O PERISPÍRITO FRENTE AO SUICÍDIO

 Livro: ‘’O PERISPIRITO E SUAS MODELAÇÕES’’ de Luiz Gonzaga Pinheiro

(trechos selecionados)

NOTA DO BLOG

Antes de iniciar a reprodução dessa matéria, é importante destacar que boa parte da matéria exposta  neste BLOG sobre o referido  tema tem  raízes fincadas na portentosa obra da literatura espírita, o livro ‘’O PERISPÍRITO E SUAS MODELAÇÕES’’ de Luiz Gonzaga Pinheiro, da EDITORA EME. LUIZ GONZAGA PINHEIRO, um dedicado professor pernambucano estrutura seu relato com base em narrativas de médiuns desdobrados, que visitavam hospitais espirituais, assistindo cirurgias e fazendo entrevistas acompanhados de mentores espirituais.

Porque o termo ‘’modelações’’ ?  Porque,  nesses hospitais, os médicos espirituais, por meio de cirurgias avançadíssimas, procedem a remodelação dos órgãos do  perispírito ou corpo espiritual danificados por ocasião do desencarne em situações as mais variadas e trágicas possíveis. Essa obra destaca o quanto desconhecemos a respeito das   intervenções dos médicos espirituais para literalmente  ‘’reconstruir ‘’ espíritos desencarnados   por meio de  instrumentos que estão séculos à frente  da nossa Medicina terrestre.

Obs.:  www.ebookespirita.org  disponibiliza o conteúdo de domínio público e a propriedade intelectual dessa obra.

Esta referência será reproduzida sinteticamente nas  várias oportunidades nas quais este BLOG apresentar matérias que terão o PERISPÍRITO ou CORPO ESPIRITUAL como foco central das preocupações da Medicina Espiritual, com o objetivo de remodelar seus órgãos. É uma justa homenagem aos médicos espirituais e à LUIZ GONZAGA PINHEIRO e sua equipe de médiuns que nos legaram o precioso livro ‘’O PERISPÍRITO E SUAS MODELAÇÕES’’.

Capítulo   43

O PERISPÍRITO FRENTE AO SUICÍDIO

(disponibilizado por  www.ebookespirita.org )

‘’Eu via por aqui, por ali, estes traduzindo, de quando em quando, em cacoetes nervosos, as ânsias do enforcamento, esforçando-se, com gestos instintivos, altamente emocionantes, por livrarem o pescoço, intumescido e violáceo dos farrapos de cordas ou de panos, que se refletiam nas repercussões perispirituais, em vista das desarmoniosas vibrações mentais que permaneciam torturando-os! Aqueles, indo e vindo como loucos, em correrias espantosas, bradando por socorro em gritos estentóricos, julgando-se de momento a momento, envolvidos em chamas, apavorando-se com o fogo que lhes devorava o corpo físico e que, desde então, ardia sem tréguas nas sensibilidades semimateriais do perispírito! Estes últimos, porém, eu notava serem, geralmente, mulheres. Eis que apareciam outros ainda: o peito ou o ouvido, ou a garganta banhados em sangue, oh! sangue inalterável, permanente, que nada conseguia verdadeiramente fazer desaparecer das sutilezas do físico-espiritual senão a reencarnação expiatória e reparadora! Tais infelizes, além das múltiplas modalidades de penúrias por que se viam atacados, deixavam-se estar preocupados sempre, a tentarem estancar aquele sangue jorrante, ora com as mãos, ora com as vestes ou outra qualquer coisa que supunham ao alcance, sem, no entanto, jamais o conseguirem, pois tratava-se de um deplorável estado mental, que os incomodava e impressionava até o desespero!

Memórias de um Suicida – Psicografia de Yvonne Pereira (Cap. II, pág. 45)

O PERISPÍRITO FRENTE AO SUICÍDIO

  1. 0 VALE DA DOR

Quando o Espírito desencarna, ainda traz consigo fluidos animalizados, bem como determinadas substâncias adquiridas pelo hábito alimentar e toxinas outras em seu perispírito, das quais necessita liberar-se para convivência harmoniosa no novo meio, o qual exigirá do seu organismo um metabolismo menos adensado, embora igualmente complexo. A depender do gênero de vida e de morte, que em última instância são reflexos do estágio moral de cada ser, este poderá passar apenas algumas horas, em região compatível com a densidade do seu perispírito e do seu estado mental, vibratório e moral, desvencilhando–se da vitalidade e demais fluidos anímicos. Cortada a âncora que nos retém às ondas da matéria, encontramos o mar alto da espiritualidade; este é o destino irrevogável de todos. Mas, o porto que cada um encontra depende de como navegou em vida. Por esta razão, há os que passam dias, meses, anos nesse penoso drama, como acontece aos suicidas, o qual geralmente corresponde ao tempo que ele amputou de si mesmo, encurtando o calendário imposto ao seu retorno, para uma programação reencarnatória que trazia o selo do seu compromisso de honra.

Essa diminuição de tempo na matéria quando em caráter culposo, tal é o caso dos viciados, que impõem grande desgaste aos seus fluidos vitais e ao seu perispírito, e dos suicidas, os excluem da espiritualidade propriamente dita, pois não são livres para percorrê-la, limitando-se a região própria, ponto de convergência de mentes atormentadas, que se aglutinam pelo fenômeno da sintonia. Passam então por sofrimentos atrozes, pois que, ao tormento de um, adicionam-se as vibrações dos seus iguais, como se houvesse a repercussão do sofrimento sobre o sofrimento, resultando num somatório, cujo limite ou ponto de albergue, é a loucura completa sem perder a consciência.

Assim é o vale da dor, conhecido como vale dos suicidas. Indescritível pela linguagem humana. Incompreensível em sua essência para aqueles que lá não pernoitaram como vítimas, e que por tal sorte devem agradecer e louvar a Deus a assistência e a proteção. No vale da dor, cada habitante traz os estigmas do sofrimento lancinante e enlouquecedor. São como fantasmas que carregam em seus semblantes, o lodo, a lama das sepulturas, farrapos, coágulos sanguíneos e igualmente, o sangue que jamais cessa de jorrar, movimentando-se sem destino aparente sobre solo pestilento sem vegetação ou flores; sob o céu escuro, como se constantes rolos de fumaça espessa encobrissem o sol. Assustam-se a cada momento ao impacto de cenas de afogamentos, enforcamentos, tachas humanas, estampidos de armas de fogo, esgares, vísceras expostas daqueles que ingeriram o ácido que corrói as entranhas.

É que o suicida, vibrando poderosamente na imagem retida na memória, formada no instante dramático do suicídio, materializa no ambiente, desde a forca na qual se deixou aprisionar o infeliz que nela se mostra com os olhos a saltar das órbitas, ao barulho e estalar de ossos em trituramento sob os comboios, retalhando não apenas o corpo, mas igualmente o perispírito daquele que, como última e verdadeira desgraça da vida, perdeu a esperança e a fé n’Aquele que o criou e ama. Em muitas situações, antes de serem transportados ao vale, o auxílio imediato é subtraído, porque seu desequilíbrio gera absoluta incapacidade de sintonia mental, ficando os amigos espirituais apenas a vigiá-lo em caridosa expectativa.

André Luiz, em seu livro, Missionários da Luz, cita-nos o caso de Raul, que, havendo praticado o suicídio, dissimulando-o sob a farsa de um assassinato, ficou jogado sobre poça de sangue, quando um bando, composto por dezenas de Espíritos delinquentes, dele abusou, vampirizando-lhe os fluidos vitais, deslocando-o para outros sítios, efetuando-se o resgate quando as condições favoreciam o êxito da empreitada.

Por sua vez, Bezerra de Menezes, no livro, Dramas da Obsessão, narrando um caso de obsessão de desfecho suicida, descreve o local onde houvera dois suicídios, estando os dois Espíritos ainda no local da tragédia. Um deles vagava a bradar por socorro, pois despedaçara o crânio com um tiro, e o outro permanecia desmaiado, em coma, devido ao choque brutal do envenenamento, ocorrido há mais de dez meses.

A dor?… Como descrevê-la quando atinge proporções inimagináveis ao desvincular-se da fé e da esperança?

Oh Deus! Inspira aquele que tudo tem de material, ao transeunte absorto, ao religioso, ao indigente, ao solitário, ao contente, ao sofredor, ao poeta, ao romântico a orar por tais irmãos, porque sabemos ser o único auxílio capaz de minorar a dor, balsamizar o sofrimento, suavizar a loucura; para que um dia possa nascer no vale sombrio uma roseira sem que suas rosas sejam imediatamente fulminadas pelas vibrações da dor.

2. A CRISTALIZAÇÃO DO PENSAMENTO

Todo suicida grava de maneira marcante a imagem trágica do seu ato trágico. Estaciona a mente no instante sofrido da fuga, que se constitui em registro da fragilidade de que é dotado frente às suas aflições, para ele intermináveis e superlativas. Essa cristalização da imagem, em muito dificulta todo e qualquer tratamento perispiritual, pois não dá margem a que nenhuma outra motivação lhe sobreponha, desviando o foco do cerne do seu problema.

Como a modelagem perispiritual requer a atuação mental do Espírito, que a mantém ou desfaz, fácil se torna entender por que o suicida é um paciente de difícil tratamento e de torturada aparência. Como terapia básica, os técnicos procedem a tratamentos psicológicos e psiquiátricos com a finalidade de subtrair da mente a cristalização incrustada, obstáculo imediato ao auxílio mental que o enfermo pode prestar a si mesmo.

