TERCEIRA  OBRA

‘’Diário dos Invisíveis’’ Allan Kardec e Espíritos diversos

Psicografado por Zilda Gama

EDITORA O PENSAMENTO 1913

(Reprodução parcial)

CAPÍTULO  ‘’O CORPO DE JESUS’’

ALLAN KARDEC

17 – VII – 1913

 (Trechos escolhidos das pgs 241 a 263, adaptando-os ao vernáculo atual)

PG 241

‘’Muitas controvérsias têm surgido, entre os que compulsam os Livros Sacros, a respeito do corpo com que se apresentou na arena terrestre o Nazareno para cumprir sua inolvidável missão espiritual.

Quis, por vezes, elucidar  essa questão  suscitada pela linguagem ambígua de alguns versículos  dos Evangelhos, mas não pude conseguir o meu intento porque, sempre, a dúvida pairou em minha mente, pois que as palavras atribuídas ao Rabi, ora aclaram  ora obscurecem os enunciados . Há neles negativas e afirmativas que se destroem mutuamente, deixando perplexo o leitor que deseja, em suas páginas, convencer-se com verdades incontestáveis

Esse assunto, de sumo interesse para os cristãos, por mim não foi descurado ‘post mortem’. Esclarecido por Mentores fúlgidos, cultores das verdades transcendentes, eis as conclusões a que cheguei:

Jesus – cujo nascimento foi previsto pelos profetas das eras pré-históricas, os primeiros os primeiros instrutores da Humanidade, os primeiros receptores das mensagens dos núncios  divinos –  quando baixou  à Terra, não era mais um ser materializado, sujeito às enfermidades, às contingências fisiológicas.

Há pouco disse que Deus não faz exceções, mas procede sempre com a mais inatacável  imparcialidade; em todos os seus atos transparece a mais lúcida justiça.

Eis o que sucedeu a Jesus, o que sucederá com todos os seres humano. Ele não era um espírito privilegiado, mas já possuía, quando baixou a este orbe, ‘méritos adquiridos’, faculdades físicas indescritíveis na linguagem terrena e, por isso, seu nascimento, sua existência, sua morte, não se assemelham aos de todos os homens.

Sua Mãe puríssima, alma de escol, ou grandemente evoluída, ou manancial de castidade e virtudes, concebeu-o de um modo diverso do das outras progenitoras, ao influxo e poder do Altíssimo, que teve por emissário um ‘Espírito Santo’  – isto é um Espírito lúcido, um dos que atingem a culminância da  Perfeição – para dar-lhe conhecimento da missão a que a destinava.

Pertencendo, pois, a uma hierarquia espiritual elevadíssima, tanto o seu mediador plástico (perispírito) quanto o seu envoltório tangível (corpo físico), não podem ser equiparados aos de todos os indivíduos, como a gaze de seda sutilíssima não se compara a mais áspera serapilheira (saco de estopa). Bem sabeis que, ao encarnar-se , é a nossa própria alma que manipula seu corpo material como a crisálida tece o casulo em que se encerra.

Jesus, pois, que necessitava  tornar-se visível, surgir na arena mundial como todos os seres humanos sem causar estupefação, ter uma infância e uma juventude para que pudesse  das cumprimento às determinações  Paternas, abrigou-se no seio impoluto de Maria e revestiu-se de uma clamide (manto) material tenuíssima, que,  ao impulso de sua potente volição, podia ser agregada ou desagregada facilmente, e eis como se patenteiam  os considerados milagres estupendos de sua existência – transfiguração, a passagem sobre as ondas do Genezareth  (in  Cap 9   Marcos vers. 3  -Cap 14  Mateus, 26). Se ele o quisesse, pelo apuro prodigioso de seu Espírito, poderia isolar  a dor física, não sofreria as torturas que lhe foram infligidas, mas não se prevaleceu dessa potência física – que a têm em elevado grau as Entidades superiores – porque desejava padecer ainda humanamente, afim de que seu sofrimento e sua resignação servissem de exemplo às turbas  contemporâneas e porvindouras , para compreenderem que, unicamente a dor, a humildade, as submissão aos desígnios do Alto podem libertas as almas de seus erros e de suas impurezas, aproximando-as ao Altíssimo.

Tornando ao primitivo assunto, ainda vos direi ainda relativamente ao corpo de Jesus: não era o envoltório do seu perispírito igual ao do homem planetário mas ao do sideral – que possui um organismo indefinível  nas linguagens terrestres – formado de tecidos sutilíssmos, e, no momento em que lhe aprouvesse poderia ficar intangível, idêntico ao dos habitantes astrais, – que Ele já o era, – desconhecido neste orbe, de uma contextura indescritível, de sensibilidade apuradíssima.

