PG 63  da versão em PDF do site bvespirita.net/livros

Como escreveu o Evangelista, Jesus veio para o que era seu, mas os seus não o receberam. Sua Mãe teve de deitá-lo numa manjedoura, porque não havia lugar para ele na hospedaria de Belém. O governante da Galiléia não vacilou em sacrificar toda uma geração de crianças, no intuito declarado de matá-lo. Na sua cidade de Nazaré, foi rejeitado pela sua gente. Os chefes de sua nação não se cansaram de lhe armar ciladas e provocações. Traído e caluniado, acabaram por lhe infligir prisão, abandono e suplícios, para afinal condená-lo e lhe dar morte humilhante. Sua doutrina de amor e paz foi ferozmente combatida, seus discípulos foram perseguidos, proscritos, atormentados e mortos.
A Luz Divina, porém, não seria derrotada. O Cristianismo a tudo resistiu, fortaleceu-se e espraiou-se com a rapidez de um raio. Depressa chegou a Roma, a toda a Ásia Menor, à Grécia, às Gálias e à África do Norte. Os textos evangélicos foram redigidos, a missão de Paulo universalizou os ensinos doutrinários, João recebeu e divulgou o Apocalipse…
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Ante a falência do Império Romano e da Igreja Católica, as Potências do Céu decidiram que a Civilização Ocidental devia ser reconstruída. No esforço de preparar o advento de uma nova era, grandes missionários de Jesus foram enviados à Terra, para regenerar o Cristianismo e reavivar a chama sagrada da fé. Dois dentre esses missionários eram elevadas expressões de capacidade realizadora, que efetivamente se destacaram pela sua ação, de largas consequências. Referimo-nos ao grande Bento

(NOTA DO BLOG: SÃO BENTO, PADROEIRO DA EUROPA, FUNDADOR DA ORDEM DOS BENEDITINOS) nascido em Nursia, em fins do século V, cuja Ordem conseguiu conquistar para o Cristo grande número de bárbaros, principalmente entre os germanos, e o árabe Maomé, nascido em Meca, no ano 570. Infelizmente, o Profeta do Islã não conseguiu vencer as tentações do poder humano e, falhando nos sagrados compromissos assumidos para com o Cristo, deixou no mundo uma doutrina cuja violência e intolerância levariam os árabes a tentar, pela força, o domínio do mundo.