Vejamos como o médium desdobrado descreve tal ensinamento: Albert manda que eu fixe o olhar demoradamente sobre os órgãos. Estão todos estraçalhados. Não existe o coração. É somente urna porção de carne. Ele diz que esse Espírito vai demorar muitos anos, até que venha a reencarnar. Não há como proceder a urna modelagem agora, porque ele registra muito fortemente o suicídio em sua mente.

Mesmo que a modelagem fosse tentada, a mente dele desorganizaria. Vejo que o instrutor toca a parte encefálica do paciente que observamos. Quando seu dedo atinge determinados pontos cerebrais do perispírito inanimado, pois o Espírito está em coma, uma parte do corpo parece estremecer. Mostra-me em um telão a imagem cristalizada. É como um filme. As imagens do suicídio são sequenciadas, parando bruscamente _no instante fatal do desencarne.

Dizem que essa imagem final é que está cristalizada e que precisa ser removida. Eles apenas quiseram fazer-me uma demonstração. Uma vez que esse Espírito seja despertado e induzido a elevar sua auto-estima, diz Albert, será removido para modelagem de seus órgãos.

  1. SUICIDAS

Para observação de suicidas, os médiuns após o ato do desdobramento muitas vezes eram levados a regiões verdejantes, de oxigenação abundante, e aconselhados a absorver profundamente o magnetismo ambiente, quais mergulhadores que, para adentrarem as regiões oceânicas submersas, fossem submetidos a exercícios de relaxamento, absorção, mentalização e retenção de fluidos vitais em seus organismos.

A parcela suplementar de fluidos absorvidos funcionava a guisa de reserva, pois, adentrando regiões de vibrações hostis, cumpria–lhes manter o equilíbrio, observar com atenção, narrando em detalhes e com fidelidade tudo que lhes fosse mostrado e explicado, tarefa que exigia um esforço redobrado de concentração, em região em tudo desconhecida para eles. Seus corpos perispirituais eram revestidos por roupões isolantes em alguns casos, à semelhança das roupas protetoras contra radiações atômicas, para que as vibrações dos suicidas não lhes causassem desarmonias orgânicas. Recebiam passes reconfortantes e eram amparados (devido à rudeza das cenas) frente a corpos retalhados, objetos de estudos, mas, igualmente, visão macabra a quem os observasse. Tocavam ainda os cadáveres, arguiam, descreviam, pesquisavam, admiravam-se, sentiam repulsa, frente aos restos humanos, mas a tudo se submetiam de boa vontade, porque sabiam do amparo do Cristo, pela nobreza da tarefa que executavam.

A cada encontro, os Espíritos reforçavam o conselho: É preciso estudar mais o corpo humano! O cérebro, os sistemas, a vida! Depois, de quando em vez, eram levados para um mergulho no mar, em cachoeiras, singelo presente e prova de carinho, para quem cumprira o dever com dignidade, sem decepcionar aos amigos ou desgastar a confiança que unia os dois grupos em um mesmo objetivo: o conhecimento.

Assim é que, com imenso respeito pela dor alheia, descrevemos as marcas ulcerosas dos perispíritos dos suicidas.

4. SUICÍDIO POR ARMA DE FOGO

Transcrevemos a narração da médium, para que os detalhes e as particularidades do ambiente fossem mantidos, bem como as palavras originais dos nossos instrutores:

— Os Espíritos nos dizem que vamos a uma região de psicosfera muito densa, com finalidade de observar suicidas que já foram recolhidos do Vale, e cujo gênero de morte foi o petardo fatal da arma de fogo.

Estamos caminhando em uma estrada bastante estreita, em formação indiana, no que me situo no meio da fila. Nesse instante sinto como se o clima começasse a mudar. Assemelha-se a um final de tarde prestes a escurecer. Chegamos a uma espécie de hospital, e um senhor de cabelos grisalhos nos encaminha a uma ampla sala. Aqui existem quatro Espíritos que desencarnaram por suicídio. A localização do tiro que cada um deu em si, encurtando a permanência na carne, foi diferente em cada caso. Tiro no coração, no ouvido, na testa e na garganta, respectivamente. Khrõller coloca a mão em minha cabeça e sinto algo como um revigoramento. Não tenha medo, disse–me. O medo pode afetar a sua observação e a transmissão do quadro. Esses Espíritos encontram-se na mesma condição do instante do desencarne.

Esse Espírito, que você está observando (tiro no ouvido), há quanto tempo desencarnou?

— Há quinze anos. Mas apresenta-se tal qual se infelicitou em tão triste momento. A condição é a mesma. O instrutor diz que ele se encontra em uma espécie de coma, apesar de ter sentido todo o drama comum a esses casos, tal como o efeito da decomposição cadavérica e a repercussão das picadas dos vermes em seu corpo. No entanto, apresenta-se como auto-anestesiado numa tentativa de fuga da realidade. O tiro penetrou o ouvido direito e saiu na região frontal. Observo atentamente sua cabeça. O cérebro está esfacelado; o crânio rachado; as circunvoluções cerebrais por onde passou o projétil estão destruídas; o sangue jorra pelo nariz, ouvido e boca, e todo o seu rosto é uma expressão horrível de pavor.

Os técnicos estão colocando-lhe um aparelho; algo como um capacete, no qual através de fios passam energias retiradas dos vegetais, do fluido universal e deles, técnicos. (Engraçado! Sempre me dizem isso quando se reportam a algum tipo de terapia usada. Deviam detalhar mais. Você não acha?)

Os Espíritos que atuam com essas energias são técnicos especializados nesse tipo de atendimento, e para isso estudaram bastante na Espiritualidade. O instrutor explica que esse paciente, ao reencarnar, terá uma morte prematura, ou simplesmente nascerá morto, por ser portador de um cérebro danificado, havendo a necessidade de uma ou mais existências nessas condições, para que as células especializadas do seu cérebro possam ser modeladas pela ação organizadora do corpo físico. Ele reencarnará breve e apresentará hidrocefalia, vivendo na carne algumas horas ou dias apenas. Na segunda tentativa reencarnatória, ele ainda apresentará lesões em seu cérebro perispiritual, que serão repassadas ao físico sob a forma de doenças mentais, epilepsia, paralisia cerebral ou patologias semelhantes.

— Mas ele tomará conhecimento disso?

Não! O caso dele será semelhante ao de alguém que tomou uma anestesia, fez uma operação, e após esta, recobrando os sentidos, não sabe o que lhe aconteceu. — Os Espíritos não poderiam fazer a modelagem da parte cerebral afetada para que ele reencarnasse em condições de saúde?

 — Tecnicamente sim. Mas, existem regras básicas que impossibilitam esse procedimento.

— Quais?

— A Lei de Causa e Efeito e o problema consciencial do Espírito. Um suicida traz sempre na consciência a lembrança do gesto tresloucado que lhe tirou da arena de lutas necessárias ao seu próprio crescimento. Considera-se, às vezes, um fraco, um covarde, indigno de comiseração. Por mais que seja modelado seu perispírito, a sua consciência irá cobrar, exigir reparo daquilo que foi danificado. Nós, os modeladores (estou repetindo o que ele diz), não podemos interferir na Lei de Causa e Efeito. Apenas amenizamos o sofrimento, obedecendo ao merecimento do Espírito frente às conquistas morais que apresenta.

Jamais poderemos retirar a lesão causada pelo próprio ser em si mesmo, em sã consciência. Só Deus pode modificar esse comportamento. A reencarnação é a forma imediata e mais adequada para a recomposição perispiritual do suicida, onde ele materializará no corpo físico os estigmas que causou a si mesmo. As cirurgias, enxertos e modelagens que efetuamos, possuem a função de organizar, reestruturar o organismo para que, apesar de no futuro o corpo vir a apresentar anormalidades, tenha um funcionamento que possibilite a sua permanência em atividade, como bênção para esse Espírito, embora em muitos casos, uma permanência puramente vegetativa.

Mas, o suicida através do esforço, da boa vontade, do trabalho e da disciplina mostrados na erraticidade, não pode conquistar a dádiva de — corpo físico perfeito pelo que então construiu?

— Depende. Os suicidas involuntários não apresentam no físico, os estigmas, mas quase sempre os carregam em seus perispíritos, como forma de auto-obsessão, dores incuráveis que não encontram resposta na  medicina  terrestre, problemas angustiantes, depressões inexplicáveis, mas que possuem sua gênese na matriz perispiritual.

 Para esses, o exercício do amor ao próximo levado a efeito em tarefas enobrecedoras, o cultivar do otimismo, a oração sincera, a meditação em temas que fortaleçam a fé, o conduzir-se mediado pela disciplina  e a prática da perseverança no Bem, constituirão salutar remédio.

Tal filosofia de vida os libertará dos melancólicos problemas, ou no mínimo, os tornarão reduzidos, microscópicos até, pela observação e participação benéfica na erradicação das dores alheias. Os suicidas voluntários, que danificam o corpo em sã consciência, trazem na matriz perispiritual as lesões que deverão plasmar-se no físico, pois os técnicos em reencarnação traçam seus mapas genéticos, observando a ficha do suicídio em questão. Nessas fichas são anotadas as lesões orgânicas, o gênero de morte, causa do suicídio e demais dados pessoais.

