se particularizava por usar turbante e túnica hindus. Silenciosos e discretos iniciaram o reconhecimento daqueles que seriam socorridos. A mesma voz austera que se diria, como das vezes anteriores, vibrar no ar, fez, pacientemente, a chamada dos que deveriam ser recolhidos, os quais, ouvindo os próprios nomes, se apresentavam por si mesmos.

Outros, porém, por não se apresentarem a tempo, impunham aos socorristas a necessidade de procurá-los. Mas a estranha voz indicava o lugar exato em que esta-riam os míseros, dizendo simplesmente: Abrigo número tal… Rua número tal. .

Ou, conforme a circunstância: — Dementado… Inconsciente…

Não se encontra no abrigo… Vagando em tal rua… Não atenderá pelo nome… Reconhecível por esta ou aquela particularidade …

Dir-se-ia que alguém, de muito longe, assestava poderosos telescópios até nossas desgraçadas moradas, para assim informar detalhadamente do momento decorrente a expedição laboriosa… Os obreiros da Fraternidade consultavam um mapa, iam rapidamente ao local indicado e traziam os mencionados, alguns carregados em seus braços generosos, outros em padiolas… De súbito ressoou na atmosfera dramática daquele inferno onde tanto padeci, repercutindo estrondosamente pelos mais profundos recôncavos do meu ser, o meu nome, chamado para a libertação! Em seguida, ouviram–se os dos quatro companheiros que comigo se achavam presentes na praça. Foi então que lhes conheci os nomes e eles o meu. Disse a voz longínqua, como servindo-se de desconhecido e poderoso alto-falante: — Abrigo número 36 da rua número 48  Atenção !. .. Abrigo número 36 — Ingressar no comboio de socorro — Atenção !… — Camilo Cândido Botelho — Belarmino de Queiroz e Souza — Jerônimo de Araújo Silveira — João d’Azevedo — Mário Sobral — Ingressarem no comboio… (4-B)

(4-B) Perdoar-me-á o leitor o não transcrever na integra os nomes destas personagens, tal como foram revelados pelo autor destas páginas. — (Nota da médium)

Foi entre lágrimas de emoção indefinível que galguei os pequenos degraus da plataforma que um enfermeiro indicava, atencioso e paciente, enquanto os policiais fechavam cerco em torno de mim e de meus quatro companheiros, evitando que os desgraçados que ainda ficavam subissem conosco ou nos arrastassem no seu

turbilhão, criando a confusão e retardando por isso mesmo o regresso da expedição. Entrei. Eram carros amplos, cômodos, confortáveis, cujas poltronas individuais como que estofadas com arminho branco apresentavam o espaldar voltado para os respiradores, que dir-se-iam os óculos das modernas aeronaves terrenas. Ao centro quatro poltronas em feitio idêntico, onde se acomodaram enfermeiros, tudo indicando que ali permaneciam a fim de guardar-nos. Nas portas de entrada lia-se a legenda entrevista antes, na flâmula empunhada pelo comandante do pelotão de guardas:

Legião dos Servos de Maria

Dentro em pouco a tarefa dos abnegados legionários estava cumprida. Ouviu-se no interior o tilintar abafado de uma campainha, seguido de movimento rápido de suspensão de pontes de acesso e embarque dos obreiros. Pelo menos foi essa a série de imagens mentais que concebi… O estranho comboio oscilou sem que nenhuma sensação de galeio e o mais leve balanço impressionassem nossa sensibilidade. Não contivemos as lágrimas, porém, em ouvindo o ensurdecedor coro de blasfêmias, a grita desesperada e selvagem dos desgraçados que ficavam, por não suficientemente desmaterializados ainda para atingirem camadas invisíveis menos compactas.

Eram senhoras que nos acompanhavam, por nós velando durante a viagem. Falaram-nos com doçura, convidando-nos ao repouso, afirmando-nos solidariedade. Acomodaram-nos cuidadosamente nas almofadas das poltronas, quais desveladas, bondosas irmãs de Caridade…

Afastava-se o veículo… A pouco e pouco a cerração de cinzas se ia dissipando aos nossos olhos torturados, durante tantos anos, pela mais cruciante das cegueiras: – a da consciência culpada!

Apressava-se a marcha… O nevoeiro de sombras ficava para trás como pesadelo maldito que se extinguisse ao despertar de um sono penoso… Agora as estradas eram amplas e retas, a se perderem de vista… A atmosfera fazia-se branca como neve… Ventos fertilizantes sopravam, alegrando o ar…

Deus Misericordioso ! … Havíamos deixado o Vale Sinistro !… Lá ficara ele, perdido nas trevas do abominável !…

Lá ficara, incrustado nos abismos invisíveis criados pelo pecado dos homens, a fustigar a alma daquele que se esqueceu do seu Deus e Criador!

