O SERMÃO DO MONTE

Comentários extraidos do livro O REDENTOR

 Editora Aliança — São Paulo

de Edgard Armond

‘’Junto à cidade de Kfarnaum havia um morro — o Kurun Hatin — com vasta plataforma em um dos flancos, a mais ou menos 50 metros de altura, que podia conter centenas de pessoas.

Naquela tarde, sendo sabido que o Rabi (chefe espiritual israelita )galileu ia pregar naquele monte, para lá se dirigiu muita gente, da própria cidade e das imediações. Aos poucos formou-se uma grande assistência. Havia ali escribas e intérpretes da Lei, uns que compareciam para, disfarçadamente, vigiar a Jesus, por ordem do Sinédrio, como faziam por onde quer que Ele andasse; outros, porque o admiravam e queriam aprender a doutrina consoladora que Ele pregava; e a maioria por ser necessitada e sempre esperar atendimento às suas dores e sofrimentos morais e materiais.

À medida que chegava, a multidão ia-se separando instintivamente. os chaverins, gente da alta, se agruparam de um lado e os amharets— os homens da terra, permaneceram de outro, mais afastados, tendo o grupo de doentes ao lado.

O sol descia lentamente para o poente rubro de luz e a expectativa da multidão tocava ao máximo, quando Jesus chegou, acompanhado de seus discípulos, saudando para um e outro lado, enquanto passava e, finalmente, abrigou-se ao fundo, sob um dos ciprestes ali existentes, rodeado de seus discípulos. Cobriu-se com o tallit (espécie de manto) e começou logo a pregar.

Nesse sermão que, por si só, representa um código de moral religiosa de alta significação espiritualizante e que é a parte culminante de sua pregação, Jesus estabeleceu o sistema fundamental de sua doutrina  que, futuramente, viria a ser chamada de Cristianismo.

Nele, contradiz formalmente a suposição geral de ser um Messias político, como desejo e esperança da Nação, afirmando, positivamente,que Seu reino não era deste mundo

Pregou as oito Bem aventurança.que são: a dos pobres de espírito, a dos que choram, a dos mansos de coração, a dos que têm fome de justiça, a dos misericordiosos, a dos limpos de coração, a dos pacificadores e a dos perseguidos e injuriados.

Referindo-se aos Dez Mandamentos da Lei de Deus, recebidos por Moisés no Sinai, há vários séculos atrás, mas que perrnaneciam ainda como base religiosa dos judeus, ampliou-os mandando não matar,  — o rancor, ganancia reconciliação com os inimigos; aumentou o  6.° mandamento, o adultério — condenando qualquer pensamento, ou desejo

contrários à fidelidade conjugal; estendeu o conceito de sinceridade e da honestidade, proibindo os juramentos em nome próprio ou da Divindade, bastando afirmar as coisas como elas são: “seja o teu falar sim sim não-não”;condenou a pena de Talião, recomendando a tolerância e o perdão sistemáticos, inclusive para os inimigos, visto que os homens são todos irmãos, na fraternidade universal e na paternidade de Deus; condenou também a hipocrisia, a simulação, porque a caridade não deve ser ato de ostentação, masde amor verdadeiro ao próximo, ao qual se deve assistir sem alarde;como, também, render culto a Deus sem exibição; ensinou o desprendimento dos bens do mundo, que são transitórios; como também não se inquietarem os homens com as necessidades materiais da vida, porque o Pai as provê, segundo os méritos e as conveniências evolutivas de cada um; chamou a atenção para os falsos profetas enganadores; para a necessidade da oração, e mostrou o destino glorioso dos fiéis e o castigo dos insensatos, os primeiros edificando sua vida espiritual sobre a rocha da fé e do amor e os últimos sobre as areias movediças e ilusórias do mundo material.

Ao falar sobre a prece, ensinou o Pai Nosso, essa singela ecomovente oração, profunda e perfeita, “que contém um ato de fé, de amor e de confiança em Deus; que manifesta três desejos da alma: a glorificação do Senhor, a expansão do Reino de Deus e a submissão do homem à Sua vontade soberana e justa; expressa três pedidos diferentes a saber: para nossa miséria material, nossas falhas

espirituais,nossos erros e fraquezas; e proteção contra as tentações do mundo e  as influências maléficas”

A impressão deixada pelo sermão foi extraordinária e se manifestou de  muitas formas: os chaverins, escandalizados, murmuravam entre si, consultando os rolos das escrituras que levavam em mãos, justamente com o intuito de confundir a Jesus, apontando as divergências que porventura manifestasse sobre a Thora, e que não eram poucas, considerando-se os textos escritos e oficiais em vigor.