Como regra geral o suicida deve reparar o mal que fez a si, harmonizando-se com o seu corpo, outrora marcado, o que ocorre através de lesões nos órgãos afetados. Isso não quer dizer que jamais ocorra que um suicida receba por mérito um corpo físico aparentemente saudável. Ocorre que, embora o problema físico seja amenizado ou torne-se inexistente, o suicida sempre portará na sua reencarnação imediata uma espécie de reflexo,  um velado pesar na consciência, um indefinido sentimento de culpa em sua intimidade.

Somente o abnegado amor ao trabalho fraterno preencherá tais lacunas e o fortalecerá para a superação das condições que o levaram ao suicídio no  passado, e que, certamente, se apresentarão em semelhança espantosa no presente.

 — Mas, digamos que o suicida reencarnado não corresponda à expectativa de crescimento esperado, o que lhe ocorrerá?

—  O exercício do amor fortalece o Espírito, dotando o perispírito de uma maior resistência fluídica, melhor desempenho energético, diminuindo sua vulnerabilidade frente aos bacilos, vibriões, larvas e petardos mentais de inveja, cólera, ciúme e outras enfermidades.

A oração e o trabalho funcionam como vacinas imunizando e  fortalecendo o perispírito contra fluidos nocivos. No sentido inverso, o Espírito não dispõe da ajuda eficiente dos bons  Espíritos, que dele se afastam. Sua acomodação ou desregramerto provoca uma queda  no tom vibratório do seu perispírito, que passa a operar com baixas parcelas energéticas, tornando-o vulnerável a invasão  microbiana diversificada. É então que, pela imprudência a doença virá. Sendo o amor alimento essencial ao Espírito, aquele que dele não faz uso, debilita-se, e debilitado enfermiça. Agora estamos observando outro caso O suicida que atirou na testa, no centro da região frontal. Vejo como se seu cérebro estivesse em parte vazio. O efeito da bala em seu percurso provocou um derretimento de frontal a parietal. Vejo nitidamente a abertura, como um caminho situado na parte superior do cérebro. Os técnicos estão aplicando passes na região afetada e o suicida ”tão apresenta nenhuma reação às descargas energéticas.

O cérebro que ora observo, encontra–se em diferentes condições do que observei há pouco. No outro, eu vi a massa cinzenta, as circunvoluções, os neurônios… Este se apresenta algo transparente, sem as partes que eu citei. Parece uma fôrma com os detalhes que precisam ser materializados.

Dizem os técnicos que neste caso existe a necessidade de modelação de um novo cérebro para que o Espírito possa manifestar a sua vontade, o que não pode ser feito sem os centros de controle que foram afetados pelo tiro.

Estou vendo acima de sua cabeça cenas confusas. Parece que ele pensa e de imediato desfaz o pensamento. Isso ocorre, diz o instrutor, porque ele desarticulou ou os centros de controle cerebral, não podendo externar adequadamente seus pensamentos. Existe uma dificuldade em fixar o pensamento e de impor a ele uma diretriz, conservando-a. Observo e vejo que é uma mulher. Ela encontra-se aqui há vinte e cinco anos e sua recuperação é muito lenta. A reeducação neste caso ultrapassa o psiquismo, pois a fisiologia também tem que ser exercitada. Como destruiu o centro da visão, vai iniciar por ver sinais, cores, imagens simples; também vai reaprender a falar. Ela se encontra na condição de quem tudo esqueceu, precisando reaprender para então encarnar. Não o fará, todavia, com o vazio no cérebro referente ao dano causado pelo tiro, pois os técnicos promoverão os reparos necessários. Mas, a parte afetada corresponderá no físico a  uma lesão  irreversível, espécie de justaposição de células, inadaptadas para as suas reais funções.

Esse gênero de suicídio pode gerar, por ocasião do reencarne, enfermidades tais como: nascimento prematuro, lesões profundas no cérebro, acarretando surdez, mudez, cegueira, hidrocefalia, idiotia completa, ou mesmo, condições vegetativas de vida. Mostra–me, o instrutor, um cérebro que quase não apresenta circunvoluções cerebrais. É quase todo liso. Como a ministrar urna aula, elucida que as regiões lisas representam as partes afetadas pelo tiro e que por ocasião do reencarne dessa paciente as partes danificadas não lhe obedecerão ao comando. Fala que, embora elas sejam compostas por células vivas, não terão as condições de efetuar o trabalho que lhes competiam realizar. Sugere agora uma pausa para meu refazimento.

5. SUICÍDIO DE GESTANTES

DESDOBRAMENTO DE OUTRO MÉDIUM

Este médico, este senhor que me orienta, diz chamar-se Charles, e pede que eu narre com detalhes e de maneira a não deixar dúvidas, tudo aquilo que me for apresentado. Pergunta-me se li a respeito do suicídio de gestantes, no que se refere à anatomia e fisiologia da gravidez e do feto. Respondo-lhe que não, e ele lamenta, sem, contudo, repreender–me. Afirma que a razão de suas dúvidas (dúvidas do dirigente) não está na complexidade do que eles explicam, mas na maneira como nós transmitimos; em forma sintética, na linguagem telegráfica, sem os detalhes técnicos e5dgidos para uma perfeita assimilação.

Vou ler a placa afixada à porta: Centro Obstétrico Perispiritual, Na mesa de operação, uma jovem desencarnada, e, ao seu lado, alguns médicos e uma senhora já idosa, que acompanha a cena compadecida, mas ao mesmo tempo carinhosa. Essa senhora, explica Charles é uma espécie de tutora da jovem suicida.

Iniciando o parto à semelhança dos praticados em nossos hospitais, vejo que fazem urna incisão para a retirada da criança pelo ventre. Essa jovem, desesperada pelo abandono do namorado, após ingerir várias drogas para provocar o aborto sem lograr êxito, pois a gravidez já se avolumava pelo sexto mês, atirou em sua cabeça. O desprezo que ela sofreu provocou-lhe o primeiro trauma, que afetou o reencarnante. As drogas para o aborto aumentaram-lhe a aflição, até que o tiro veio romper o laço que os unia, permanecendo o perispírito materno, apenas guardando o perispírito reduzido, sendo agora retirado.

Até este momento, o Espírito materno encontra-se desacordado. A criança retirada chora… É curioso! Tudo é feito como se estivéssemos na Terra! A criança é recebida por uma enfermeira. Estamos observando o cérebro da suicida. Ela atirou no ouvido. Houve uma espécie de explosão no cérebro. Os técnicos retiram dele substâncias enegrecidas, devagar e parceladamente, qual se procedessem a uma assepsia, que é seguida de recomposição de neurõnios e fibras. Ao mesmo tempo em que os médicos trabalham, outro técnico faz anotações. (Sempre noto a presença de alguém fazendo anotações na tal ficha cármica),

Na parte superior da ficha está escrito: Homicida e suicida. Segue–se o nome, o nascimento, a data provável em que deveria desencarnar, o volume de forças vitais por ocasião do suicídio, estado mental, grau de instrução, ambiente em que viveu, data, local, gênero de suicídio, órgãos atingidos… Puxa não deixam escapar um detalhe sequer. Todas essa informações serão averiguadas por ocasião do projeto do seu mapa cármico a ser elaborado para futuras encamações.

Vejo agora a retirada de um líquido de um tubo, que tem a função de auxiliar na restauração do cérebro danificado. Ela precisa desejar recobrar os sentidos, mas para isso necessita de um cérebro modelado; caso permanecesse com este danificado, não poderia expressar seus desejos ao recobrar a lucidez. Quando ela despertar ainda sob o trauma do suicídio, tornará conhecimento do que fez. Verá as cenas da cesariana pela qual passou, ficando ciente de que causou a morte do filho, não sendo os prejuízos oriundos do suicídio restritos apenas à sua pessoa. Por essa razão é que os técnicos precisam atuar primeiramente em seu cérebro. O líquido usado possui função aglutinante e modeladora das estruturas cerebrais, atuando sob o impulso do pensamento e da vontade desses abnegados técnicos do mundo espiritual. Aqui também, e isso já está repetitivo (eles dizem que nunca é demais repetir esse fato), no cérebro ficará a marca do que foi lesado, pois, mesmo havendo condições de modelagem de um cérebro perfeito, eles não interferem na lei do carma.

Eles concluem dizendo como será o procedimento junto a esse Espírito, quando ele recobrar a consciência. Eles irão chamar a sua atenção para a cirurgia feita. Ela verá a incisão pelo espelho no teto. Ainda com a mente conturbada, ela enfrentará a realidade a que  se condenou. Será mostrada a sua ligação com o reencarnante frustrado e o instante do seu desenlace.

Vamos agora examinar outro caso. E urna mulher com o ventre muito volumoso. Ela deu dois tiros em si mesma. O primeiro foi na criança que abrigava em seu ventre e o segundo foi em seu coração.

A explicação do instrutor é que são dois Espíritos que se odeiam e que o caso dessa irmã suicida se complicou muito com essa atitude, pois sofre agora a ação odienta daquele que deveria ser seu filho. Este, alojado no ventre, recusa-se a sair, provocando os mais variados distúrbios. Observo uma cena horrível! A criança parece querer rasgar o ventre materno. Ela apresenta a forma de um  pequeno monstro.  (Isso é de assustar!) Os técnicos me orientam para que eu não me impressione, pois vejo apenas projeções mentais desses dois Espíritos que se digladiam, em perfeita sintonia pelo ódio.           