Comovido e pávido, pude, então, elevar o pensamento à Fonte Imortal do Bem Eterno, para humildemente agradecer a grande mercê que recebia ! ’’

CAPITULO III

No Hospital «Maria de Nazaré»

Depois de algum tempo de marcha, durante o qual tínhamos a impressão de estar vencendo grandes distâncias, vimos que foram descerradas as persianas, facultando-nos possibilidade de distinguir, no horizonte ainda afastado, severo conjunto de muralhas fortificadas, enquanto pesada fortaleza se elevava impondo respeitabilidade e temor na solidão de que se cercava. Era uma região triste e desolada, envolvida em neblinas como se toda a paisagem fora recoberta pelo sudário de continuadas nevadas, conquanto oferecendo possibilidades de visão. Não se distinguia, inicialmente, vegetação nem sinais de habitantes pelos arredores da fortaleza imensa. Apenas longas planícies brancas, colinas salpicando a vastidão, assemelhando-se a montículos acumulados pela neve. E ao fundo, plantadas no centro dessa nostalgia desoladora, muralhas ameaçadoras, a fortaleza grandiosa, padrão das velhas fortificações medievais, tendo por detalhe primordial meia dúzia de torres cujas linhas grandemente sugestivas despertariam a atenção de quem por ali transitasse. Funda inquietação percutiu rijamente em nossas sensibilidades, aviventando receios algo acomodados durante o trajeto. Que nos esperaria para além de tão sombrias fronteiras?…

Pois era evidente que para ali nos conduziam… Vista, a distância, a edificação apavorava, sugerindo rigores e disciplinas austeras…

Assaltou-nos tal impressão  de poder, grandeza e majestade que nos sentimos ínfimos, acovardados só no avistá-la. Aproximando-se cada vez mais, o comboio finalmente atracou fronteiro a um grande portão, que seria a entrada principal. Para além da cornija, caprichosamente trabalhada, urdida em letras artísticas e graúdas, lia-se em idioma português esta inscrição já nossa conhecida, a qual, como por encanto, serenou nossa agitação logo que a descobrimos:

Legião dos Servos de Maria

seguindo-se  esta indicação que, emocionante, compeliu–nos a novas apreensões:

Colônia Correcional

Sem resposta às indagações confusas do pensamento ainda lerdo e atordoado pelas longas dilacerações que me vinham perseguindo havia muito, desobriguei-me de averiguações e deixei que os fatos seguissem livre curso, percebendo que meus companheiros faziam o mesmo. Não faltava à fortaleza nem mesmo a defesa exterior de um fosso. Uma ponte desceu sobre ele e o comboio venceu o empecilho fazendo-nos ingressar definitivamente nessa Colônia, não isentados, porém, de sérias preocupações quanto ao futuro que nos aguardava. De entrada, notamos pelas imediações numerosos militares, qual se ali se aquartelasse um regimento.

Entretanto, estes muito se assemelhavam aos antigos soldados egípcios e hindus, o que muito nos admirou. Sobre o pórtico da torre principal lia-se esta outra inscrição, parecendo–nos tudo muito interessante, como um sonho que nos cumulasse de incertezas:

Torre de Vigia

Em que localidade estaríamos?… Voltaríamos a Portugal?… Viajaríamos através de algum país desconhecido, enquanto a neve se espalhava dominando a paisagem ?. . , Passamos sem estacionar por essa grande praça militar, certo de que se trataria de uma fortificação guerreira idêntica às da Terra, conquanto revestida de indefinível nobreza, inexistente nas congêneres que conhecêramos através da Europa, pois não poderíamos, então, avaliar a verdadeira finalidade da sua existência naquelas regiões desoladas do Invisível inferior, cercadas de perigos bem mais sérios do que os que poderíamos presumir. Com surpresa verificamos que entrávamos em cidade movimentadíssima, Conquanto recoberta por extensos véus de neve, ou cerração pesada. Não fazia, porém, frio intenso, o que nos surpreendeu, e o Sol, mostrando-se a medo entre a cerração, deixava ocasião não só para nos aquecermos, mas também para distinguirmos o que houvesse em derredor. Edifícios soberbos impunham-se à apreciação, apresentando o formoso estilo português clássico, que tanto nos falava à alma. Indivíduos atarefados, neles entravam e deles saíam em afanosa movimentação, todos uniformizados com longos aventais brancos, ostentando ao peito a cruz azul-celeste ladeada pelas iniciais: L. S. M. Dir-se-iam edifícios, ministérios públicos ou departamentos. Casas residenciais alinhavam-se, graciosas e evocativas na sua estilização nobre e superior, traçando ruas artísticas que se estendiam laqueadas de branco, como que asfaltadas de neve . A frente de um daqueles edifícios parou o comboio e fomos convidados a descer. Sobre o pórtico definia-se sua finalidade em letras visíveis:

Departamento de Vigilância

(Seção de Reconhecimento e Matrícula)

Tratava-se da sede do Departamento onde seríamos reconhecidos e matriculados pela direção, como internos da Colônia. Daquele momento em diante estaríamos sob a tutela direta de urna das mais importantes agremiações pertencentes à Legião chefiada pelo grande Espírito Maria de Nazaré, ser angélico e sublime que na Terra mereceu a missão honrosa de seguir, com solicitudes maternais, Aquele que foi o redentor dos homens! ‘’

(…………………

]]>
Orientações da espiritualidade sobre o assunto https://rumoaluz.com.br/orientacoes-da-espiritualidade-sobre-o-assunto/ Tue, 18 Jun 2024 22:22:08 +0000 https://navajowhite-newt-408292.hostingersite.com/?p=291 O Livro dos Espíritos: Orientações da espiritualidade Sobre o assunto

Questões e comentários extraídos do site

O Livro dos Espíritos Comentado pelo Espirito Miramez(olivrodosespíritoscomentado.com)

OS ‘’BENS DA TERRA’’ NO LIVRO DOS ESPÍRITOS

Gozo dos bens terrenos

QUESTÃO  712. Com que fim pôs Deus atrativos no gozo dos bens materiais?

 “Para instigar o homem ao cumprimento da sua missão e para experimentá-lo por meio da tentação.”

A) – Qual o objetivo dessa tentação?

“Desenvolver-lhe a razão, que deve preservá-lo dos excessos.”

QUESTÃO 713 – Traçou a natureza limites ao gozo dos bens materiais?

“Traçou, para vos indicar o limite do necessário. Mas, pelos vossos excessos, chegais à saciedade e vos punis a vós mesmos.”

QUESTÃO 357 – . Que consequências tem para o Espírito o aborto?

“É uma existência nulificada e que ele terá de recomeçar.”

QUESTÃO 358Constitui crime a provocação do aborto, em qualquer período da gestação?

“Há crime sempre que transgredis a lei de Deus. Uma mãe, ou quem quer que seja,

cometerá crime sempre que tirar a vida a uma criança antes do seu nascimento, por isso que impede uma alma de passar pelas provas a que serviria de instrumento o corpo que se estava formando.”

QUESTÃO 359Dado o caso que o nascimento da criança pusesse em perigo a vida da mãe dela, haverá crime em sacrificar-se a primeira para salvar a segunda?

“Preferível é se sacrifique o ser que ainda não existe a sacrificar-se o que já existe.”

QUESTÃO 360Será racional ter-se para com um feto as mesmas atenções que se dispensam ao corpo de uma criança que viveu algum tempo?

“Vede em tudo isso a vontade e a obra de Deus. Não trateis, pois, desatenciosamente, coisas que deveis respeitar. Por que não respeitar as obras da criação, algumas vezes incompletas por vontade do Criador? Tudo ocorre segundo os seus desígnios e ninguém é chamado para ser juiz.”

COMENTÁRIO DO ESPÍRITO MIRAMEZ Á QUESTÃO 713

(trechos selecionados)

ATRATIVOS MATERIAIS

‘’Deus colocou na matéria atrativos para os homens, no sentido de ensinar-lhes a saber usá-los educando seus impulsos nas investidas dos instintos, como também, para que eles sentissem um pouco de bem-estar e passassem a gozar dos seus próprios esforços, no aperfeiçoamento das coisas em seu benefício. O objetivo dessa atração quase irresistível é para que o homem passe a educar, como já dissemos, as forças em luta dentro de cada criatura e daí surgirá a luz, sendo que o entendimento mostrar-lhe-á o caminho mais acertado para a sua paz de consciência.  (……….)

Poderemos analisar o próprio sexo; nele existe para o homem um grande atrativo, que se irradia em todos os seres, objetivando a reprodução da espécie. Se não fora isso, as raças desapareceriam por completo na face da Terra, e como ficaria a reencarnação? O sexo é a base da vida física, no entanto, existem leis que regulam a reprodução dos seres, a pedirem o bom senso. Assim, surgiu o casamento para disciplinar esse instinto que é tão forte, a ponto de levar as criaturas a desrespeitarem a lei. Os homens já saíram da faixa animal, por isso que o sexo não é livre na sua dimensão. A liberdade, neste caso, e na evolução em que os homens se encontram, lhes faz mais mal do que bem.  (o grifo é do  BLOG)   (……….)

O sexo, para a grande maioria dos homens, é um prazer incomparável, mesmo momentâneo, e por enquanto não tem substituto na concepção deles; no entanto, a consciência está ativa, para discipliná-lo nos moldes que o verdadeiro amor nos concita. (o grifo é do BLOG.)  (……….)