(NOTA DO BLOG : SEGUIDORES DE MAOMÉ, OS ISLAMITAS ANTES DO ANO 700 JÁ DOMINAVAM O NORTE ÁFRICA, ATRAVESSARAM O MEDITERRANEO NO ESTREITO DE GIBRALTAR EM 711 , INVADIRAM A IBÉRIA (ESPANHA) E SE NÃO FOSSE A VITÓRIA DE CARLOS MARTEL EM 732 TERIAM SUBMETIDO A FRANÇA.
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Abrimos aqui um rápido parêntese para lembrar que os povos gregos, a quem tanto deve a Humanidade, os latinos, que organizaram o Império Romano, os celtas, os eslavos e os germanos eram, todos eles, povos formados por aqueles mesmos Espíritos que, partindo da Ásia, em tempos remotos, na alvorada das civilizações terrestres, atravessaram os planaltos pérsicos e se espalharam do Báltico ao Mediterrâneo. De todos os exilados de Capela, eram eles os mais revoltados e os menos afeitos à religiosidade, mas eram também os menos preconceituosos e os mais abertos confraternização com os “filhos da Terra”, que por aqui encontraram. Eles criaram as bases democráticas da organização política dos povos ocidentais; sistematizaram a agricultura, o pastoreio e o comércio, e, com a sua inteligência inquieta e fecunda, lançaram os fundamentos da Ciência a fizeram evoluir até as magnificências de hoje em dia.
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Consagrando a violência como arma da fé, em absoluto desacordo com o espírito do vero Cristianismo, as Cruzadas não atingiram os fins a que se propuseram e resultaram em completo desastre militar. Apesar disso, a Sabedoria Celeste aproveitou ao máximo, em favor da Humanidade, o que esses grandes movimentos bélicos foram capazes de criar de bom. Se recordarmos rapidamente qual era a situação da Europa no início do século IX, logo nos daremos conta de que a política de Carlos Magno havia instituído as bases do feudalismo medieval, ao confirmar no poder os seus vassalos, mas lhes impondo a sua imperial autoridade através dos famosos “enviados do senhor”.
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O contato dos cruzados com o luxo e o conforto dos potentados muçulmanos despertou nos europeus um novo e forte desejo de regalos que dantes ignoravam e que custavam fortunas só adquiríveis através do trabalho produtivo e fecundo. Foi assim que, para conseguir açúcar, cravo, baunilha, pimenta, canela, sofás, almofadas e divas, sedas e tapetes, aqueles fidalgos, antes ociosos, voltaram aos seus domínios com novas disposições, sem dúvida egoístas, mas que devolveram aos povos europeus a bênção do trabalho, e, com ela, considerável melhora nas condições de vida das populações, amplamente beneficiadas pelo vigoroso crescimento da indústria e do comércio. Ao lado disso, os cruzados também trouxeram para a Europa muitos livros esquecidos ou desconhecidos no Velho Mundo, até mesmo pelas elites clericais; livros que os árabes haviam traduzido dos gregos, e outros que eles próprios haviam produzido, versando sobre astronomia, medicina, geografia e matemática. Para que se possa medir, de algum modo, a importância disso, deve-se compreender que, sem esse trabalho dos árabes, descoberto e aproveitado pelos europeus, provavelmente não houvessem surgido, nos séculos XIII e XIV, as primeiras universidades européias, que tão esplêndidos serviços iriam prestar à Humanidade; e nem houvessem surgido tão brilhantemente, no firmamento da cultura humana, pensadores como Tomás de Aquino e Rogério Bacon, e poetas do talento de Dante e de Petrarca.
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Entretanto, nada disso obscurece a verdade de que o panorama do mundo era tão sombrio, nos inícios do século XI, que, nas regiões mais elevadas do arcabouço planetário, o Colégio Crístico determinou a encarnação em massa de um verdadeiro exército de tarefeiros do bem, para sustentar a chama sagrada do ideal evangélico, ameaçada pela terrível ventania de violência e depravação que varria a Terra. Por isso, enquanto os dignitários da Igreja e os senhores feudais erguiam taças e espadas, em nome de Deus, abnegados penitentes davam, nos mosteiros, nas vilas e nos campos, os mais santos exemplos de piedade e amor cristão. Notabilizaram-se nisso os albigenses e os valdenses, cujo zelo apostolar provocou cruéis perseguições de insensatas autoridades humanas.

Ante tão lamentáveis descalabros e tão profunda deturpação dos ensinos do Divino Mestre, o grande Vidente de Patmos ofereceu-se a Jesus para voltar ao mundo, numa veste de carne, a fim de recordar, com o seu exemplo de amor e de pobreza, as lições imortais do Nazareno. Assim foi que nasceu em Assis, em 1182, o seráfico Francisco, cuja pureza e cuja doçura impregnariam para sempre as paisagens itálicas.

A reação das forças negrejantes foi imediata, e já no ano seguinte, 1183, o Concilio de Verona lançava as bases eclesiásticas da Inquisição, que levaria, daí a vinte e três anos, à fundação da Ordem Dominicana dos Irmãos Pregadores. E como as ameaças e as prisões não houvessem bastado para calar a voz dos albigenses, o próprio Pontífice Romano pediu, em 1209, que se organizassem, contra eles, campanhas militares. Mas nesse mesmo ano de 1209, enquanto as primeiras expedições punitivas eram movidas contra os cristãos de Albi, Francisco fundava, na Úmbria, a Ordem dos Irmãos Menores, para o exercício da mais completa humildade e da mais absoluta pobreza.