O que estou vendo é a vontade, o pensamento tornado imagem, desse Espírito que não chegou a encarnar. Enfermeiros ministram passes e tudo volta à normalidade. Vejo nesse instante apenas a mulher, com o peito e o ventre sangrando. Ligados a ela existem aparelhos, à semelhança de material hospitalar específico para respiração artificial. Procedem ao parto e recolhem a criança. É um menino. Ele possui uma forma escura, também de criança ao seu lado; pergunto ao instrutor a razão dessa sombra, no que me responde ser uma projeção mental dele que queria permanecer naquela condição para massacrar a invigilante mulher que o atingiu. Ele fixa o pensamento nessa forma infantil, para que seu perispírito continue criança, ligado às entranhas da mãe, para castigá-la.

Apesar da criança já encontrar-se no berçário, os Espíritos não cortaram uma  espécie de fio que a prende à mãe. Esse fio caracteriza a união pelo ódio, nesse caso de obsessão de desencarnado para desencarnado. A criança, que teve o seu perispírito avariado e não tem condições mentais para a modelagem, poderá ser auxiliada. em reuniões mediúnicas, quando estiver apta para tanto. A mãe, duplamente culpada neste episódio, terá que passar por processos de descristalizações de imagens, reeducação mental e fortalecimento moral. Doutrinação para ambos, sem, contudo, tolher-lhes o livre-arbítrio.

Você falou que a criança parecia um pequeno monstro. Explique melhor este fato.

— São deformações perispirituais provocadas pelo seu pensar odiento. Por ocasião do parto vi uma criança normal, mas, observando detalhadamente, percebi que as feições eram monstruosas, talhadas pelas vibrações mentais dele. Diz ainda o instrutor que este é um caso de vampirismo de desencarnado para desencarnado. Esse Espírito que ora obsidia e vampiriza a mãe, se alimenta das vibrações mentais dela, podendo eles, técnicos, promoverem a separação, mas não interferem na vontade de ambos.  Provavelmente nascerão gémeos problemáticos, ou .xifópagos, e que Deus os inspirem na reconciliação, para que os danos não sejam..pesados demais, vergando-lhes os ombros, dificultando a contemplação do alto, finaliza o instrutor.

6. SUICiDIO POR RETALHAÇÃO

Antes do desdobramento da médium, fomos avisados de que o estudo planejado para aquela noite, obedecendo à sequência já estabelecida, seria efetuado com a visita aos irmãos retalhados. Que orássemos e mantivéssemos a vibração elevada, posto que a dor ali no local da visita é algo fora do padrão ao que estávamos acostumados a assistir. Eis, portanto, a descrição da médium, frente aos restos perispirituais dos irmãos a quem chamamos de retalhados:

— Sim! Entendi. Ditar de maneira clara sem procurar envolver–me emocionalmente.

Primeiramente, observo um rapaz de idade entre 25 e 30 anos, que se atirou sob as rodas de um trem em pequena cidade do Interior. A sua situação é lastimável. Foi partido ao meio pela locomotiva, e percebo as partes do seu intestino trituradas; o fígado partido e os ossos moídos. Mas, apesar do seu corpo físico ter sido partido ao meio, em seu perispírito isso não ocorreu. As duas metades encontram-se unidas por leve película que impede essa separação. Aqui, diz o irmão que nos orienta, se faz necessária a remoção de todos os órgãos afetados, sendo que alguns podem ser substituídos por outros já preparados.

— Assim como um transplante?

Sim! Mas essa reposição ou substituição pode ser feita também, utilizando-se técnicas de enxertos nos tecidos lesados. Entretanto, no caso observado, por estar o rapaz alcoolizado durante o suicídio, seus órgãos encontram-se com outros fluidos nocivos, razão pela qual eles optaram por uma total substituição.

Vão retirar todos os órgãos danificados e colocar outros como ocorre em um transplante?

— Isso! Após a recomposição ou modelagem interior, eles procederão a uma cirurgia, semelhante a uma plástica, para unir as metades semi-separadas, unidas apenas pela película que citei.

Encaminhamo-nos para outro suicida. Esse local onde me encontro é um hospital reservado para tratamento de casos graves de suicídio com grandes lesões perispirituais. A condição desse Espírito é a de uma morte aparente, coma prolongado; algo como uma letargia, pois este é na realidade o desejo que predomina em sua consciência, abafando os anseios de vida que são naturais em todas as espécies. Se o suicida se arrepende na hora extrema, o que é comum quando praticado o ato, conserva em sua mente o desejo de voltar a viver, favorecendo o trabalho dos técnicos. Tal não é o caso dos pacientes que observamos. Esse infeliz que está à minha frente, possui cortes profundos em seu corpo. O sangue parece minar dos seus poros, e os pedaços do seu corpo procuram juntar-se sem conseguir recompor a anatomia humana, muito prejudicada pelo comboio. Não há como identificar a fisionomia, visto que ele foi totalmente esmagado. Posso distinguir algumas vísceras que estão expostas e que parecem tremer, no esforço desesperado para o retorno à vida. Será um processo lento de recuperação, diz o instrutor. Esse Espírito ficou consciente no momento em que era estraçalhado na ferragem, e está ciente de que morreu mesmo, embora, quando pequena réstia de lucidez atormentada se lhe apresenta, ele volte a reviver a cena, na qual permanece preso a cristalização demorada. Sem se aperceber de que, pela repetição do fato e a duração do estado angustiante, já lhe teria sido possível morrer mil vezes, continua querendo anular-se em luta desesperada para sair do fundo do poço em que se encontra. Ele não quer viver! Essa é a realidade do momento. O instrutor afirma que o trabalho junto a esses irmãos se reveste de inúmeras dificuldades, pois eles querem continuar mortos, procurando ignorar até mesmo a existência do Espírito. Salienta, todavia, que muitos de nós, encarnados, vamos durante o sono físico ministrar-lhes passes e envolvê-los em preces e vibrações amorosas, constituindo-se essa doação em bálsamo dulcificante para as suas dores. O tratamento inicial nesse caso é o despertar da morte, no que se segue a reeducação mental que propicia a modelagem. Esse tratamento consiste em uma espécie de indução. São despertadas da mente do suicida, cenas dele próprio; momentos alegres que viveu, entes amados, dentre outras. Existem técnicas para isso neste hospital.

Essas cenas motivam a mente para um retorno à vida. Promovem um despertar, embora angustiado, gerando esperanças e desejos de soerguimento. Após essa indução, segue-se o treinamento para a remoção da cena coagulada (sabe que eu não entendo como isso é feito) prolongando-se o tratamento de maneira mais eficiente, pois conta com o desejo do paciente em promover sua cura. Apesar de tudo isso, o trauma do suicídio continuará impresso na mente. Este ninguém consegue retirar, a não ser ele mesmo, através de reencarnações dolorosas. Este irmão, conclui Albert, provavelmente levará a mãe ao desencarne quando tentar mergulhar no corpo denso. Agora, retorno para que o estudo prossiga com outro médium.

7. O SUICÍDIO POR EXPLOSÃO

O suicídio não é um ato impensado e decidido improvisadamente. Existe um planejamento anterior, motivado por uma inadaptação para com a vida, que tem causas na presença de psicoses, na depressão profunda, na perda de valores pessoais, no desejo de punição, na falta de preparo diante das perdas, no isolamento e infelicidade. Às vezes, antecede o suicídio, agitação e ansiedade exageradas e a perda dos quatro apetites: fome, sexo, sono e atividade. Há ainda que considerar o sentimento de culpa que transborda do inconsciente para o consciente, impregnando-o do desejo de autopunição, por não perdoar-se em participação de ações indignas perpetradas em passado reencarnatório.

Isso caracteriza uma auto–obsessão dominadora, culminando com o suicídio induzido, onde existe não raro a participação de terceiros, credores impacientes e desavisados quanto às diretrizes das leis divinas. Em qualquer desses casos, com exceção da loucura, o suicídio tem preparo prévio e decisão inadiável, por força de um raciocínio distorcido, que julga ter a morte o poder de tudo apagar, pulverizar a situação dolorosa, a vergonha, o medo, a vida.

A sobrevivência do Espírito, argumento que a consciência se anima a lembrar, nem sequer é cogitado nesses instantes de loucura. Caso a condição de indestrutibilidade fosse evocada, essa realidade traria inúmeros desdobramentos, e forçoso seria concluir que, na fuga para não se precipitar no abismo interior que o apavora, cairia em despenhadeiro mais profundo e mais íngreme, caso tentasse o suicídio. Quando o suicídio é motivado pela falência material, o seu autor substitui o cobrador de simples títulos por carrasco inflexível, a exigir títulos morais.

O tiro, o laço, o ácido, o veneno, em nada subtrai a dor jii existente; antes, adiciona-lhe material corrosivo, a queimar o mais intimo da sensibilidade, provocando máscaras de pavor. As chagas da cicatrização só surgirão após muitas lágrimas, lavando com o sal da penitência as úlceras da desobediência às leis maiores. Quanto sofrimento evita a lembrança de Deus e a sua coerente interpretação.