Sua concepção, seu nascimento, sua ressureição, sua transfiguração – em que manifestou sua luminosidade, em que seu espírito irradiou-se  através de sua tênue veste material,  como se os raios solares atravessassem um prisma de cristal, desfazendo-o em névoa invisível. –  provam a individualidade super-humana do Cristo. Dirão agora os que não pensam desse modo, discordando das idéais emitidas: – ‘Estás em desacordo com as asseverações que escreveste na Genese …’

Eu, então com a consciência tranquila, lhes direi:  nunca afirmei, categoricamente, o que expus sobre esse magno assunto. Apenas indaguei a verdade, estudando os ‘Evangelhos’  e a dúvida persistiu em minha mente a despeito da natureza do Rabi, não chegando a uma conclusão positiva. Busquei, pois,  extratúmulo a elucidação dos problemas que mais me preocuparam na última existência, e algumas soluções obtidas  irei patenteando lealmente, nestas mensagens psíquicas.

( NOTA DO BLOG : O PRÓXIMO PARÁGRAFO FOI REPRODUZIDO PELA REVISTA ‘’O REFORMADOR DA FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA EM 1949)

Afirmo, agora, baseado nas verdades transcendentes, que Jesus, o emissário divino, foi o ente mais evoluído, da mais alta estirpe sideral que já baixou à Terra, em cumprimento de uma incumbência direta do Pai Celestial, e, portanto, o que houve de anormalidade em sua existência não foi uma seleção parcial feita por Deus, mas uma justa homenagem que lhe era devida ao próprio mérito.

Nós, distanciados como estamos de sua perfectibilidade, não gozamos das mesmas regalias ou prerrogativas que lhe foram outorgadas, mas podemos adquiri-las, em séculos e milênios de dedicação, labor, esforço próprio, prática de todas as virtudes. Era, pois, Jesus, já naquela época – a do início do cristianismo – uma personalidade superior, que, para bem desempenhar sua missão planetária, teve de tecer suas vestes tangíveis, com as quais ofuscou o brilho de sua alma radiosa, constituída de eflúvios cósmicos, que se solidificaram, que se aderiram ao mediador plástico (perispírito), dando-lhe a aparência de materialidade, mas que podiam ser dissolvidos ao influxo de sua vontade.’’. 

Possuia, pois, um quintessenciado e apuradíssimo, porém podia sofrer humanamente o que chamamos ‘dor física’, em contato com o ambiente  e com o exterior que o envolvia. Era esse envoltório  tangível  e delicadíssimo  o receptor de todas as vibrações e impressões  exteriores; sem ele não teria  padecido senão moralmente.

Dirão alguns céticos:

– O Onipotente, pois, fez uma exceção às leis naturais com a vinda de Jesus à Terra. Criou uma natureza diversa da humanidade carnal …

A esses redarguirei:

– Se houve exceção esta  beneficiou ou prejudicou  a Humanidade ? Era Ele ou não, uma entidade superterrena que aqui corporizou como o fazem os seres astrais, em todos os mundos onde necessitam ir, para desempenhar uma tarefa espiritual de sumo alcance ? Não foi um bem inigualável que o Eterno proporcionou a todos entes humanos, enviando-lhes o seu fúlgido Emissário, para lhes ofertar o Código da Redenção de todas as almas –  os Evangelhos -e o seu exemplo fecundo e inesquecível ?

Se o Cristo  constituiu uma seleção às leis naturais, quanto ao seu nascimento, corpo tangível, etc, não fez o mesmo o Onipotente aos primitivos  indivíduos  que surgiram neste planeta  de um modo mais miraculoso que Ele ?

Não sabeis como foi povoado este mundo?

Emigraram almas apenas com seus corpos astrais para este orbe, revestidos da matéria cósmica existente no grande laboratório universal que jamais se extinguirá. Portanto, antes de Jesus já o Criador havia concedido à Humanidade uma faculdade que,  perante a ciência terrena, parece utopia, mas não o é para a Ciência sideral.

 É uma realidade conhecida pelos luminares  do Espaço, a aderência de elementos materiais no perispirito, tornando um ente intangível tão corporóreo quanto os que provêm dos casais. O organismo do Emissário Celeste era, porém, de uma perfectibilidade indescritível na dialética terrestre, desagregável ao influxo  de sua vontade poderosa, como a possuem todas as Entidades de elevada categoria, consagradas exclusivamente ao Bem e às mais sublimes causas.

II

Eu, que, amei e pesquisei as verdades cristãs, muitas vezes me preocupei com o problema, que parece insolúvel, do corpo do Rabi.

Após  frutíferas  investigações , cheguei a estas conclusões:

Jesus, para que pudesse desempenhar sua missão terrena, não devida surgir das nuvens nem das águas como no contos mitológicos ou fantasistas.