O exemplo dos franciscanos não comoveu, porém, o espírito belicoso dos príncipes e dos lérigos, e três anos após a desencarnação do Pobrezinho (SÃO FRANCISCO), as milícias do tenebroso Simão de Monfort perpetraram, contra os albigenses,(CÁTAROS) o massacre de 1229, que os exterminou.

Longe de se satisfazerem com esse sanguinário triunfo, os áulicos (SEGUIDORES) do Anticristo trataram de ampliar e consolidar o domínio da Treva sobre as consciências, e dois anos depois, em 1231, o Papa Gregório IX organizou o primeiro Tribunal de Inquisição, cujo funcionamento confiou ao zelo dos frades dominicanos. As Potências do Bem, entretanto, não desanimaram, e outros insignes missionários de Jesus desceram à Terra, criando novos movimentos de regeneração do Cristianismo
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Com as fogueiras que queimaram vivos João Huss, em 1415; Jerônimo de Praga, em 1416,e Joana d’Arc, em 1431; e com a queda de Constantinopla, em 1453, ruiu o mundo antigo; mas quando Colombo e Cabral, no último decênio do século, chegaram às terras americanas, abrindo a cortina do tempo, surgiram, como por encanto, no cenário humano, um mundo novo e uma nova era.

“É então — escreve Emmanuel, em seu precioso livro “A Caminho da Luz” — que inúmeros mensageiros de Jesus, sob a sua orientação, iniciam largo trabalho de associação dos Espíritos, de acordo com as tendências e afinidades, a fim de formarem as nações do futuro, com a sua personalidade coletiva. Á cada uma dessas nacionalidades seria cometida determinada missão no concerto dos povos futuros, segundo as determinações sábias do Cristo, erguendo-se as bases de um mundo novo, depois de tantos e tão continuados desastres da fraqueza humana.
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“O século XVIII iniciou-se entre lutas igualmente renovadoras — comenta Emmanuel, no livro já citado —, mas elevados Espíritos da Filosofia e da Ciência, reencarnados particularmente na França, iam combater os erros da sociedade e da política, fazendo soçobrar os princípios do Direito divino, em nome do qual se cometiam todas as barbaridades. Vamos encontrar nessa plêiade de reformadores os vultos veneráveis de Voltaire, Montesquieu, Rousseau, D’Alembert, Diderot, Quesnay. Suas lições generosas repercutem na América do Norte, como em todo o mundo.
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A independência dos Estados Unidos da América, proclamada no dia 4 de julho de 1776 e reconhecida pela Inglaterra no dia 3 de setembro de 1783, teve na França profunda repercussão.
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Enquanto esses acontecimentos se desdobravam no Velho Mundo, o Novo Mundo se emancipava e organizava.
A independência política não tardou a coroar os sonhos de liberdade dos centro e sul-americanos, muitos deles liderados pelos extraordinários campeões que foram Bolívar e San Martin. Em menos de dez anos, de 1816 a 1825, emanciparam-se o Haiti (1804), o Paraguai (1813), a Argentina (1816), o Chile (1818), o Brasil, o México e Nova Granada (1822), Guatemala, San Salvador, Honduras, Costa Rica e Nicarágua (1823) e a Bolívia (1825).

O grande Espírito do Apóstolo Tomé já estava, a esse tempo, no mundo, onde reencarnou a 3 de outubro de 1804, com a excelsa missão de codificar o Espiritismo (NASCE HIPPOLYTE LÉON DENIZARD RIVAIL/ ALLAN KARDEC). Ele não vinha só. Como assinala Emmanuel, no livro já citado, “fazia-se acompanhar de uma plêiade de companheiros e colaboradores, cuja ação regeneradora não se manifestaria tão-somente nos problemas de ordem doutrinária, mas em todos os departamentos da atividade intelectual do século XIX.” E acrescenta:

— “A Ciência, nessa época, desfere os vôos soberanos que a conduziriam às culminâncias do século XX. O progresso da arte tipográfica consegue interessar todos os núcleos de trabalho humano, fundando-se bibliotecas circulantes, revistas e jornais numerosos. A facilidade de comunicações, com o telégrafo e as vias férreas, estabelece o intercâmbio direto dos povos. A literatura enche-se de expressões notáveis e imorredouras. O laboratório afasta-se definitivamente da sacristia, intensificando as comodidades da civilização….’’