Quanto mais intenso o desejo de anular-se, mais o gênero da morte pode ser violento, como se o suicida desejasse desaparecer, sem deixar um traço sequer na face do planeta. Quando a dor e a dificuldade forem tomadas como causas primárias para o crescimento e o amadurecimento espiritual, quando os homens lembrarem o convite de Jesus para buscá-lo, pelo menos quando se sentissem aflitos e sobrecarregados, pois os aliviaria, o suicídio já não ocupará os cenários trágicos dos rincões onde habitamos.

Eis exposta, a dor desses irmãos, na palavra do médium que os observa.

— Estou subindo! Volitamos como se estivéssemos nadando. Estou muito bem amparado por nossos irmãos. Sinto o ar, a temperatura amena, e o instrutor me pede para observar o cenário abaixo. Vejo apenas nuvens, mas noto em minha coluna, na região sacra, um fio muito tênue e elástico que se perde entre as nuvens. Estamos descendo.

Conforme você pediu para observarmos, já não estou mais com a roupa que usava. Visto um traje longo e branco que me deixa perceber do corpo apenas as mãos. Todos nós usamos esse tipo de uniforme nesta excursão. O ar está começando a ficar pesado, dificultando a volitação para todos nós. Pareço estar submerso em uma substância aquosa, que dificulta minha mobilidade. — Chegamos! – Diz o instrutor. Estamos de pé frente a um grande portão e eu aproveito a pausa para perguntar: Onde estamos?

— Em uma região situada acima do sul da Bahia.

— Agora colocam em minha cabeça um capacete e me dão para vestir urna roupa protetora, tal qual as utilizadas por operadores de raios-X.

Essa roupa, diz o instrutor, me protegerá das vibrações altamente prejudiciais que são emitidas pelos suicidas aqui residentes.

— Você pode descrever um pouco as particularidades do local?

— É um lugar bem guarnecido. Aparenta ser um castelo com um fosso que o circunda e que com ele contata através de uma ponte levadiça. Os corredores são longos, e acima das portas existem arcos que tornam a arquitetura agradável. A iluminação é artificial.

— Estava demorando!

— O quê?

— A costumeira recomendação: Narrar com naturalidade e com fidelidade a tudo que observar. (Eles riram da minha brincadeira). O caso que vou narrar… Meu Deus! É horrível! Esse irmão suicidou–se com uma explosão de granada. Quase todo o seu perispírito foi avariado. Ele se encontra sob uma redoma, para que suas vibrações não nos atinjam. Vejo a sua cabeça e nela tudo está fora de lugar. Os olhos, o nariz, a boca… Nada repousa em seu lugar. É como se você tomasse uma foto e a cortasse em pedaços para depois emendar, sem colar as partes nos devidos lugares. Em certas regiões do corpo não existe o tecido muscular. Apenas a fôrma transparente. Parece ter uma fôrma vazia por dentro dele. Os técnicos estão colocando um aparelho em seu cérebro. Desse aparelho sai um fio capilar de cor verde luminoso. Eles trabalham intensamente com essa substância nas modelagens, pois já os tenho visto em várias oportunidades manipulando-a e promovendo reparos em diferentes áreas do perispírito. Esse fio luminoso e plástico promove, com a ajuda do meu ectoplasma, a materialização da ponta do dedo desse Espírito. Gostaria de poder entender esse processo para melhor lhe explicar o que está ocorrendo. Sinto pela minha deficiência.

O tratamento aplicado a este paciente será semelhante ao praticado junto aos retalhados, adianta o instrutor. Modelação de um cérebro, introdução de imagens por indução, retirada da cristalização e reeducação mental.

Recebo a orientação de voltar, para que outro médium prossiga o trabalho.

— Estou em uma sala. Aqui a iluminação não é artificial. A luz que percebo é solar. (Nossas reuniões são noturnas.) É em tudo parecida com urna sala de espera de um hospital. Ao meu lado, uma mulher de aproximadamente 40 anos, roupa branca, parecendo ser médica ou enfermeira. Eu estou vestindo uma roupa esterilizada, com gorro na cabeça, e passo por um processo de esterilização para penetrar na UTI. Essas são informações que ela me pede para passar para você.

Entramos. Observo câmaras, quais incubadoras, que guardam perispíritos de tamanho adulto, cujos donos, os Espíritos, encontram–se adormecidos no interior de cada um deles. Essas incubadoras têm a aparência de um molde físico. Existe o local dos braços, das pernas e da cabeça.

— É em tudo semelhante a uma fôrma humana?

— Sim, mas há uma espécie de vidro por cima. Estou observando. É impressionante! Vejo todos os órgãos funcionando como se houvesse uma pele transparente sobre eles. Mas eu sei que existe um Espírito ali. Percebo sua cabeça. É um homem. Noto inclusive a sua barba. Engraçado! Seus órgãos são todos transparentes.

Existe o colorido dos órgãos?

— Vejo tudo em cores. Sangue vermelho, coração ritmado, vísceras em movimento. É como uma aula de anatomia humana em um laboratório muito avançado. O instrutor aponta os intestinos e me diz para observar com bastante atenção. Vejo os pulmões funcionando quais foles, o esôfago, a glote em movimento de engolir, o fígado, que apresenta ligeiro tremor e os rins em seu trabalho de filtragem de -sangue. Mas… Não! Não acredito.

 — O que aconteceu de tão inusitado para espantá-la ?

— Aquela pele transparente, que me deixava ver os órgãos, parece estar tomando a cor da carne. A pele parece estar sendo formada sob minhas vistas. Vejo nitidamente isso na mão do paciente. A enfermeira que estava comigo na entrada comenta que estou assistindo à reconstituição do perispírito. Que essa demonstração é para que soubéssemos que o perispírito tem todos os órgãos funcionando como o corpo humano. Sangue, hormônios, enzimas, tudo. Vejo artérias, veias, capilares, – como se a minha visão tivesse o poder de penetrar na matéria.

Sobre a incubadora tem um instrumental bastante sofisticado, que não vou tentar descrever para você pois sei que não conseguiria.

A sua função, dizem, é recobrir essa fôrma transparente, com urna substância esverdeada, meio azulada, mais sutil ainda que aquele gás dos letreiros luminosos, no que vai aparecendo, materializando, se é que posso dizer assim, a pele. O que era transparente vai se tornando carne viva. Vejo aparecerem as unhas da mão…

A forma vazia tem todos os desenhos dos órgãos?

— Sim.

E essa substância vai preenchendo?

 — Exato! Vai preenchendo. Por isso tudo aqui é esterilizado. Deve existir uma harmonia de pensamentos por parte dos técnicos, voltados para essa finalidade. Eles são especialistas. Assim como existem especialistas em coração, fígado, nervos, e outros órgãos, esses técnicos se reúnem para esse fim ou seja, recompor um organismo espiritual que foi parcialmente destruído em explosão.

 Agora começo a perceber que a mão já tem a forma de carne. Os técnicos dizem que é um processo demorado. Não existem condições de modelar o corpo de uma só vez, pois o Espírito encontra-se em estado de inconsciência total. Essa situação se assemelha a uma morte aqui no mundo dos Espíritos.

Esse Espírito que você está observando teve o seu perispírito reconstituído?

— Sim! Mas não agora. Ele tinha todos os órgãos formados quando eu cheguei. Os técnicos fizeram urna demonstração para o nosso entendimento. O trabalho foi árduo, pois a explosão reduziu seu  corpo a centenas de pedaços, o mesmo acontecendo com a fôrma, a matéria espiritual.

Você tem certeza que tudo foi reconstituído?

 — Reafirmam os técnicos que sim. Todos os sistemas. O que restou da explosão foi pouca coisa. A partir da fôrma vazia a que chamam de corpo mental, indestrutível diante de qualquer agressão, foi possível a reconstrução do perispírito. O corpo mental funciona. como um molde, tem as mesmas formas das partes do corpo; a mão é como uma luva; cada órgão parece ser a matriz que subordina a modelagem no perispírito. A aparelhagem e os técnicos reunidos modelaram pelo poder da mente, de seus conhecimentos e de suas vontades quase todo o organismo perispiritual.

Dizem que a visita está terminada não esqueçamos as orações pelos suicidas.

 8. SUICÍDIO POR MACERAÇÃO

 Pisar urna flor! Por que alguém pisaria uma flor? Perguntei a mim mesmo enquanto observava um ramo de miosótis no Vale das Flores.

Recordei André Luiz, através de uma de suas frases, elaborada em situação semelhante. “A fixação das paisagens sombrias desacostuma a percepção estética para as visões harmoniosas da Natureza.” E’ verdade!

O suicida sofre urna fixação mental nas telas do pessimismo que vai estreitando o seu caminho e a sua visão, ao mesmo tempo em que agasalha a ideia de evadir-se da situação constrangedora em que se encontra, posto que, tomado de ânsias e íntimo da depressão dominadora que lhe embaça os sentidos, capitula frente ao clamor da vida que o chama, adentrando-se no vigor da morte que o espera. Um instante de observação nas flores, nas nuvens, nos pássaros, traz à lembrança velhos conceitos e frases que nosso coração tem sede de acolher. Pensei no Evangelho: “Vossas almas não estão esquecidas; eu, o divino jardineiro as cultivo no silêncio dos vossos pensamentos; venho instruir e consolar os pobres deserdados. Venho dizer-lhes que elevem a sua resignação ao nível de suas provas, que chorem, porquanto a dor foi sagrada no Jardim das Oliveiras; mas que esperem, pois que também a eles os anjos consoladores lhes- virão enxugar as lágrimas”. Lembrar Jesus na hora crucial significa desfazer o laço do enforcamento, fechar a janela do edifício, desengatilhar a arma, frear o comboio, deslocar o pé, resguardando a flor ameaçada. Sim! Acho que sei por que alguém pisaria uma flor. Por doença, depressão, desespero, indiferença, esquecimento. Esquecimento do Evangelho de Jesus, tão fértil em vida palpitante e em convites à glória da superação de si mesmo.