Quando Jesus disse: “amai aos vossos inimigos, aos que vos maldizem e caluniam, fazei o bem aos que vos odeiam e orai pelos que vosperseguem” (o que era fundamento de sua doutrina de amor e de perdão), o clamor elevou-se e diziam eles que aquilo era um absurdo, um ensinamento impraticável, sem base nas necessidades e conveniências

da vida real. E quando, falando sobre o divórcio (tema sempre apaixonante e delicado) Jesus disse: “Foi dito pelos antigos que quem deixar sua mulher dê-lhe carta de divórcio, mas eu, porém, vos digo que quem repudiar sua mulher, exceto em caso de prevaricação, faz que elacometa adultério e o homem que se casar com a repudiada, comete adultério neste ponto os fariseus, os escribas e os doutores da Lei não puderam mais conter-se e exclamaram bem alto: “de onde tirou Ele isso? Isso é contrário a lei de Moisés. Quererá Ele ser maior que Moisés?”

Essa indignação dos chaverins em parte se explicava porque, na Palestina e países visinhos, naquele tempo, o marido eraincontestavelmente o senhor e a mulher propriedade sua; e a dissolução do vínculo se dava à vontade dele, a seu bel-prazer; quando nãoqueria mais a mulher, despedia-a, simplesmente, dando-lhe uma carta de divórcio, que significava sua liberdade e autorização legal paracasar-se de novo, amparando-se a outro homem, para não ser considerada adúltera e ficar ameaçada de apedrejamento. Para evitar aexpulsão, nos casos de esterilidade (que para os judeus, era uma desgraça, um opróbio) a esposa muitas vezes providenciava uma concubina para o marido, continuando, em entendimento prévio, no seu posto, cuidando da casa; e os filhos que houvesse com aconcubina, eram considerados seus próprios, porque a esterilidade dava ao marido o direito de repudiar a mulher sem mais formalidades.

E quando, prosseguindo, Jesus falou sobre o modo pelo qual o Pai Celestialalimenta as aves e veste as flores do campo, os chaverins prorromperam em gritos, acusando-o de estar aconselhando ao povo o desinteresse pelo trabalho, o que redundaria em malefícios sociais para a nação; quando falou que não se pode servir a dois senhores, a Deus e a Mamon, gritaram que Ele estava pregando a subversão da ordem e a desorganização do trabalho; que a doutrina que pregava enfraquecia os homens, desvirilizava-os, alterava os valores morais conhecidos:transformava os defeitos em virtudes; tratava-se, pois, de uma doutrina revolucionária, incompatível com a existência da naco judaica.

Mas para o lado dos homens do povo e dos miseráveis, carentes de tudo, o efeito foi radicalmente oposto: nasceram alegrias e esperanças novas, que se marcavam no rosto de todos, e gritos de júbilo e exclamações explodiam entre eles, glorificando a Jesus.

Quando, terminado o Sermão, Jesus, exausto, quis afastar-se, o povo o envolveu, aclamando-o e foi necessário que os discípulos o arrancassem dali, quase carregando-o.

Junto à cidade de Kfarnaum havia um morro — o Kurun Hatin — com vasta plataforma em um dos flancos, a mais ou menos 50 metros de altura, que podia conter centenas de pessoas.

Naquela tarde, sendo sabido que o Rabi (chefe espiritual israelita )galileu ia pregar naquele monte, para lá se dirigiu muita gente, da própria cidade e das imediações. Aos poucos formou-se uma grande assistência. Havia ali escribas e intérpretes da Lei, uns que compareciam para, disfarçadamente, vigiar a Jesus, por ordem do Sinédrio, como faziam por onde quer que Ele andasse; outros, porque o admiravam e queriam aprender a doutrina consoladora que Ele pregava; e a maioria por ser necessitada e sempre esperar atendimento às suas dores e sofrimentos morais e materiais.

À medida que chegava, a multidão ia-se separando instintivamente. os chaverins, gente da alta, se agruparam de um lado e os amharets— os homens da terra, permaneceram de outro, mais afastados, tendo o grupo de doentes ao lado.

O sol descia lentamente para o poente rubro de luz e a expectativa da multidão tocava ao máximo, quando Jesus chegou, acompanhado de seus discípulos, saudando para um e outro lado, enquanto passava e, finalmente, abrigou-se ao fundo, sob um dos ciprestes ali existentes, rodeado de seus discípulos. Cobriu-se com o tallit (espécie de manto) e começou logo a pregar.

Nesse sermão que, por si só, representa um código de moral religiosa de alta significação espiritualizante e que é a parte culminante de sua pregação, Jesus estabeleceu o sistema fundamental de sua doutrina  que, futuramente, viria a ser chamada de Cristianismo.

Nele, contradiz formalmente a suposição geral de ser um Messias político, como desejo e esperança da Nação, afirmando, positivamente,que Seu reino não era deste mundo

Pregou as oito Bem aventurança.que são: a dos pobres de espírito, a dos que choram, a dos mansos de coração, a dos que têm fome de justiça, a dos misericordiosos, a dos limpos de coração, a dos pacificadores e a dos perseguidos e injuriados.