(NOTA DO BLOG COMENTÁRIO DO ESPÍRITO ÁUREO ‘’o laboratório afasta-se definitivamente da sacristia’’, MOSTRANDO A IMPORTÂNCIA QUE ELE DÁ À FACETA DE CIÊNCIA QUE SE DESTACA NA DOUTRINA ESPÍRITA, JUNTAMENTE COM A FILOSOFIA E RELIGIÃO. TANTO ASSIM QUE NESSE LIVRO ‘’UNIVERSO E VIDA’’ ELE DÁ ABSOLUTO DESTAQUE À EVOLUÇÃO QUE A CIÊNCIA TROUXE À HUMANIDADE )
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Durante séculos a fio a Humanidade acumulou montanhas de ódios, e já a emanação sedimentosa dos pensamentos sombrios e ferozes se aglomera sobre a Terra, em espessas camadas superpostas e ameaçadoras, que lembram cirros virulentos e invisíveis.
O monstro da destruição, por ela alimentado com tanta solicitude, rosna sanhudo à sua face, qual áspide (SERPENTE) principescamente criada para o assassínio traiçoeiro do seu dono.

O vendaval não tarda a desencadear sobre as valas torturadas do orbe a procela furiosa que se alimenta de sangue e que se banha nas lágrimas. Relegado o Evangelho do Cristo, olvidados os seus divinos ensinamentos, ergastulado ( DETIDO) no cárcere dos dogmas o espírito sublimado da sua Doutrina de Amor, que outra coisa poderia suceder à Humanidade desvairada, senão a completa bancarrota dos seus princípios superiores, esmagados perante o esquife da justiça, apunhalada pelo egoísmo feroz, nos delírios da vaidade e da rapina?

Na orgulhosa presunção da sua trágica cegueira, o homem rejeitou a direção de Jesus, chafurdando-se no mar das experiências dolorosas do desvario e dos crimes. Agora, num crepúsculo agoniado de jornada, treme assustadiço ante os densos novelos de fumaça que sobem do monturo letal dos próprios erros!

Armados até os dentes, espreitam-se os povos, numa estranha dança de malabarismos fatídicos, temendo pela sorte. Os engenhos de destruição engendrados pelo homem ameaçam-lhe a própria sobrevivência e a dura necessidade de paz não consegue suplantar a fantástica miragem da luta de extermínio. Eis o salário da rebeldia humana! Eis o altíssimo preço da ambição!

A tormenta desabará. A Justiça Divina, que dá a cada qual segundo as suas obras, não susterá o automatismo da lei de causa e efeito, que o Espiritismo tão bem define e prega. A sementeira de maldades e ignomínias rebentará num oceano de frutos amargos de prantos e de dores, e o homem aprenderá, por fim, que o Evangelho do Senhor não é um conto de fadas, mas uma Lei de Vida, que ninguém pode violar sem funestas conseqüências. Então, raiará para a Terra um Novo Dia. As lições maravilhosas de Jesus, vivificadas e restabelecidas em sua pureza original pela Terceira Revelação, regerão as manifestações do sentimento enobrecido nas forjas da amargura. Uma Nova Aurora despontará, fecunda, para este orbe triste e a aleluia de há dois mil anos ressoará, mais vivida e mais clara, nas quebradas dos nossos alcantis (PRECIPICIOS). O Espírito do Bem remará na alma dos homens. Cristo vencerá!

DEPOIS DO CRISTO