“Vinde a mim vós que sofreis e que vos achais em aflição e eu vos aliviarei. Aquele que confia nesse chamado jamais tentará o suicídio. Fomos levados a observar irmãos que se lançaram edifício abaixo.

Eis a dor em forma de alfabeto.

— Observo um homem que se lançou de um edifício. Seu corpo é flácido como uma geleia. Ele se encontra sob uma redoma protetora, que ameniza as vibrações que emite, prejudiciais para os outros enfermos. Encimando essa redoma, existe um recipiente parecido com um funil, que recolhe uma espécie de cola branca que nele é despejada por um cilindro que lhe margeia na parte superior. A substância é um pouco pegajosa e gelatinosa. Diz o instrutor que ela é elaborada a partir de vegetais, minerais e do ectoplasma. Complementa que existe um substituto do ectoplasma, elaborado por eles, mas que, no momento, estão utilizando o ectoplasma de todos nós do grupo. Essas substâncias, às quais me reportei, passam por um processo químico e são transformadas no medicamento em questão. Aponta as fórmulas químicas e lamento nada entender dos desenhos e símbolos mostrados. O instrutor toma de pequeno aparelho e coloca em seu interior uma gota da substância a que me referi, projetando-a sobre o fígado do suicida.

 A transformação ocorrida no local é espantosa. Houve uma regeneração, uma recomposição total da parte afetada. Vejo que até a película que recobre o fígado adquiriu tonalidade viva. O aspecto doentio que ele retinha desapareceu por completo. Estão sorrindo de minha admiração. Os enfermeiros falam que esse processo é muito lento, mas que será desta maneira gue todos os órgãos serão modelados,_

Desvio minha atenção para outros aparelhos. Da espécie de funil que funciona como depósito para a substância restauradora, saem vários tubos transparentes muito finos que se ligam a cada órgão do suicida.

Quanto à utilização do ectoplasma dos encarnados, ele lembra que, muitas vezes, torna-se necessário passá-lo por um processo de filtragem, visando a desintoxicá-lo para a segurança de quem o recebe. Essa intoxicação ectoplasmática deve-se ao regime alimentar excessivamente carnívoro, ao uso de alcoólicos, temperos picantes e outros vícios mentais e materiais.  Encerra as observações dizendo que esse irmão terá todo o amparo fraternal a que qualquer enfermo tem direito. E que Deus o ajude a jamais pisar uma flor novamente.

9. SUICÍDIO POR QUEIMADURAS

Quando era criança, nos festejos de São João, queimei a ponta do dedo ao retirar milho da fogueira, no que entrei em convulsivo choro. Não quis mais o milho. Não mais olhei o céu riscado de fogos. Não escutei nem participei do restante das brincadeiras. A dor me isolou da alegria, pois que quase sempre são incompatíveis. Apenas os Espíritos fortes aprendem a conciliar a dor com a alegria, a miséria com a conformação, a provação com a humildade. A válvula de escape da criança é o choro. Mas a do adulto jamais deveria ser o suicídio. Se queimar o dedo é doloroso, o que dizer de queimar todo o corpo? Transformar-se em tocha fumegante, dilacerar as mãos que poderiam plantar sementes, escrever cartas de amor, abençoar a velhice, postar-se em oração, não é um ato típico das maiores loucuras?

Que problema terá tal volume a exigir equacionamento através de dor tão superlativa? A miséria, o orgulho ferido, o abandono, o pesar, que por si só são braseiros para a alma necessitam de mais calor para abrandá-los?

A racionalidade diz que não. Que para sofrer é necessário um motivo muito forte e que para suicidar-se não há motivos. Para grandes feridas, somente o unguento da humildade e da resignação promovem a cicatrização, patrocinada pela paz de espírito. Contudo, quem planeja suicidar-se considera a paz um objetivo inatingível, e um fósforo, material leve e de fácil manuseio.

 Jesus! Se um raio tolhesse essa mão, ela sofreria menos. Lucidez! Ansiosamente aguardamos o teu reinado na Terra, para que homens e mulheres, filhos diletos de Deus, apenas usem o fogo para aquecer seus corpos nas gélidas noites de nevadas invernais. Sem meias palavras a médium me retirou dessa reflexão:

— Não há corno não se enternecer diante de tanta dor. Nosso amigo Albert pede que eu leia a placa que se encontra sobre a porta: Centro de Recuperação de Queimados. Tranquiliza-me para que nada tema e pede-me, como sempre, o máximo de fidelidade na descrição. Estou trajando bata branca, máscara e gorro. Recebo um instrumento parecido com um pequeno martelo, feito de uma substância semelhante à borracha, para que possa bater onde e quando ele mandar. Vejo, dentro de urna incubadora de “vidro”, um perispírito. É o que me dizem, mas eu não estou acreditando. Parece mais um torrão negro. Não possui a forma humana, não tem pelos, e se ele não houvesse dito ser um perispírito, eu jamais acreditaria. Agora ele me diz: “Quando eu começar a tocar esse perispírito com o meu martelo, você deverá fazer a mesma coisa.”

Estou batendo na extremidade do torrão, e dele se desprende um pó enegrecido, muito semelhante ao carvão. Não notei nenhuma reação por parte do Espírito, se é que tem algum aqui aprisionado. Albert me diz para deixar de desconfiança e bater novamente. Desta vez, diz o instrutor, estou atingindo o local que havia sido a cabeça do suicida. Para esse tipo de dano causado ao corpo é necessário uma quase modelação total, posto que aqui pouca coisa é aproveitável.

Vejo agora urna fôrma de aspecto humano, transparente, e diviso em seu interior outras fôrmas vazias aparentando em tudo órgãos humanos. Percebo que cada fôrma representativa de um órgão tem um furo, por onde se liga um cateter pelo qual passará uma substância algo gelatinosa que  irá preencher todas formas.  Logicamente tais fôrmas preenchidas formarão órgãos e sistemas do novo perispírito. É o que me explica o instrutor.

Estou tocando a substância que vai formar os órgãos. É como uma borracha viscosa.  Eu puxo e ela se mostra elástica e flexível. Manuseando com ela, cujo odor é bastante estranho, vejo gue posso  formar o que eu imaginar. Ela é quase transparente, sem a dureza da massa de modelar que nossas crianças usam nas escolas. Observo agora a substância ser introduzida na fôrma que tem o tamanho de um corpo humano. O cheiro é muito forte; uma espécie de vapor aquecido, como uma fumaça, entra em contato com essa substância, tornando-a quase líquida, e vai penetrando pelo orifício de cada órgão, preenchendo assim as fôrmas orgânicas ou fôrmas orgânicas ou fôrmas dos  órgãos. Todo o corpo está sendo formado aos poucos. Mas é tudo idêntico!

— Tem a cor dos órgãos ?

— Ainda não! Quando um órgão se completa, é ligado a uma espécie de fio para que seja ativado. Veja se me entende. Já existem vários órgãos formados, mas estavam inanimados. Quando Albert liga um órgão a esse fio que parte diretamente do perispírito danificado pelo fogo, ele começa a funcionar, qual se tivesse adquirido vitalidade.

Espere um instante. Eu preciso entender bem essa questão. O perispírito ficou praticamente inutilizado com o fogo e os técnicos estão modelando outro com todas as suas minúcias, certo?

— Sim! Nosso instrutor explica que ligado ao torrão existe o Espírito, que é um ser imortal. E como o Espírito está em todo o corpo como Deus está em todo o Universo, do torrão ele pode ativar o órgão correspondente, através de sua vontade. Fala que eu estou observando apenas uma parte do processo. Esse Espírito já está aqui há alguns anos. Esteve longo tempo adormecido pelo choque.

Quando despertou incentivado por induções para um retorno à vida, aos poucos desejou  viver novamente. Sem a ação mental dele esse perispírito formado seria apenas um boneco plástico, e aquele torrão um pedaço de carvão inanimado.

Quando alguém toca esse perispírito carbonizado, o Espírito já desperto sente o toque, embora não possa responder ao mesmo, por não possuir perispírito à altura para lhe conduzir  as emoções materializando-as em gestos concretos. Na recomposição do seu perispírito, o primeiro órgão modelado foi o cérebro, imediatamente ligado ao que fora a parte cerebral do antigo perispírito. Quando isso ocorreu, passei a ver o novo cérebro funcionando, corno se fosse de verdade, com colorido, vitalidade e funcionalidade que caracterizam os cérebros humanos.

Albert pede-me para corrigir: no lugar de “como se fosse de verdade”, colocar “de verdade”. Você está observando a vida, que nunca se extingue, passar para o novo perispírito, enfatiza.

Na realidade os  técnicos modelaram, com a ajuda do corpo mental e da vontade do Espírito, um corpo perispiritual semelhante  ao anterior. Porém, corno o suicida, através do ato que praticou contra si lesou muito do seu corpo, imprimiu nele as deformações que a sua mente atormentada trazia.