Jesus é verdadeiramente o disciplinador desses impulsos santos, mas que precisam ser educados para a paz de consciência. (……….)

Os caminhos da felicidade foram abertos por Jesus. O Senhor pôs atrativos nos bens materiais para estímulo dos homens, para que estes rompessem a ignorância, avançando pela porta estreita do esforço próprio, passando a conhecer a verdade.’’

]]>
União do espírito acontece na concepção https://rumoaluz.com.br/uniao-do-espirito-acontece-na-concepcao/ Tue, 18 Jun 2024 22:12:07 +0000 https://navajowhite-newt-408292.hostingersite.com/?p=286 (matéria publicada na Folha Espírita – Maio/2004)  

 http://www.amebrasil.org.br/html/aborto_uniao.htm

Os espíritos foram muito claros, nos séculos 19 e 20, ao indicarem que é no instante da concepção ou fertilização que se dá a união do espírito com a matéria. Apesar disso, o assunto ainda gera dúvidas no próprio meio espírita. Para elucidar de vez este assunto, a Folha Espírita ouviu a médica ginecologista e presidente das associações médico-espíritas do Brasil e internacional, Marlene Nobre, também autora do livro O Clamor da Vida, que discute argumentos científicos contra o aborto, entre eles justamente o de que o espírito “já está lá na hora da concepção” .

Segundo Marlene, não há dúvida de que a união do espírito com a matéria se dá no momento da concepção * ou fertilização, ou seja, no instante em que se fundem os núcleos dos dois gametas, o do óvulo e o do espermatozóide. E, de acordo com ela, isso é válido para a fertilização normal e artificial.

“A questão 344 de O Livro dos Espíritos afirma exatamente isso. (Ver Nota do BLOG). E no capítulo XIII do livro ‘’Missionários da Luz,’’ o médico André Luiz, através de Chico Xavier, descreve o momento exato em que o espírito reencarnante assume o ovo ou zigoto – o instante da concepção – imprimindo-lhe suas próprias características e modelando, a partir daí, o novo corpo físico”, aponta Marlene. A médica também afirma que no capítulo XI de A Gênese,  principalmente o item 18, Allan Kardec descreve-o da mesma maneira.

Marlene Nobre:

“Estamos certos de que, tanto na fertilização normal quanto na artificial, o processo reencarnatório é o mesmo, visto que não há dois pesos e duas medidas nas leis do Criador. Aos que supõem que a união só se dá na nidação, ou seja, no instante em que o ovo ou zigoto se aninha no útero, perguntamos: se o perispírito do reencarnante age como modelo organizador biológico, escolhendo o genoma e modelando o embrião, quem assumiria esse papel essencial, do instante da concepção à nidação? Sim, porque nesse período de vital importância, além da escolha e configuração do genoma já se deram as primeiras divisões da célula-ovo. Tendo em vista que somente o espírito tem o poder de agregar matéria e o faz valendo-se do seu magnetismo pessoal, que é único e intransferível, não podemos aceitar a hipótese de outro momento de união que não seja o da concepção”, completa. 

‘’O Clamor da Vida’’ (comentário)

No livro O Clamor da Vida (Editora FE, 2000), Marlene Nobre trata de assuntos ligados à origem da vida em nosso planeta e também da fase embrionária do ser, coletando argumentos bioéticos contra o aborto provocado.  Ensina ela :

Entre os autores que pesquisei, considero a definição dos embriologistas Moore e Persaud como uma das mais importantes para o nosso estudo” . Eles dizem que “o desenvolvimento humano é um processo contínuo que começa quando um ovócito de uma mulher é fertilizado por um espermatozóide de um homem. O desenvolvimento envolve muitas modificações que transformam uma única célula, o zigoto (ovo fertilizado), em um ser humano multicelular”.

É por isso que, segundo a presidente da Associação Médico-Espírita Internacional, o instante da união é de vital importância para a escolha do anticoncepcional. “Há os que defendem, por exemplo, como sendo anticoncepcionais, substâncias que impedem a divisão e nidação do ovo. Para nós, porém, que consideramos a concepção como ponto inicial, essas substâncias são abortivas. Este é o caso da chamada ‘pílula do dia seguinte’ que é abortiva em sua forma de ação”, declara Marlene. Do mesmo modo, segundo ela, ainda não está claro o mecanismo de ação do DIU, porque pode ocorrer uma gravidez na vigência dele. E se ocorrer a gestação, há 54% de chance de se perder o feto.

Aos que preferem o DIU e são espíritas, temos recomendado a combinação com outro método, como a camisinha, por exemplo, no período considerado fértil”, afirma ela.

]]>