Precisava, pois, de um médium – isto é de um ente com o qual coadunasse sua natureza apuradíssima para que tornasse viável e tangível. Esse intermediário foi Maria, escolhida pelo próprio Criador, e, para que não ignorasse a excelsa incumbência que havia de desempenhar, foi cientificada por um Mensageiro de elevada hierarquia.  O Messias, pois, retirou os elementos que necessitava para adensar seu corpo astral dos eflúvios ódicos (divinos) d’aquele ser virtuoso e evoluído  bem como da matéria cósmica,  que existe em todos os recantos da Natureza .

Foi assim que Ele o ofuscou por alguns anos em uma clamide (manta)  preciosa, em um tecido indefinível nos idiomas deste planeta, o qual, às vezes, era vasado  pelo  fulgor do excelso Espírito que nele se enclausurou.

Assim como a eletricidade – imponderável, impalpável invisível – carece de um veículo para propagar suas poderosas correntes, o Cristo utilizou-se de um condutor – seu corpo solidificado – para transmitir às turbas seus pensamentos, para o tornar susceptível  do que se chama ‘sofrimento físico’, para ficar em contato com a humanidade e com o mundo exterior, enfim.

Era esse organismo, aparentemente, igual  ao de qualquer criatura encarnada, parecendo constituído de músculo e ossos, mas de fato não o era, pois elementos de que se compunha estavam de tal sorte  sujeitos ao influxo  espiritual de Jesus que seriam dissolvidos no instante em que Ele o quisesse.

Pode-se, pois, para os espíritos  superiores  estabelecer as duas seguintes leis metafísicas:

I – Possuem a faculdade de produzir voluntariamente, com os eflúvios ódicos todos os corpos.

II – Podem decompor com a potência psíquica o que lhes apraz.

Aplicando-se ambas a Jesus, que as executava com facilidade, estão elucidados todos os fenômenos que parecem incompreensíveis, dos seus chamados milagres.

 O corpo de Jesus, tanto antes como depois de encerrado no sepulcro – como foi verficado por um incrédulo São Tomé – era o mesmo, apresentando as chagas da crucificação.

A curiosidade e o seticismo de São Tomé, confirma hoje a verdade de que se compunha o seu corpo: tocar em suas chagas foi provar que Ele continuava a ser o mesmo visível e tangível para os incrédulos, materializando-se e desmaterializando-se ao influso de sua vontade potente, fenômeno esse em pleno domínio dos psiquiatras que já conseguiram  fotografar em idênticas condições espíritos, flores luvas de parafina, etc.

III

Há outro ponto obscuro relativo a Jesus que desejo esclarecer: para os que o consideram com um corpo perfeitamente material, o sofrimento físico indizível; para os que afirmam que era fluídico, a dor não o atingiu.

As potencias espirituais são intensas nos entes de elevada hierarquia, e, se estes reencarnarem, pode, pelo domínio da vontade, isolar os padecimentos orgânicos.

.Era , pois, dotado de uma sensibilidade apuradíssima que vibrava ao menor atrito à menor percussão exterior ,e, por isso, padeceu acerbamente tanto moralmente como as torturas que lhe infligiram  os seus algozes

Era mais sensível que todos os seres ate hoje aqui existente, e, por isso, as dores que suportou foram intensíssimas, porém  as morais  superaram todas as outras : a vergasta, a lança, os cravos menos o supliciaram do que a ingratidão, perfídia daqueles que Ele beneficiou.

Não era, pois, insensível à dor, ao inverso, possuia um organismo mais aprimorado  que o humano, cujos tecidos eram mais delicados, possuíam uma sensibilidade superlativa, quintessenciada, indefinível na linguagem terrena

Pg. 256

Eis irmãos investigadores das verdades transcendentes  a solução do problema que, há muito nos preocupava.

(Nota da médium ZILDA GAMA: materializando-se os espíritos podem padecer fisicamente. O sofrimento de Katie King foi intenso quando, anuindo ao rogo de W. Crookes, sujeitou-se materialmente, a receber uma projeção luminosa)

Pg. 263

Eis irmãos investigadores  das verdades siderais o que vos relato, baseado em informes insuspeitos. Possam as minhas palavras desvanecer dúvidas e pôr termo às dissenções  havidas entre os adeptos da doutrina vencedora  qu abebera nas páginas dos Evangelhos ! É o que vos posso asseverar, convicto  de que vos expus uma lúcida verdade, pela qual, em minhas últimas existências planetárias, sempre me bati com denodo.

Allan Kardec

 ‘’3 ESPÍRITOS DE LUZ REVELAM A NATUREZA DO CORPO DE JESUS’’ – TERCEIRO LIVRO