É como se o novo corpo formado fosse  algo neutro e o Espirito que dele vai fazer uso, o modela segundo as  impressões mantidas em sua mente.

Por isso, o novo corpo perispirítico apresentará deformações, esculpidas por ele próprio, o suicida. Explicam-me ainda que, quando este Espírito despertou, não podia manifestar-se através do seu perispírito, razão pela qual foi urgente a necessidade de recuperá-lo.

Isso tudo me parece meio mágico. Simples demais.

— Albert diz que Deus fez as coisas simples; o homem é que as complica. Lembra a você um autor francês de sua preferência que diz: “Nascer é simples; viver é simples; então morrer deve ser simples.” Diz que você pode adicionar: “Reviver também é simples.” Por outro lado, o Espírito quando passa de um mundo para outro troca de substância perispirítica  com a rapidez de um raio. Chamaria a isso de mágica?

Mas, e aquela história de memória biológica armazenada no perispírito?

Não esqueça de que o molde foi formado a partir do corpo mental que é indestrutível. Por fim, o instrutor afirma que esse Espírito ao encarnar poderá e deverá nascer totalmente deformado, não atingindo nem mesmo a forma humana; algo como um mioma, um quisto  acoplado ao útero.

Poderá ainda portar urna doença muito séria e de caráter incurável na pele, tal corno  a hanseníase. Mas será uma hanseníase profunda, que venha a atingir ate mesmo os órgãos internos. Além da hanseníase, ele poderá também ser um deficiente mental, pelo prejuízo causado ao complexo cerebral. Os amigos me abraçam e nos despedimos. Lanço um último olhar para o torrão. Oro baixinho. Que Jesus lhe conceda a paz de um recomeço equilibrado, no inverno de solidão e amarguras que deverá enfrentar.

10. SUICÍDIO POR ENFORCAMENTO

Tenho conversado com dezenas de irmãos que utilizaram o método do enforcamento corno tentativa de fuga da vida. Nas reuniões mediúnicas, causam imensa sufocação nos médiuns que os acolhem, no que se esforçam para afrouxar o laço que os asfixia. Apresentam-se aos videntes com manchas violáceas ao pescoço, portando o laço sufocante, trajes rotos, onde bem se caracteriza a alienação mental de que sofrem, pois que observam a própria cena do suicídio, quais se fossem espectadores de um filme colorido em constante exibição a lhes retratar a desgraça. E quando por sugestão ou indução, auxiliados por passes magnéticos e preces em vibração amorosa, lhes afrouxam os laços, é que se ouvem sons roucos, desesperados, no que são postos a dormir o agitado sono do remorso e do arrependimento. A presença de um suicida em uma reunião mediúnica é breve e sofrida. Quando a dor que ele porta é lancinante, vem protegido por uma redoma para não disseminar mal-estar a quem dele se aproxime. É levado a hospitais, centros de modelagem e educação mental, a ouvir dezenas de palestras sobre o suicídio e a valorização da vida, a rever sua existência e seus atos, ao exercício continuo do fortalecimento da fé na tentativa de busca da paz de consciência através do trabalho e do estudo de si mesmo. Entretanto ele lesou seu perispírito. As consequências surgirão invariavelmente no futuro corpo carnal, sob a forma de gibosidade acentuada, artrose cervical, ou uma doença relacionada aos órgãos lesados. Anomalias respiratórias ou vocais serão registradas, caso haja comprometimento da glote e da laringe. Todavia, legiões de Espíritos benfeitores se dedicam a aliviar os sofrimentos desses depressivos companheiros.

Aqueles que já foram suicidas e que se elevaram aos planos mais altos, fazem questão de se engajarem em tarefas salvacionistas a favor desse gênero de “loucura” que é o suicídio. Para ilustrar nosso estudo, os companheiros espirituais nos trouxeram Eládio, ex-suicida, e agora trabalhador no plano espiritual junto àqueles que corno ele, sofreram a lâmina aguda da dor inconsolável de se sentir fugitivo da vida. Eis o emocionante relato do nosso amigo:

— Que Nosso Senhor Jesus Cristo nos dê a paz! Fico muito grato em estar aqui, junto a este grupo de estudos, para dar o meu testemunho, o meu depoimento, como ilustração para este livro que já é tão comentado aqui pelos Espíritos amigos. Ainda apresento leve falta de ar, mas posso perfeitamente narrar meu drama, sem causar maiores danos à minha constituição perispiritual.

Eu me chamo Eládio. Estou aqui há meio século. Quando em vida no corpo físico, tinha uma arte. Era pintor. Ainda o sou. Trago na minha memória as telas, nas quais eu lançava toda a emoção que abrigava em minha alma de rejeitado. Há muitos anos atrás eu perdi a pessoa que mais amava e não suportei a separação. Achei que nunca mais iria encontrar alguém que me completasse, e deixei a depressão, monstro devorador, se apoderar de mim, perdendo o ânimo para o trabalho, os amigos, a vida. Certo dia, quando me encontrava com pneumonia, foi se acercando de mim a infeliz ideia de fugir daquele sofrimento que me dominava. Perguntei a mim mesmo: Por que não acabar com tudo isso agora? Primeiro desenhei e pintei. Pintei aquele rosto que eu amava tanto. Mas, na tela, eu coloquei uma mancha escura no pescoço, dando a impressão de que era um colar; mas aquilo retratava o que eu estava pensando. Comprei a corda, prendi a um dos caibros e lá tirei minha vida.

Acordei com o corpo podre. Gritava desesperado porque me faltava o ar. Aquela cena macabra. Eu estava de frente para mim mesmo. Estava me olhando. A corda distendera-se um pouco e o corpo deslizava. Era como se eu, com as minhas próprias mãos, me apoiasse no chão. Passaram-se seis dias. Todas as cenas mais degradantes que um ser humano pode sentir, eu suportei. Desculpe-me por não detalhar mais, pois tudo me volta à mente agora. Mas, não se preocupe. Eu me preparei. Eu me fortaleci. Fui orientado para esse depoimento e estou amparado por muitos amigos.

De repente, eu não me encontrava mais naquela casa. Estava entre multidão terrível; todos agiam como loucos, e eu trazia uma corda atada ao pescoço. Tinha o pescoço inchado, os olhos esbugalhados, a asfixia interminável. Eu não podia respirar nem falar. Pensava: devo estar no inferno. As minhas roupas eram semelhantes às daquele cadáver que fora obrigado a ver durante seis dias. Passei os maiores sofrimentos. Fui banido. Não via a luz do sol e nem sabia onde me encontrava. E sempre trazendo aquela corda no pescoço, que eu não conseguia tirar. As mãos estavam livres, mas não conseguia, por maior esforço fizesse, tirar aquela corda do pescoço. Dizem que nos acostumamos à dor. Mas isso não aconteceu comigo. Cada vez mais

aquela corda apertava e cada vez mais eu sentia a falta de ar.

Passei quinze anos nesse sofrimento. Dia após dia; hora após hora; minuto após minuto. Sempre a mesma cena. Sempre!

— Você não dormia?

— Não! Nunca. Eu não sabia quando era dia ou noite. O tempo era sempre o mesmo. Escuro e desesperador. Eu não podia falar. Urrava! Como pode um Espírito cair em urna situação tão degradante? Após esses quinze anos, um dia, alguém pegou na minha mão. Eu não sabia mais quem eu era, qual o meu nome, o que tinha acontecido. Mas alguém me segurou pela mão e me levou para dentro de um carro, como se fosse puxado por animais. Fomos cinco ou seis dentro desse carro, a um local onde pela primeira vez, desde longo tempo, no meio da estrada, os meus olhos ficaram doendo por causa da claridade do sol. Eu quis gritar! Gritar por aquele sol. Mas, da minha garganta só saíam urros.

Fui levado a um hospital e durante cinco anos estive em tratamento, quando os Espíritos amigos de tudo fizeram para que eu conseguisse desatar o nó. — Mas não havia corda. Era somente o efeito dela que você sentia, não?

 — Agora eu sei que era assim.

— Quer dizer que você ainda por cinco anos sentiu a corda lhe tirando o ar?

— Sim! Só que de maneira mais suave. Eu via a corda. Os amigos me diziam: Eládio! Você não tem mais a corda em seu pescoço. Então eu pegava no pescoço, e realmente não existia a corda. Mas quando eles saíam, voltava tudo, e eu continuava a ver e a sentir a corda.

Passei por regressão de memória. Lembrei do meu nome e revi a minha última existência. Fiz terapia intensiva. Deram-me telas para que eu voltasse a pintar, mas durante os cinco anos nesse hospital de isolamento, eu sempre vi a corda em meu pescoço. Lesei meu perispírito. As células do meu pescoço ficaram danificadas. A corda deixou uma cicatriz profunda, para que eu não pudesse esquecer o meu ato impensado.