Referindo-se aos Dez Mandamentos da Lei de Deus, recebidos por Moisés no Sinai, há vários séculos atrás, mas que perrnaneciam ainda como base religiosa dos judeus, ampliou-os mandando não matar,  — o rancor, ganancia reconciliação com os inimigos; aumentou o  6.° mandamento, o adultério — condenando qualquer pensamento, ou desejo

contrários à fidelidade conjugal; estendeu o conceito de sinceridade e da honestidade, proibindo os juramentos em nome próprio ou da Divindade, bastando afirmar as coisas como elas são: “seja o teu falar sim sim não-não”;condenou a pena de Talião, recomendando a tolerância e o perdão sistemáticos, inclusive para os inimigos, visto que os homens são todos irmãos, na fraternidade universal e na paternidade de Deus; condenou também a hipocrisia, a simulação, porque a caridade não deve ser ato de ostentação, masde amor verdadeiro ao próximo, ao qual se deve assistir sem alarde;como, também, render culto a Deus sem exibição; ensinou o desprendimento dos bens do mundo, que são transitórios; como também não se inquietarem os homens com as necessidades materiais da vida, porque o Pai as provê, segundo os méritos e as conveniências evolutivas de cada um; chamou a atenção para os falsos profetas enganadores; para a necessidade da oração, e mostrou o destino glorioso dos fiéis e o castigo dos insensatos, os primeiros edificando sua vida espiritual sobre a rocha da fé e do amor e os últimos sobre as areias movediças e ilusórias do mundo material.

Ao falar sobre a prece, ensinou o Pai Nosso, essa singela e comovente oração, profunda e perfeita, “que contém um ato de fé, de amor e de confiança em Deus; que manifesta três desejos da alma: a glorificação do Senhor, a expansão do Reino de Deus e a submissão do homem à Sua vontade soberana e justa; expressa três pedidos diferentes a saber: para nossa miséria material, nossas falhas espirituais, nossos erros e fraquezas; e proteção contra as tentações do mundo e  as influências maléficas

A impressão deixada pelo sermão foi extraordinária e se manifestou de  muitas formas: os chaverins, escandalizados, murmuravam entre si, consultando os rolos das escrituras que levavam em mãos, justamente com o intuito de confundir a Jesus, apontando as divergências que porventura manifestasse sobre a Thora, e que não eram poucas, considerando-se os textos escritos e oficiais em vigor.

Quando Jesus disse: “amai aos vossos inimigos, aos que vos maldizem e caluniam, fazei o bem aos que vos odeiam e orai pelos que vosperseguem” (o que era fundamento de sua doutrina de amor e de perdão), o clamor elevou-se e diziam eles que aquilo era um absurdo, um ensinamento impraticável, sem base nas necessidades e conveniências da vida real. E quando, falando sobre o divórcio (tema sempre apaixonante e delicado) Jesus disse: “Foi dito pelos antigos que quem deixar sua mulher dê-lhe carta de divórcio, mas eu, porém, vos digo que quem repudiar sua mulher, exceto em caso de prevaricação, faz que ela cometa adultério e o homem que se casar com a repudiada, comete adultério neste ponto os fariseus, os escribas e os doutores da Lei não puderam mais conter-se e exclamaram bem alto: “de onde tirou Ele isso? Isso é contrário a lei de Moisés. Quererá Ele ser maior que Moisés?”

Essa indignação dos chaverins em parte se explicava porque, na Palestina e países visinhos, naquele tempo, o marido era incontestavelmente o senhor e a mulher propriedade sua; e a dissolução do vínculo se dava à vontade dele, a seu bel-prazer; quando nãoqueria mais a mulher, despedia-a, simplesmente, dando-lhe uma carta de divórcio, que significava sua liberdade e autorização legal para casar-se de novo, amparando-se a outro homem, para não ser considerada adúltera e ficar ameaçada de apedrejamento. Para evitar aexpulsão, nos casos de esterilidade (que para os judeus, era uma desgraça, um opróbio) a esposa muitas vezes providenciava uma concubina para o marido, continuando, em entendimento prévio, no seu posto, cuidando da casa; e os filhos que houvesse com a concubina, eram considerados seus próprios, porque a esterilidade dava ao marido o direito de repudiar a mulher sem mais formalidades.

E quando, prosseguindo, Jesus falou sobre o modo pelo qual o Pai Celestial alimenta as aves e veste as flores do campo, os chaverins prorromperam em gritos, acusando-o de estar aconselhando ao povo o desinteresse pelo trabalho, o que redundaria em malefícios sociais para a nação; quando falou que não se pode servir a dois senhores, a Deus e a Mamon, gritaram que Ele estava pregando a subversão da ordem e a desorganização do trabalho; que a doutrina que pregava enfraquecia os homens, desvirilizava-os, alterava os valores morais conhecidos:transformava os defeitos em virtudes; tratava-se, pois, de uma doutrina revolucionária, incompatível com a existência da nacão judaica.

Mas para o lado dos homens do povo e dos miseráveis, carentes de tudo, o efeito foi radicalmente oposto: nasceram alegrias e esperanças novas, que se marcavam no rosto de todos, e gritos de júbilo e exclamações explodiam entre eles, glorificando a Jesus.

Quando, terminado o Sermão, Jesus, exausto, quis afastar-se, o povo o envolveu, aclamando-o e foi necessário que os discípulos o arrancassem dali, quase carregando-o.’’

CRISTIANISMO : O SERMÃO DO MONTE