Em alguns momentos naquele hospital, eu sentia que podia ter uma esperança de voltar à vida. Em outros, eu caía em depressão profunda. Quando isso acontecia, era como se minha mente voltasse no tempo, e eu sentia todo o peso do corpo despencando sobre a corda. Agora faço parte do trabalho de enfermagem e auxilio alguns irmãos que passaram por essa minha prova. Sei que em breve deverei encarnar. Terei problemas vinculados à garganta, à faringe, problemas asmáticos, e talvez tenha que passar pela prova do abandono, da solidão, para testar a minha resistência. Agora eu estou me sentindo aliviado e gostaria de ficar ao seu dispor para suas perguntas e dúvidas. — Eu quero lhe dizer, Eládio, que agradeço muito  seu depoimento, e que não vou fazer indagações sobre a sua dor. Gostaria muito que você soubesse que durante o nosso minuto dedicado aos suicidas, vou me lembrar de você com muito carinho.

— Amigo! Posso lhe chamar assim? Que minuto longo! Eu vou lhe contar o que acontece nesse minuto nos hospitais onde se recolhem os suicidas. Quando se aproxima o horário da reunião da terça e da sexta, soa um alarme em todas as enfermarias. Naquelas em que os suicidas ficam juntos, e em outras que são isolados em câmaras acolchoadas, devido à vibração prejudicial aos demais. Então, amigo, naquela hora, é corno se estivéssemos famintos, muito famintos, e alguém chegasse e nos dissesse: Meus irmãos! Tomem a comida. Comam e se saciem. É o minuto mais esperado por todos. Todos, sem exceção de nenhum. Soa urna campainha e urna luz se acende. Então um painel grande… desculpe! Mas é muito emocionante ter que narrar isto. Mas, você precisa saber. E aquele painel luminoso, no momento em que você fala aquelas palavras, elas aparecem luminosas em cada enfermaria, e desse painel saem verdadeiras gotas de luz que encharcam nossos perispíritos provocando o alívio de que tanto somos carentes. É um momento sublime para o suicida. Amigo, muitos se recuperam de crises, inclusive eu, pela ternura daquele momento. É muito bom saber que somos lembrados. Eu os tenho visto comentar uns com os outros: será que o meu nome está no caderno? Vão lá, por favor! Levem o meu nome para que orem por mim. Mas nós sempre respondemos: os nomes de todos vocês estão no caderno. Todos vocês recebem igualmente, porque o minuto é para todos os suicidas, mesmo aqueles cujos nomes perderam-se na lembrança dos amigos e na poeira do tempo. (Antes das reuniões de desobsessão nos dedicamos um minuto de prece para os suicidas, ocasião em que oramos o Salmo 23 (Nota G. E.: Salmo 23 O Senhor é o meu pastor; e nada me faltará. … )   Ainda não sei a data precisa quando reencarnarei. Mas tenho um consolo desde já. Os amigos espirituais me disseram que eu vou nascer num lar e que essa doutrina vai ajudar-me a superar as minhas crises existenciais. Agradeço a oportunidade e espero que o meu depoimento sirva como depoimento a velhos e jovens que venham a ler o seu livro e que agasalham tendências ao suicídio.

Que todos saibam que ele é a maior infração à lei de Deus. Aquela em que nós, suicidas, sentimos o peso da sua mão, visto que somos infratores. Deus é perfeito; é justiça e misericórdia; e nós não ternos o direito de fugir de Suas leis, que às vezes, tão mal interpretamos. Na hora em que nos reconhecemos suicidas, nos sentimos órfãos de Deus. Sentimo-nos como renegados. Contudo, Deus dá sempre novas oportunidades, porque sabe que somos egoístas, e ainda não compreendemos a sua paternidade para conosco. Achamos que somos por Ele abandonados. Mas agora, amigo, entendo perfeitamente o que é o amor de Deus, o perdão e a reparação da falta cometida.

Espero que o Pai nos ampare, e agradeço sinceramente a paciência de vocês para com o meu desabafo. Por mim sinto que cresci, pois fui útil nesse seu trabalho.

Até um dia, amigo. Deus nos abençoe sempre.

Após o depoimento de Eládio, um médium, através de desdobramento, foi levado a um hospital de atendimento a suicidas por enforcamento, para observação perispiritual. Vejamos a narrativa:

 — Estamos em um hospital (Acho que vou ficar especialista em hospitais). Comigo estão dois amigos, e estamos nos deslocando em um corredor muito comprido. Um dos companheiros é o médico que sempre me acompanha e que descreve os fatos que sou levado a presenciar. O outro é o nosso amigo Richard. De um lado do hospital, observo Espíritos que possuem a cabeça quase separada do corpo. O pescoço é alongado e fino, assim como se houvesse um garrote provocando um estrangulamento ao meio, motivando grande sufocação. Do outro lado da enfermaria, outros Espíritos que já ultrapassaram esse estágio de deformação, pois são mais antigos aqui, portando, no entanto, estigmas variados que lhes acusam o mesmo gênero de suicídio. Alguns apresentam acentuado aumento na tireóide. Outros, com aquela doença em que os olhos crescem no sentido exterior, ficando quase a saltar das órbitas, avermelhados e espantados. Outros, ainda, são deficientes da fala, da audição ou da visão. Eu falo com eles, e eles fazem sinais com as mãos, como a querer expressar sua mudez ou surdez. Richard explica-me que todos foram suicidas por enforcamento. Ele pergunta se você deseja saber como é feito o tratamento dessa deformidade perispiritual, já que em alguns casos a cabeça encontra-se quase separada do corpo. ´

— Gostaria sim.

— Ele começa a descrever perguntando qual seria a sensação que você sentiria, se torcesse o pescoço de uma galinha até separar. Pede que você pense nessa comparação. No suicídio, a corda aperta por um tempo mais elástico e a uma pressão bem maior. Existe quase uma separação da estrutura espinhal. Contudo, isso não se concretiza em nível perispiritual. Existe um estiramento, como se a espinha fosse elástica; dai a observação que fiz, comparando o pescoço a uma bexiga esticada, sem, no entanto, ocorrer à ruptura.

Para o tratamento, ele chama a atenção para um aparelho muito semelhante a uma máquina de raios X do tórax. Ele vai fazer uma demonstração. O Espírito já se encontra na maca e ele vai começar o manuseio do aparelho. Coloca o instrumento no sentido do pescoço afetado, mirando no ponto onde existe o estrangulamento. O aparelho emite um raio parecido com o laser. O tratamento, elucida, é um pouco parecido com a radioterapia ou cobaltoterapia, aplicadas em células cancerosas. As células danificadas são tratadas por esse processo aqui observado, notadamente os neurônios e as partes mais finas que compõem os tecidos, camada por camada. Os raios penetram em cada camada, normalizando o tecido perispiritual que não foi destruído, ou seja, apenas danificado, machucado, elastecido. Aqui ocorre o mesmo quando uma pancada gera um hematoma no corpo físico. O tratamento é centralizado no sentido de dissolver o coágulo, fazendo o sangue circular normalmente.

 — Pergunta se você tem dúvidas.

Só tenho! Não quanto à recuperação dos tecidos perispirituais, mas sobre o alongamento do pescoço. Como ele volta ao normal?

— Não é necessária urna recomposição, pois não rompeu a estrutura óssea. Apenas marcou. Os técnicos não interferem. Apenas neutralizam o alongamento. Surgirão para o suicida, as consequências decorrentes da intensidade das lesões que ele causou a si próprio. Estas podem aflorar desde a forma de problemas na coluna até a asma em sua persistência aguda. São frutos que devem ser colhidos, diz ele.

– E quanto aos fluidos? A obtenção, o manuseio, como é feito?

 — O laboratório possui o material de recolher, estacar e combinar segundo as fórmulas químicas conhecidas pelos técnicos. Para nós, Espíritos, isso não constitui dificuldade. Vamos aos locais de coleta, os estocamos em tubos de ensaio e operamos com eles, como o químico manuseia as substâncias químicas entre vocês. Para fluidificar a água nas reuniões espiritas, tornando-a medicamentosa, apenas introduzimos o fluido entre suas moléculas, à temperatura ambiente, ou seja, no estado líquido, onde a força de coesão dessas moléculas é mais ou menos igual à força de repulsão, facilitando o ingresso de um maior volume fluídico e urna melhor disseminação também fluídica, tornando-a saturada e vitalizada.

 — Poderia nos fornecer uma ideia mais clara quanto à obtenção e manipulação desses fluidos?

— A Natureza é um verdadeiro laboratório. Pense assim: a molécula da água é composta por dois átomos de Hidrogênio e um de Oxigênio. Utilizando um voltâmetro, podemos decompor ou separar a água nos dois elementos citados, ou seja, Hidrogênio para um lado e Oxigênio para o outro. O fluido cósmico unido ao fluido vital pode ser comparado à água. Os técnicos separam o fluido vital do fluido cósmico, como os químicos separam os elementos das misturas. Recolhem também substâncias dos vegetais e modificam, com o poder mental de que são dotados, as características de urna infinidade de fluidos existentes na Natureza. Ele não tem condições, informa, de se estender mais sobre a intimidade do fluido universal, por desconhecer os detalhes de como Deus o criou.

Quando Deus cria um planeta qualquer, já existia anteriormente naquele espaço o fluido cósmico universal, que modificado, passa a ser próprio e particular daquele planeta. A diversidade de variações e de formas de cada vegetal e de cada animal já existe em germe nesse fluido. Cada elemento químico, todo um tratado de Física, Química, Biologia e demais ciências com suas leis podem ser materializados mediante a atuação dos Espíritos superiores, operando neste fluido com o poder do pensamento, o concurso do tempo e da inteligência.

O PERISPÍRITO FRENTE AO SUICÍDIO